domingo, 22 de novembro de 2009

Vegetalismo cenográfico: da natureza do próprio Cinema

A Natureza, com todos os seus elementos “cênicos”, sempre me foi simpática a um olhar cinematográfico. Talvez, por isso, sempre tenha tido inclinação por filmar (ou gravar) no campo. Trata-se de um impulso pessoal e muito natural, se examinado todo o meu trabalho, desde “Os Pescadores do Sanhauá”, “O Ciclo da Mandioca” e, sobretudo, “Arribação”..., no final dos anos sessenta.

Reforce-se a essa minha preferência os primeiros encantamentos que tive quando criança, que dava preferência aos “cow-boys” exibidos nos cinemas do meu pai. Mas, tais observações preferenciais vieram também de leituras de temas regionais, que me fizeram a cabeça logo cedo. A exemplo de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Câmara Cascudo, os nossos Zés Lins e Américo, o poeta Américo Falcão (das praias de Lucena) e tantos outros.

Razão essa que me fez fugir um pouco dos temas urbanos, deitando um “olhar cinematográfico” (até romântico, confesso) sobre o telurismo, o vegetalismo, cujo visual nos remete mais à Natureza; aos temas de raízes campesinas, como o Cangaço, por exemplo. E sempre defendi que o nosso Cinema se identifica mais com esse temário que com situações de polícia correndo atrás de bandido nos centros urbanos. Desculpem-me, mas é só uma questão de franqueza e opção...

Sobre isso, tenho buscado referências no campo comercial cinematográfico brasileiro, desde os desencantos da Vera Cruz, dos “carnavalescos” da Atlântida, do romantismo da Cinédia... sendo quase impossível encontrar uma boa sustentação para o nosso cinema fora o rural. Que me consta, e se não me engano, com raras exceções, os temas urbanos têm caído na mesmice, sobretudo os de “ação”, cuja pirotecnia visual remonta os artifícios da famigerada Hollywood.

A reflexão então colocada reforça-se com uma viagem que fizemos ao interior da Paraíba, neste final de semana, para as primeiras locações do curta-ficção que pretendemos rodar em fevereiro do próximo ano. Um dia todo em plena caatinga brava, dentro da vegetação ressequida pelo sol, fazendo as primeiras prospecções ambientais e cenográficas me remeteram aos áureos anos 60. Mas, aí é outra estória!...

ALEX SANTOS - da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Cinema e TV: diferenças entre representado e representação

Numa das aulas de Sonoplastia do curso de Comunicação Social da UFPB, um dos meus alunos mostrou-se curioso em saber sobre as diferenças de linguagens entre o cinema e a televisão. Fez-me uma série de indagações, justamente com base em leituras sobre algumas posições que sempre defendi e que fazem parte do nosso livro “Cinema e Televisão – Uma relação antropofágica” (A União/2002).

Disse-lhe, então: A televisão, ao contrário do cinema, funciona na contramão do seguinte entendimento: Subordinando o representado à representação. E expliquei: Em sendo mediática, próprio da sua natureza, a tv muitas vezes contenta-se com um tipo de imagem “improvisada”, de momento, já que a realidade (sua “matéria-prima”) segue seu curso normal e não espera. Não menos porque o tempo televisivo, que está sempre prisioneiro do tempo real, impõe ao próprio veículo as férreas leis de um tempo sempre presente, verdadeiramente instantâneo, o que é uma característica da mídia eletrônica.

Numa compreensão cinematográfica, sobretudo no estudo da sua gramática, existe uma máxima de que “o Cinema subordina o Representado (realidade/fato) à Representação (imagem construída)”. Fica claro este entendimento, quando percebemos a complexidade da narração fílmica, em colocar novos parâmetros psicológicos de leitura e de compreensão aos fatos já ocorridos, dando-lhes uma feição de Arte. Quando muito, a televisão poderia modificar o tempo expressivo e psicológico, porém com mais dificuldade que o cinema. Daí a razão pela qual não se deve entender televisão como arte.


Um outro dado configuraria melhor a originalidade temporal televisiva: o sistema imediato das transmissões abertas e diretas, consubstanciando hoje bem esse mister, fazendo do tempo real a base de todo o raciocínio aqui defendido. A linguagem empregada pela tv, sempre, houve de ser a de um programa em “real time”, embora gravado de forma e intenção muitas vezes meramente “cinematográfica”. Veja-se o caso das Telenovelas, dos Seriados...


O Telecine é um bom exemplo, com sua linguagem própria, televisiva, ou ainda com o tempo de um filme feito para cinema; com linguagem também específica, mas para ser apresentado na mídia eletrônica, como os Seriados, por exemplo. Na realidade, seriam dois tempos diferentes: o tempo real, usado pela tv e para ela mesma, e um outro tempo, o “não-real”, representativo (cinematográfico), mas para ser igualmente usado e adaptado aos interesses da “telinha”.


Existiriam outras classificações para o real entendimento desse problema. Mas, a rigor, acreditamos ser a “relação temporal” entre a ação e sua possível transmissão, através de programa aberto e direto, a que se adequaria mais exatamente à linguagem televisiva. Razão que nos leva não mais creditar bônus e credenciais ao Documentário como Cinema, porque este deve ser entretenimento e não apenas um registro de imagens informativas da nossa “realidade”, característica daquele, simplesmente.


O acompanhamento de um fato social pela reportagem de televisão, gravado (e não filmado) enquanto ele acontece – “ao vivo” –, uma partida de futebol transmitida no instante em que se joga, por exemplo, seriam ações relevantes dentro desta nossa discussão, porquanto são consideradas “ações reais”, temporais; jamais de natureza ficcional, esta, que é própria do cinema.


ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema, Professor e Cineasta.
E-mails: alexjpb@yhaoo.com.br / contato@asprod.com.br