sábado, 31 de julho de 2010

Um roteiro “coisa de cinema”






Recebi recentemente de minha Assistente de Produção e ex-aluna da faculdade, Joelma Cavalcanti, um livro que me fez lembrar as peregrinações que fiz com o amigo José Octávio de Arruda Mello pelos caminhos históricos de Rio Tinto e Mamanguape. Isso havia mais de dez anos. O livro em questão, “Mamanguape: Apogeu, Declínio e Ressurgimento” (Idéia 2009), do eminente desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque, tem tudo a ver com as pretensões de quem fareja sempre “coisas de cinema”.

Resgatando fatos da visita do Imperador Dom Pedro II à Paraíba, justamente para celebrar o sesquicentenário desse feito (1859-2009), o livro reporta sobre os tempos áureos do Município litorâneo, sua performance sobretudo comercial através da cana-de-açúcar, no século XIX, a posterior decadência e o que o autor registra como sendo de “ressurgimento”, espécie de fênix advinda do caos, transformando a região como uma das mais ricas da nossa História. Trajetória essa que nos aguça a uma verdadeira (e urgente) “construção” cinematográfica.

O parentesco de minha Assistente de Produção com o ilustre magistrado (Cavalcanti de Albuquerque) se nos remete a outro ícone da Cultura e da Educação, na Paraíba: Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque. Este, ex-Reitor da UFPB, a quem tive o prazer de assessorar na criação e publicação do Informe ABIPIT, quando da realização de minha pós-graduação na Universidade de Brasília, no período de 1992-1994. Sobrenomes que se impõem em significação, cujas raízes possivelmente só explicadas pelo nosso “heraldista” e professor Nivalson Miranda.

Além do relato preciso e sensível sobre sua terra natal, o autor de “Mamanguape...” nos presenteia também com uma iconografia rica de passado e de presente. Quiçá, motivo esse que nos levaria a uma reflexão da importância que seria um trabalho documental a respeito. Um registro com todos os carismas visuais possíveis, somente permitidos pela cinética da imagem produzida por “videomaker”. Mas, à guisa de informação, seria essa apenas uma pretensão de quem sempre visualiza as coisas sob a ótica do cinema...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um cinema feito de simbolismos








No final de semana que passou, depois de vários contatos e acertos, uma equipe composta de professores, alunos e técnicos da UFPB deslocou-se à região do Cariri, onde foram gravadas as primeiras cenas de mais um curta-metragem paraibano. Durante quatro dias, peregrinando por entre veredas espinhentas, reptis e muita pedra, o grupo se desdobrou para conseguir as melhores imagens, na busca do que será mais um trabalho de conotação não só acadêmica.

O olhar assustado, porém, interrogante de uma criança de ares brejeiros terá sido o ponto de largada para uma nova estória a ser contada brevemente através do nosso cinema. Sobre tal feito, diria o próprio autor, professor Nivalson Miranda, tratar-se de uma saga que simboliza não só um simples olhar infantil, mas, principalmente, o que esse olhar pode significar de reprovação e de denúncia ao medo e à submissão em que vive com os pais, sob o jugo ainda do coronelato.

A Cenografia do lugar, um sem fim povoado de algarobas, facheiros e rochas, ainda não refletia tanto, naquele momento de intenso labor, as preocupações do autor sobre o tema que pretende abordar, mas, já nos dava uma idéia ao que se propõe. Seus personagens, secos como o próprio lugar, jamais se apercebem da sua singular importância, porquanto a rotina lhes tira a verdadeira noção do perigo, sobretudo do tempo de suas existências.

Distante sete quilômetros do centro de Serra Branca, subindo e descendo rochas, a equipe conseguiu registrar personagens que se movem sorrateiras como os próprios reptis ali existentes, entreolhando-se numa comunicação muda inusitada. Em frente à velha casa de tijolo sem reboco, numa tarde como tantas outras, eles assuntam o tempo – Seu Biu, Donana e o filho Zeca. Este, que dá início à estória a ser brevemente contada pelo nosso cinema. Só resta agora esperar...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

sábado, 3 de julho de 2010

O Cinema perto de você








Não sem tempo se pensou que Cinema é Arte de massa e que dá dinheiro, também. Com uma produção de filmes crescendo a cada ano, estimada em nada menos que 100 longas, segundo dados da própria Ancine, nada mais justo que o acionamento de medidas de incentivo ao cinema, não apenas para a Produção, mas, necessariamente, ao escoamento de todo esse produto, que tem feito da arte-do-filme uma das mais importantes do País.

De havia muito reclamado pela população, e não só pelos amantes da arte, mas, por todo o empresariado brasileiro do setor de Exibição, o Ministério da Cultura resolveu acenar com a possibilidade de ampliação de Salas de Exibição Cinematográfica. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou recentemente a Medida Provisória 491/2010, que institui o CINEMA PERTO DE VOCÊ – Programa Integrado de Expansão do Parque Exibidor.

A primeira vantagem que vejo nessa medida é a possibilidade de o Cinema ir ao encontro da comunidade de bairros e periferias dos grandes centros, possibilitando, inclusive, a construção de salas em cidades do interior. O segundo ponto, igualmente importante, decorre da abertura/reabertura de salas – não em “shopping centers” – e, por conseguinte, a criação de mercado de trabalho para profissionais da área de exibição de filmes.

Durante a assinatura da MP, que contempla um novo rumo para o Mercado Exibidor do Cinema Brasileiro, solenemente, o Presidente Lula afirmou: “Não dá para esperar que as pessoas vão até o cinema. É o cinema que tem que ir até às pessoas. Temos que fazer cinema no local onde não tem, para que ele chegue à classe pobre e às periferias. Por isso este programa é apenas o primeiro passo: a solução do problema vai depender da criatividade do setor.”

O que se espera, na verdade, é que haja uma exclusividade, a partir de agora, para o filme nacional. E que este seja realmente visto pela maioria da população brasileira, em salas que possam mostrar a nossa real produção. Que se dê igual importância à reserva de mercado, este sufocado pelo produto estrangeiro, muitas vezes de má qualidade, principalmente veiculado pela televisão. Sinceramente, esse é o nosso maior gargalo: exclusividade do produto estrangeiro em detrimento do filme brasileiro. Valeu, seu Lula!

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br