domingo, 6 de dezembro de 2009

Relendo tópicos das “emotions” divergentes

Sem embargos de outros entendimentos/compreensões sobre artes, notadamente Cinema, diria que a geração dos anos 60 cuidou mais das questões da leitura e da análise dos filmes então produzidos. Não que se tenha sido de uma época apenas glamorosa cinematograficamente, como dizem alguns, e até diferenciada no seu modo de ver intelectualmente, mas porque só tínhamos de concreto e objeto de análise da imagem em movimento o cinema; A Televisão constituía, até a chegada do VT (1960), apenas uma nova mídia publicitária, sem maiores preocupações com a Dramaturgia.

Faço este prólogo motivado por curiosidade de uma amiga do Paraná – sobre quem me reservo o direito de não mencionar o nome –, seguidora do nosso blog, que argumentava comigo sobre as questões da Linguagem no cinema e na televisão. Tema que abordei na semana passada (“Cinema e TV: diferenças entre representado e representação”), discutindo tais parâmetros através do uso dos discursos imagéticos em ambos os “media” – cinema e tv.

Sem querer descer a detalhes científicos sobre Linguagem, e revendo artigo que escrevi neste mesmo espaço, em junho de 2007 (“Cinema e Televisão: ‘emotions’ divergentes”) diria que: o telespectador, circunstancialmente, seria mais acomodado e menos atento aos detalhes lingüísticos da imagem que o espectador de cinema. A razão disso é simples e está na maneira como são assistidas essas imagens, tanto no cinema como pela tv.

No caso do cinema, a sala escura e a grande tela dão uma dimensão colossal e diferenciada à imagem. Esse mister consubstancia o que entendemos pelo imperativo: “no cinema”. Enquanto em versão televisiva, essa mesma imagem teria outra dimensão de leitura, qual seja: “pela tv”, que descompromete, de certo modo, o apreciador a um envolvimento maior com a imagem assistida, dando-lhe uma visão mais imediata do “fato” assistido.

Ora, as duas condições assistenciais (“no” e “pela”) impõem ao espectador ou ao telespectador, respectivamente, percepções diferenciadas não apenas em função do espacial dimensionamento da imagem – da “telona” ou da “telinha”. No primeiro instante, esse fato ocorre em razão da intensidade emocional e envolvimento, maior ou menor, que ambas as imagens representam e influenciam aos que as assistem.

Há certo preconismo de que o “mass media”, pela sua ampla penetração (aberta ou fechada) na Sociedade, possibilita o maior conhecimento de uma Arte. Discordo, em parte, dessa afirmação. Prefiro considerar que o Conhecimento Artístico, a rigor, implica numa série de outros “conhecimentos”, entre os quais o envolvimento pessoal de quem a assiste, seu interesse, gosto estético, origens da própria obra e de que forma ela foi concebida, enfim...

Pela sua própria natureza tecnológica, “friamente” descomprometida, de certa maneira, a televisão nos tem negado quase todas as qualidades necessárias ao pleno, real e verdadeiro entendimento da obra de arte. Até porque ela nunca foi Arte. Não que a tv não tenha o seu valor enquanto mídia, sobretudo informativa, indutiva, midiática, comercialmente falando persuasiva, contudo, falta-lhe “humanidade” na composição de suas imagens. Atributo este, que é próprio do verdadeiro cinema.

A questão básica e pertinente é: as telenovelas, os seriados feitos sob a “ótica” de uma produção cinematográfica e da dramaturgia desta, a rigor, o que realmente são: Televisão ou cinema? Somando-se esta à questão da interatividade televisiva, hoje amplamente preconizada, realmente, haverá de ser um novo “plot” da questão...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

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