sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Imagem veio primeiro, depois o Som e a pirotecnia

O diretor sueco Ingmar Bergman primava pela imagem
Em sala de aula, na UFPB, um aluno me fez a seguinte indagação: “Professor, já vi grande parte de seus filmes. Inclusive, o mais recente, “Antomarchi”. Uma coisa que eu tenho observado é a quase inexistência de falas dos personagens. Isso é proposital?”
Respondi, então, historiando os fatos. Mesmo antes de o Cinema aprender a “falar”, já houve quem condenasse o som como um recurso de leitura cinematográfica. Para os mais radicais da arte em celuloide, à época dos anos dez/vinte do século passado, o cinema foi criado para valorizar mais a imagem. Simplesmente a imagem, e só a esta. Sobre esse aspecto, tenho lá minhas convicções não tão radicais, mas, sempre tenho estimado mais pela imagem. Jamais fui contra, por exemplo, aos “falatórios cênicos” do teatro ou dos filmes de Wood Allen... Acredito, sim, na força de uma imagem bem construída. Não como óbice à inteligência do espectador, mas como instrumento de reflexão e de entendimento ao que é exposto pelo discurso cinematográfico.
Com relação aos primórdios da Sétima Arte, o embargo terá sido grande, em relação ao som, fazendo com que algumas Companhias de Cinema temessem a iminente estreia do filme sonoro, que só chegaria com “O Cantor de Jazz”, em 1927.
Não sem razão que Chaplin terá sido um desses contestadores da época, o que fica bem caracterizado em uma de suas obras, “Luzes da Cidade”. Logo na abertura do filme o vagabundo Carlitos dorme nos braços de uma estátua localizada numa praça pública, encoberta por amplo pano branco, que deverá ser inaugurada no dia seguinte. O som discursivo da autoridade durante o evento é algo deveras grotesco: apenas um cacarejar ridículo de palavras, sob a pantomima do genial Carlitos. Desse modo, Chaplin expressava o seu agravo ao novo “cinema falado”, sendo futuramente por ele vencido...
Esta semana, lendo novamente sobre ele deparei-me com uma expressão do grande cineasta, em que afirma em bons decibéis: “O som aniquila a beleza da Imagem!”. Diante disso, pude ratificar alguns posicionamentos teóricos, que venho defendendo havia muito. Um deles, o que diz respeito à importância de um belo discurso cinematográfico, sem excessos de “palavrórios” e rebuscamentos de linguagem. Na maioria das vezes atropeladores da imagem, minimizando sua real significação e importância como instrumento maior, que foi e será sempre, na narrativa.
O “diálogo mudo” entre personagens, em discurso cinematográfico a ser bem construído, terá sido um recurso de construção narrativa dos mais significantes à compreensão do espectador. Ele possibilita a este interagir na cena, também, criando significados próprios enquanto partícipe do momento do filme, a partir do “diálogo silencioso” dos personagens. E isto está presente, sempre, em filmes da categoria de “Os Brutos Também Amam” (considerado o primeiro “western psicológico”), “Matar ou Morrer”, outro clássico, “Doutor Jivago”, nas obras de Bergman e tantos outros.
Não que se tenha a pretensão de sermos iguais a todos esses gênios do cinema; mas, imitá-los naquilo que o bom cineasta tem de melhor...
Em verdade, hoje mais do que antes, a pirotecnia do som e da imagem advinda com sua digitalização, já não nos permite uma reflexão virtual e interativa com as imagens projetadas. Veja-se, por exemplo, os suspenses de Hitchcock. A utilização de timbres exagerados na maioria dos filmes do gênero (não hitchcockianos) tirou a expectativa real do verdadeiro suspense. Esse, ao meu entender, o grande óbice em detrimento de um cinema visualmente significante, mágico e envolvente. Não entendo, ainda assim, a inoperância do som no cinema, como entendia o genial Chaplin, mas que esse som jamais deva
sobrepujar a imagem.
Resuma-se, assim, a questão toda no que afirmou Fellini: “Cinema é luz!”. E luz... é imagem!
 
ALEX SANTOS é Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor da UFPB e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A arte da ilusão pelas imagens

 "Hugo Cabret" de Scorcese: um grande momento do cinema.

O grande mistério do Cinema está nele mesmo; na sua magia, que nos transporta!
Esta é uma afirmação que trago comigo, desde que mundo é mundo e o cinema fez-se importante em minha/nossas vidas. Digo “nossas”, no sentido amplo, generalizado, envolvendo os quantos têm se debruçado nas “coisas” dessa Arte, que tem encantado os cinemeiros nas diversas parte do nosso Universo.
Diante de tais premissas, houve de existir, sempre, indagações: As imagens que são projetadas numa tela branca significam, apenas, uma quimera? Em grande maioria, não são a “representação” de uma realidade vivida pela Sociedade no seu dia-a-dia? Realidade que, convenhamos, de quando em vez é muito mais contundente e real que a mostrada pelo próprio cinema?
Um parágrafo inteirinho de questionamentos, quiçá, não seja suficiente na busca de uma resposta à definição do que mais simbólico e encantador deva ser a Arte-do-filme. Uma Arte singular, completa, com letra maiúscula, que traduz de forma direta através de seu discurso facetas do intimismo e/ou da extroversão dos quantos personagens aborda.
A fotografia em movimento, um dos grandes feitos do final do Século XIX, terá sido o primeiro passo para a evolução da construção da imagem que hoje experimentamos no cinema e em outras mídias audiovisuais. Novidade que se alastrou pelo business world e redes de cinema dos diversos países, inclusive o Brasil.
Por meio de uma remota velocidade em 16q/s (quadros por segundo), ou, no padrão sonoro atual de 24 q/s, ou, ainda, digitalmente em frames, não importa sua complexidade estrutural narrativa, o cinema continua o mesmo - O veiculador, através do “folhetim”, de uma mensagem esperançosa a “alimentar” o sonho. “Movie”, no começo apenas imagético, hoje, adornado de todos os aparatos audiovisuais e tecnológicos possíveis, mas que se destina ao amplo entretenimento de massas, enquanto função social reconhecidamente importante.
Verdade é que as produções têm se voltado para a verdadeira finalidade da Sétima Arte, que é a da diversão. E isso só é possível, se nos parece, com uso da Dramaturgia, que nos dá amplas condições de criar, envolvendo formas e nuanças de representação de vida, de coisas, a partir do uso das novas tecnologias audiovisuais. Mas, na sua essência, a Arte do Cinema continua a mesma: humanizar, através de suas imagens, os sentimentos vários. 
         A partir do momento em que se pretenda desmistificar o seu cerne, o seu âmago, a sua essência enquanto “Arte do belo”, pouco ou quase nada restará de sua magia, do seu real encantamento.
 
ALEX SANTOS é Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A dualidade em “O Iluminado”

Jack Nicholson em O Iluminado
 
Peço vênia aos quantos nos tem prestigiado com sua leitura, para ceder o espaço a uma das nossas mais brilhantes graduandas em Jornalismo, do Curso de Comunicação Social da UFPB, Secyliana Braz (secybraz@hotmail.com). Em seu trabalho final de 70 período ela faz Análise Interpretativa de “O Iluminado”, importante obra de Stanley Kubrick. 
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     “O ILUMINADO” foi um filme produzido há mais de 30 anos, onde o conceito de terror e efeitos especiais se adequavam a necessidade da época. Entretanto, assistindo hoje, detectamos que os efeitos de susto, medo e terror planejados por Stanley Kubrick (“2001 Uma Odisseia no Espaço”) não se fazem tão eficientes. Logo que, com o advento de novos estilos de se fazer medo, os espectadores, hoje, necessitam muito mais do que fisionomias assustadoras, ambientes escuros, machados e criancinhas estranhas.
     Apesar desta distinção entre conceitos de terror da década de 80 e da atualidade, Kubrick conseguiu propiciar em certas cenas o verdadeiro tom sombrio de um filme de suspense e horror, tom este que perpassa décadas. Claro que, o elenco, os cenários, os figurinos, a trilha sonora, as falas das personagens e fisionomias dos atores contribuíram para a transmissão da realidade narrada ao espectador.
     “O Iluminado” não é um filme feito para que o espectador espere sustos explícitos. Na verdade, isto não é tão necessário na produção de Kubrick, tendo em vista ser uma produção feita para deixar o espectador perturbado, confuso, a mercê do horror, de uma história macabra e de significados ocultos. Neste aspecto, Kubrick, proporciona ao espectador a possibilidade de interpretar e ter uma conclusão própria da narrativa, o filme não transmite a nós a sua real intenção. No desenrolar do filme é possível que o espectador tenha suas próprias teorias e dúvidas sobre os personagens.
      A história do filme perpassa entre o desconhecido, o sobrenatural e o psicológico. Em certas cenas paira a dúvida entre o que é real ou fantasia das mentes perturbadas dos personagens. A patologia mental de Jack e Dany coexiste com a possibilidade de haver influências do sobrenatural na figura dos personagens fantasmagóricos. Ora o espectador pensa que o isolamento e a solidão da família provocaram nos personagens distúrbios psicológicos duais ora a impressão é que existe um processo de reencarnação ou até possessão.
     O fato é que, o filme apesar da duplicidade ou multiplicidade de significados e interpretações consegue introduzir e passar a sua principal e evidente ideia de que há uma dualidade entre o bem e o mal em todos nós, assim como nos personagens. E que é possível absorvermos a ideia de que, alguém que nos ama e nos quer bem, de repente pode passar a nos atormentar e perseguir.  Esse viés faz parte da construção do filme a fim de fazermo-nos sentir mal e perturbados.
     Se a missão de Kubrick é tentar dividir em dois lados a mente dos espectadores e incitar a inquietação e perturbação, então, ele conseguiu fazer isso muito bem através de “O iluminado”. Conseguiu de tal forma que apesar de tanto tempo passado desde o lançamento do filme, a obra ainda penetra de forma assustadora na mente dos espectadores. Embora, em algumas cenas o filme transite entre o horror e a comédia, típica referência ao gênero tragicômico, bem considerado em algumas feições ao mesmo tempo cômicas e horripilantes do ator Jack Nicholson. Ainda assim, “O iluminado” foi, é e sempre será uma obra-prima do horror.
 
ALEX SANTOS, Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cinema é prax e não só filosofia

Oficineiros que ganharam experiência cinematográfica em Areia.
Pelo que foi publicado recentemente no nosso conceituado e influente Correio das Artes, sobre a mais recente edição do Festival de Arte de Areia, vimos com certa frustração a carência gritante de relatos mais objetivos, especialmente com relação ao audiovisual. Afirmações filosóficas de que, “o desenvolvimento do cinema passa pelos cineclubes” são redundantes e só não bastam. Assertivas assim já fazem parte do nosso vocabulário ao cinema paraibano, de havia muito. As imigrações, essas que venham para somar. O cinema necessita de práticas; não só de filosofias.
Com ênfase, atribui-se o bastante sucesso do evento à presença da mulher, cuja homenagem em muito se fez justa, porém injusta, quando se refere em estrutura de programação, em face do que fora adotado nos primeiros festivais. Uma simples mostra de Cinema Paraibano, se nos parece um desdém e um apelo meio trágico ao não total esquecimento sobre o que se vem produzindo atualmente no Estado.
Nos primeiros festivais de Areia a nossa preocupação era a de perpetuar o incentivo da “prax” cinematográfica, através de concretas Oficinas de Realização. À época, com todos os percalços de produção (câmeras e suportes fílmicos de 16mm e Super 8). Hoje, com as facilidades do digital, essa prática deveria ser ainda mais exercida...
Pelo que vem de ser agora publicado e antecipadamente criticado, inclusive por assessores da própria organização, esse festival de Areia careceu de um maior espaço à produção de um cinema paraibano, que, mesmo perdendo aos poucos sua forma áurea em celuloide, ainda continua pujante. Sobretudo, na criação e no trabalho dos quantos tiveram como escola as oficinas do fazer cinematográfico, quando dos remotos festivais na cidade de Areia.
Não são poucos os que hoje barganham os espaços e as benesses dos editais de fomento à produção audiovisual, e que foram forjados do metal valioso do artesanato do fazer, sobretudo técnico, e das experiências dos já consagrados pelo nosso cinema e de fora da Paraíba.
Em respeito à sua tradição, o Festival de Arte de Areia só não basta ser apenas um “É... Vento!” Isso contradiz à frase atribuída ao próprio Secretário de Cultura, quando afirma: “... festival de arte não pode se resumir a meras apresentações artísticas, tem que mudar as pessoas.”    
A razão de tudo é que, nem sempre aquilo que se cogita fazer resulta plenamente satisfatório. Seja através de proposta bem intencionada ou de forma demagogicamente alardeada. E isso tem se verificado, em a miúdo, inclusive, no plano da Cultura. Mais “coisas de cinema” no site: www.alexsantos.com.br
 
ALEX SANTOS é Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

“Vale Cinema” agora é pra valer?


 
Só não bastam exibições improvisadas
 
         O Governo Federal acaba de publicar Decreto com base na Lei 12.761 de setembro de 2012, que cria o Vale Cultura instituído pelo Programa de Cultura do Trabalhador. O Decreto de número 8.084 de 26 de agosto passado vai contribuir, inclusive, para a difusão do cinema e os demais segmentos culturais em todo o País, conforme prevê fontes do governo.
         O trabalhador com carteira assinada que ganha até cinco salários mínimos receberá um cartão com valor mensal de 50 reais, que deve ser utilizado em ingressos de cinema, teatro, shows, ou na compra de DVDs, livros, CDs e no consumo de outros bens culturais. O benefício será cumulativo, podendo o usuário guardar créditos em um mês para o uso no mês seguinte.
          Segundo o decreto, o custo do benefício será solidário. Podem aderir ao vale-cultura apenas as empresas de lucro real.  Elas podem destinar ao vale até 1% do Imposto de Renda devido. A isenção fiscal financia 45 reais do benefício, e os 5 reais restantes ficam a cargo do trabalhador ou da empresa devidamente cadastrada no programa.
          A instrução normativa a regular todo o funcionamento do vale-cultura já está sendo elaborada pelo o Ministério da Cultura e deve ser publicada no início deste mês. Empresas aptas em operar o vale devem se credenciar e são elas que vão distribuir os cartões com os seus empregados. Cerca de mais de 40 milhões de brasileiros podem vir a ser beneficiados, segundo previsão do governo, representando valores de aproximadamente R$ 25 bilhões na cadeia produtiva da Cultura. Está previsto também que, boa parte dessa receita deve ser absorvida pelo segmento audiovisual.
          Diante dessa realidade meramente institucional, a pergunta que não quer calar: Qual dos segmentos culturais será o mais beneficiado, quando se entende que o “vale cinema” a ser usado pelo trabalhador dos pequenos centros, ainda não dispõem de salas de cinema?
          Essa realidade se contrapõe às boas ações de governo, que parece querer resolver com um simples decreto uma questão muito grave, de havia muito existente, que é a da falta de salas de cinema nos bairros e cidades com população inferior a duzentos mil habitantes.
          No nosso entendimento, o cinema propriamente dito não deve ser beneficiado por esse decreto, mas a indústria videográfica e a pirataria digital dos DVDs e CDs, cujos suportes também já dão sinais de completa decadência.



ALEX SANTOS é jornalista e vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Em “A Ninhada”, o gesto ecológico

Professor Nivalson Miranda

Eu o conheci no mesão da Sala de Leituras da Adufpb, no Centro de Vivência da UFPB, nas costumeiras visitas matinais àquele ambiente de professores, antes ou depois de cada sala de aula. De hábito, um cumprimento de Bom dia! Primeiro, para a nossa abnegada Maria da Guia, sempre vigilante ao telefone e à portaria, não menos, a quem entra e sai no recinto. Em seguida, a mesma saudação aos quantos se encontram absortos na leitura de jornais e revistas, no interior da ampla sala de reuniões.
Ainda sem conhece-lo bem, via-o sempre mexendo em alfarrábios, rabiscos e desenhos, que sempre conduzia dentro de uma pasta presa com elástico. De outras vezes, confabulando com o também professor aposentado José Nilton, com quem sempre tive relações de trabalho acadêmico e na produção de cinema e vídeo.
Numa dessas vezes, fui apresentado a ele pelo amigo Nilton, que me dissera do interesse do seu velho companheiro, em registrar um trabalho de brasões genealógicos e outras estórias em filme. Desse contato, surgiu o meu prazer em conhece-lo. Expansivo, bem humorado, sempre com um “causo” novo para contar, aquele ex-professor de Física abordou-me como se já fôssemos íntimos havia anos. Gostei daquilo! Tempos depois, confidenciei a Nilton a minha simpatia pelo amigo que acabara de conhecer.
Com um entusiasmo quase ingênuo, o novo amigo passou-me às mãos algumas folhas de papel datilografado, dizendo ser o roteiro para um documentário que gostaria de realizar. Curioso fiquei com a construção daquele emaranhado de vocábulos e citações, que ele dizia ser um “roteiro”. Mas, tudo bem, já que se tratava de proposta interessante e em defesa da Ecologia, que o então abismado professor intitulara de “A Ninhada”.
A estória traçava o perfil de uma família pobre, com um garoto de pouco mais de dez anos, que residia na propriedade de um rico senhor de terras, numa região seca do cariri paraibano. Por ordem do patrão, o pai do menino, “Seu” Biu, fora orientado a tocar fogo na capoeira para o plantio de macaxeira e feijão. A questão era que, para fazê-lo, aos olhos do filho, toda a flora e fauna teria que ser devastada, para desespero da criança, que costumava subir nas árvores, brincar com os passarinhos e animais rastejantes que habitavam próximo à sua casa. Para o professor, na sua eloquente explanação, essa era a preocupante questão a ser tratada em “A Ninhada”. A reprovação, silenciosa, do filho ao que o pai teria de fazer no dia seguinte, queimando toda a extensão verde em derredor da casa em que moravam.
Disse-lhe, então: – Professor, vou estudar com bastante cuidado o assunto e nos falamos já na próxima semana.
Para o professor NIVALSON, autor daquela saga a ser documentada, o meu interesse pelo seu “roteiro” fora sintomático. Dissera ele ao professor Nilton, que tinha assistido às nossas conversas, quando retirei-me da sala da Adufpb.
Ato contínuo, viajamos em equipe para Serra Branca, cariri paraibano, onde criamos as locações adequadas para as gravações do vídeo. Resultado, de simples documentário terá sido “A Ninhada” um misto de ficcional e documental, com duração de doze minutos e ganhador do Prêmio de Melhor Curta-Metragem do V FestCine Digital do Semiárido, em 2012, para a direção de Alexandre Menezes, da AS Produções Cinema & Vídeo.
Esta semana, através da própria Adufpb, tivemos a lastimável notícia do passamento do nosso querido professor e amigo. Perde a Cultura, a Arte, a Heráldica, sobretudo, a família do ditoso professor NIVALSON MIRANDA, a sua permanente alegria e sua notória presença de espírito, especialmente nos debates que sempre promovia. Perde-se um homem para quem a própria idade avançada jamais significou um óbice à construção de algo sempre novo.

ALEX SANTOS - Professor e cineasta, Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br 

domingo, 18 de agosto de 2013

Festival gelado, com pouco calor do Nordeste

 "Tatuagem" de Hilton Lacerda (foto) Melhor Filme

Terminou nesse sábado (17), embaixo de chuva e ameaças de neve, a quadragésima primeira edição do Festival de Cinema Brasileiro e Latino da Cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Não terá sido surpresa alguma o fato da quase inexistência de produções do Nordeste no festival. Salvo, de um único longa, “Tatuagem” de Hilton Lacerda, do vizinho Estado de Pernambuco. Mais uma vez a história se repete, quando produções selecionadas são mais do eixo Rio-São Paulo, onde os recursos “globalizados” existem mais gordos.
Afora esse aspecto, e da justa e bem intencionada Mostra Gaúcha deste ano, sempre coube ao Festival de Gramado um glamour todo especial. Glamour somente sentido por quem esteve participando alguma vez do importante certame. O Festival de Cinema é uma realização do Ministério da Cultura e da Prefeitura de Gramado, através de sua Secretaria de Estado da Cultura.
Quando lá estive, testemunhei a euforia e o apreço de toda cidade para com o seu mais importante acontecimento cinematográfico. Expectativa somente vista com a proximidade e os preparativos ao também cultural e glamoroso “Natal Luz”. Especial festa, que tem levado todos anos um considerável inúmero turistas às serras gaúchas.
No caso específico do Festival de Gramado deste ano, importantes homenagens foram prestadas. A começar pela coletiva que celebrou os 30 anos do filme de Hermano Penna "Sargento Getúlio". O ato contou inclusive com a presença do ator Lima Duarte, que fez questão de lembrar sua premiação trinta anos atrás, pelo filme no mesmo festival. O diretor também lembrou que nem tudo foi positivo na sua realização, lamentando os cinco anos que a Embrafilme, à época, se recusou a comprar a ideia do longa para sua distribuição.
Este foi, igualmente, o ponto da grande questão colocada este ano nos encontros e debates do festival. Como sempre, os reclamos não são poucos, quando se tratam de políticas públicas para a produção de filmes no país. De uma coisa temos certeza, mais ainda nos dias de hoje: Fazer Cinema não é, apenas, “brincar de vídeo”. Importante o que se tem feito sob a égide do aprendizado, contudo, ainda é muito pouco para um cinema que sempre careceu de uma, sequer, mínima indústria. E essa já provou que é rentável, inclusive em países onde o nível de vida, como é sabido, deixa muito a desejar. Como a Índia, por exemplo.
Cinema, no seu sentido clássico, maior, é continuidade... O que é do nosso empresariado brasileiro? Pouco ou quase nada eles têm contribuído, principalmente no Nordeste. Da parte dos governos existem esbanjamentos (id est) localizados na contribuição de uma simples experiência videográfica, através de programas e bônus institucionais a se perder no tempo.  
Existem as instituições de classe, mas pouco ou quase nada elas conseguem fazer. A Associação Brasileira de Documentaristas, que foi igualmente lembrada durante o evento de Gramado teve do presidente Jaime Lerner o destaque, no sentido e importância das entidades de cinema, afirmando: "Esse reconhecimento vem em um momento de profundas mudanças e transições na tecnologia e na política cinematográfica. Seria muito bom se o governo se desse conta de tudo. Enquanto isso ainda não acontece elas vão continuar necessárias, sim!".

Quiçá, seja esse o grave problema da produção cinematográfica brasileira, o do discurso do conformismo. O mais grave é constatar que, nessa orbe cinematográfica nordestina de ser, a questão da produção em cinema é ancestral, corriqueira. Não por falta de capacidade, mas de competência empresarial mesmo.

ALEX SANTOS é Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yaoo.com.vr / contato@asprod.com.br  

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Porque hoje é Dia dos Pais

 
"Seu" Severino do Cinema

Um atentado a bomba do IRA, em 1974, mata cinco pessoas numa localidade próximo de Londres. Um jovem rebelde irlandês e três amigos são acusados, presos e condenados pelo crime. O pai de um dos jovens tenta ajudar o filho e também é preso e condenado. Este é o tema do filme “Em Nome do Pai”, dirigido por Jim Sheridan e baseado na  autobiografia do próprio autor e personagem, o irlandês Gerry Conlon, que é interpretado por Daniel Day-Lewis, o mesmo que protagonizou “Lincoln” de Steven Spielberg.
Esta semana, revendo o filme de Sheridan, que trata com bastante acuidade e zelo da relação pai e filho, notadamente, quando se encontram presos na mesma cela, fiquei a imaginar como é importante uma paternidade conselheira e presente em nossas vidas. Uma relação de respeito e diálogo, ao buscarmos certas verdades e soluções para as questões do nosso próprio quotidiano.
À guisa de tais preocupações, sobretudo, em razão do que fomos e do que hoje somos, particularmente diria que, em respeito ao seu legado espiritual e familiar por mim assimilado e imitado – e não apenas cinematográfico –, rendo neste Dia dos Pais a minha irrestrita homenagem àquele que, durante anos soube exercer, pela arte-do filme, o encantamento através das imagens que projetou em écran luminoso e alimentando as nossas fantasias.
“Seu” Severino do Cinema, como era sobejamente conhecido na Cidade de Santa Rita e nos círculos profissionais da Cinematografia, dentro e fora do Estado, arresta hoje o Selo Patronal da Perpetuidade e do justo reconhecimento, em sua Academia. Selo igualmente estendido aos quantos que, como ele, fizeram do cinema a marca registrada, a saga venturosa de suas vidas em solo paraibano.
Pioneiro do “cinema mudo”, considerado também um estoico arquiteto e construtor de suas próprias salas de projeção, na cidade em que viveu e morreu, “seu” Severino do Cinema será nome sempre lembrado. Que os écrans luminosos dos nossos ruidosos projetores do passado, que tanto contribuíram na edificação das memórias e fantasias, que ainda hoje desfrutamos, continuem sempre a projetar as imagens de uma aventura virtual e mágica, e que doravante se imortalizem na guarda da nossa tão querida Academia Paraibana de Cinema.

Patrono da Cadeira 05, cuja indicação vem de ser o reconhecimento por toda uma vida dedicada à atividade cinematográfica, SEVERINO ALEXANDRE DOS SANTOS representa um dos pioneiros da Sétima Arte, na Paraíba. Seu empenho e estoicismo, desde os tempos em que o cinema ainda não tinha aprendido a “falar”, soube acalantar a fantasia e o devaneio de muitas gerações de cinemeiros. Hoje, duplamente imortalizado, principalmente para mim, seu filho, que já o tinha na condição de IMORTAL havia muito. Descanse em paz, meu Pai!

ALEX SANTOS é vice-presidente da Academia Paraibana, professor e cineasta, E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br  

terça-feira, 30 de julho de 2013

UFPB recebe proposta da Academia de Cinema

 
Diretoria da APC é recebida pela Reitora da UFPB 
Academia Paraibana de Cinema, observadas as suas reais e atuais condições de direito e de fato, dentre todas as instituições hoje diretamente envolvidas com a arte cinematográfica, é a que tem condições ideais para comandar o processo de criação e implantação de um memorial de cinema na Paraíba.  
Esta foi a justificativa que a presidência da APC apresentou, através de proposta formal, quando de recente visita que fez ao gabinete da atual reitora da Universidade Federal da Paraíba, professora Margareth Diniz.
O documento esclarece também que, de forma democrática e pluralizante às diversas tendências e atividades dos setores audiovisuais na Paraíba, a Academia de Cinema tem demonstrado significativa competência e capacidade no planejamento e operacionalização das iniciativas fundamentais para a preservação, difusão e produção de cinema no Estado. Que congrega cinquenta nomes conhecidos e representativos da cultura cinematográfica do nosso cinema, nos mais diversos segmentos da produção, exibição, difusão e crítica. E que foi fundada com essa finalidade, na cidade de João Pessoa, em 12 de novembro de 2008, sendo uma entidade sem fins lucrativos, devidamente registrada nos órgãos superiores, tendo como foco principal as ações em Arte e Cultura, no segmento Audiovisual.
A proposta de implantação do memorial de cinema apresentada vem embasada na premissa de que, a Academia reúne os mais diversos profissionais da área, não se limitando à preservação do acervo e da memória cinematográfica. Mas, servirá de polo irradiador de conhecimento e reflexão, valorizando ainda mais a rica História do Cinema Paraibano e dos que dele fizeram e ainda fazem parte. E aponta uma série de vantagens ao aprendizado em Cinema, inclusive para a própria UFPB, que já dispõe de um curso em nível superior nessa área.
O Memorial do Cinema teria como objetivo também, resgatar, recuperar, estudar e difundir os acervos ora existentes (filmes, roteiros, argumentos, cartazes, fotos, livros, periódicos e outros documentos), inclusive o registro de eventos, que envolvam a atividade cinematográfica na Paraíba. E que poderia ser localizado no novo prédio em construção, ao lado da reitoria, onde deverá ser o Centro de Cultura e Artes da UFPB.   
Com a participação de quase toda a diretoria da APC, o encontro na UFPB serviu também para que o presidente da entidade, jornalista e historiador Wills Leal fizesse um relato completo sobre a respeitável condição adquirida, havia anos, pelo nosso cinema no cenário cultural brasileiro. Histórico sobre o qual a reitora Margareth Diniz mostrou-se sensibilizada, declarando-se simpatizante da causa do Memorial do Cinema. 

ALEX SANTOS é jornalista, cineasta e professor da UFPB, vice-presidente da APC.
E-mails: alexjpb@yahoo.com / contato@asprod.com.br  

terça-feira, 2 de julho de 2013

ANCO Márcio: Uma “arribação” a desfalcar também o cinema

Cena de "Arribação" de Alex Santos, com Anco Márcio e Luiza Lacet
Eu o conheci no palco do Teatro Santa Roza. Ele encenava o eloquente monólogo “O Diário de um Louco”, de Nicolai Gogol. Sua mise en scène me  impressionou, justamente quando buscava alguém para representar um sertanejo fugindo da seca com a família, em “Arribação”. Um de meus primeiros filmes, justamente no final dos anos sessenta. Nessa época, já afiliado à Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba (ACCP), sob o comando do amigo Barretinho, eu integrava o cast da Rádio Correio, recém inaugurada no Ponto de Cem Reis. Fazia locução e apresentava os programas Curta-Metragem, diário, e Cine-Projeção, este aos domingos.
Disse-lhe: – Anco Márcio, gostaria que interpretasse este personagem. Aí mostrei-lhe o script, dizendo que a resposta poderia ser dada depois. De início Anco relutou um pouco, alegando que tinha sido recentemente rejeitado pelo George Jonas, para interpretar no cinema personagem em “A Compadecida” (1969), sob alegação do diretor de que ele não tinha perfil de sertanejo.
Mas, algo me dizia que Anco aceitaria agora o personagem, porque meu olhar não me confirmava o que o produtor boliviano naturalizado brasileiro dissera, taxando-o de “tipo urbano” e impróprio para o papel criado pelo autor Ariano  Suassuna.
Dito e feito! Ninguém terá conseguido postura melhor nas cenas de “Arribação” que aquele versátil ator paraibano... A rigor, nunca se tinha visto casamento mais perfeito de flagelados numa paisagem do semiárido, quando sepulta o seu próprio filho na região devastada pela seca, interior da Paraíba. Ao lado da atriz também de teatro Luíza Lacet, uma conterrânea nossa, provamos que não é só necessário olhar, na escolha de um ator, mas vê-lo por dentro. Vê-lo bem.
A região do curimataú – Tacima, Araruna e Pedra da Boca – foi o nosso cenário para as filmagens de “Arribação”. À época, uma produção em preto e branco, realizada com uma câmera de 16mm, emprestada pelo próprio Barretinho da ACCP, cuja saga houve de ser contada também em texto por Machado Bitencourt, em outro filme nosso – “Cinema Inacabado”.  
Nos últimos tempos, minhas ligações com Anco se restringiram simplesmente ao seu site “www.ancomarcio.com” (Romance da Cidade), em que assinava coluna semanal. Agora, fomos surpreendidos com o seu prematuro falecimento, deixando mais pobre a dramaturgia, o rádio e o jornalismo paraibanos.

Que descanse em paz, amigo Anco! 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ao Cinema e às lanternas, que o engalanou

Lanternas chinesas em "Adeus Minha Concubina"
Nessa época de festas, quando as atenções estão voltadas para o calor das fogueiras e, da parte dos glutões, para o sabor das comidas típicas, não é fácil alinhavar algumas palavras sobre cinema. Mas, continuamos a insistir, até por dever de ofício. Num instante assim, nada como uma “dica”. E essa dica veio da minha filha, Alexandra: “Papai, fale de lanternas”. Não entendi bem a relação e o fundamento de sua sugestão, mas...
Em verdade, uma coisa quase não teria relação com a outra. Ou, dependendo de um ponto de vista pessoal, de uma motivação circunstancial, pode até ter; isso depende do enlevo emocional que nos leve a estabelecer as relações devidas, entre um e outro motivo. Tipo de coisa que só é possível se mensurar, se explicar a partir de um apelo aos nossos próprios sentimentos. Refiro-me às “lanternas” – adornos luminosos multicoloridos de origem e cultura chinesas, para enobrecer determinados ambientes e situações, outrora, muito mais que hoje, enfeites usados também nas nossas tradicionais festas juninas.
Mas, como estabelecer então a relação entre um e outro significado da “lanterna”, vinculando o assunto ao Cinema, motivo real desta coluna?
Foi aí que imaginei tal relação significativa em alguns instantes completamente distintos; não tão distintos assim: às memórias da minha infância, quando mergulhava em fantasias indescritíveis, ao pendurar balões e lanternas na porta da minha residência, sob o olhar vigilante de minha mãe, em Santa Rita; ao sentir o cheiro da lenha queimando nas fogueiras de São João e da pólvora dos fogos, em noites úmidas e orvalhadas.
Imaginei, enfim (e, aí está o Cinema), as “caixas de luz” de projeção fílmica construídas pelo meu pai, com a minha ajuda infantil e, por fim, as lanternas chineses de “Adeus Minha Concubina”, um dos simbólicas filmes, que me lembram o nosso cinema.
Quanto a esse filme de “lanternas” mágicas, depois de todos esses anos, jamais esqueci. Trata-se de um romance entre dois homens e uma prostituta ao longo de meio século, filme que venceu o Festival de Cannes de 1993. A estória se passa nos anos 20, século passado, quando dois amigos tornam-se célebres ao interpretar a ópera "Adeus minha Concubina". É a saga do rei Chu, guerreiro que liberta sua amante Yu, na véspera de uma derrota. Depois, para não abandoná-lo, ela se suicida.
    O ambiente palaciano, onde reside o rei Chu e sua concubina, é totalmente revestido de lanternas coloridas, propiciando uma atmosfera mágica à Cenografia do filme, que faz um retrato dos momentos dramáticos vividos pela China, utilizando alegorias de um teatro marcado por códigos estéticos. Nesses códigos estéticos, bastante expressivos, estariam as “lanternas”, que de chinesas passaram a ser, também, códigos de minhas memórias de infância durante as festas juninas.

ALEX SANTOS, vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor da UFPB e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

segunda-feira, 20 de maio de 2013

À memória o que é de respeito



  Cineasta Machado Bitencourt
Circunscrever o nosso senso empreendedor e a saga dos muitos feitos cinematográficos até então realizados na Paraíba a um patamar limitado de mera apreciação retórica, em razão apenas de algumas instituições e nomes a elas eventualmente ligados, se nos parece não um bom preceito de resgate histórico da nossa tão soberana Cultura. Precisamos tratar o assunto no âmbito de um cinema total, sem fronteiras. Sobretudo parahybano, não apenas sob a ótica de uma arte meramente paroquial.
A rigor, a Arte não tem fronteiras...
Não muito raro e chega ser gritante ouvirem-se expressões xenófobas entre os que fazem cinema/vídeo na Capital e os videomakers do interior do Estado. A pendenga é antiga e não apenas se restringe, no caso de Campina Grande, se esta tem ou não um litoral, mas também em razão do próprio cinema ali realizado havia anos.
Aliás, essa questão não terá sido a primeira vez que vem à baila. Estende-se agora – pelo que nós da Academia Paraibana de Cinema tomamos conhecimento – em razão da transferência ou não do acervo Machado Bitencourt para a cidade em que o próprio Bitencourt produziu grande parte de suas realizações, tanto no segmento fotográfico como cine/videográfico.
Fato é que se comete mais uma vez a omissão às nossas raízes interioranas. Sobretudo filmográficas, quando se pretende desdenhar sua importância, criando expectativas sobre um cinema paraibano equivocadamente segmentado, ainda assim pulsante, mesmo no plano frágil da produção. Não obstante, entendido como marcante pelos que dele fazem parte com seriedade. Um cinema visto sob a égide do exercício incólume na sua singular criatividade.
Está lá, no nosso livro Cinema & Revisionismo (1982), de forma simples e clara a saga e os matizes de importância de um cinema que se fez grande, sempre grande. Também, até desceu a Serra da Borborema para dizer que existia. Um cinema até então ignorado pelos que só promoviam a cultura pessoense e de fora do Estado. Cinema, que fizemos questão de registrar e priorizar, quando das realizações dos primeiros anos da década de oitenta do Festival de Arte de Areia, que este ano retorna às alturas de uma civilização de vultos singulares e sobre os quais se inspirou.
E não terá sido este favor algum da nossa parte, em acolher a experiência “bitencourtiana”, mas o reconhecimento ao fato histórico, às tradições e à memórias da nossa arte fotográfica e cinematográfica; contraditando a tese de Kant, que sempre renegou a memória como algo remoto, acontecido, e que também para o historiador francês Lucien Febvre: “(...) se queres fazer história, vires resolutamente as costas ao passado e viva a vida. 
Viva-a plenamente”.
Mas, como fazer história renegando, omitindo ou desdenhando a nossa memória? Como mensurar ganhos e perdas, renegando deliberadamente os feitos que se conseguiu viver até o instante presente. Sempre, há de se buscar referências às atuais avaliações. E essas, quer se queira ou não, estão no passado!
  • ALEX SANTOS - Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema. 
  • E-mails: alexjpb@yahoo.com.br - contato@asprod.com.br 



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Errou, simplesmente deleta-se!

O  fotograma sempre foi a grande magia do cinema.                                                       
Com a arribada dos “luminares” da nossa filmografia para outras   plagas, convivi então com alguns de meus pares da Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba, início dos anos setenta, a saga venturosa do pensar criativo e do fazer Cinema. Experiência que se prolongaria por algum tempo, desde que o saudoso Barretinho esteve à frente da presidência da ACCP. E aqui vai uma homenagem especial ao amigo. Época rumorosa e prazerosa, porquanto, mais que uma simples realização imperava o “sonho”. Sonho de um cinema quase sempre inacabado. Ou, como diria Wills Leal, “cinema espiritual”, no seu monumental livro Cinema na/da Paraíba.
Estivera eu, então, atuando ainda no Sistema Correio (não o de hoje), numa espécie de dublê, entre homem de cinema – exibidor/realizador – e locutor de rádio, no qual comungava com o amigo, também radialista Moacir Barbosa, vindo das bandas de Natal/RN, as experiências de dois programas de cinema (Curta Metragem, diariamente, e Cine Projeção aos domingos) na recém-inaugurada emissora do Ponto de cem Réis.
Na UFPB, da qual já fazia parte, envolvido também estava com a extensão de um projeto iniciado com “Aruanda”, que seria o de apoiar o então feito de Linduarte Noronha com a criação de um órgão interno, que tivesse um compromisso, digamos, semiprofissional de apoio ao estudante da instituição superior de ensino e à comunidade de um modo geral. Criamos  o Nudoc; só agora retomando o que, anos depois, deveria ter assumido.
Mas, a questão aqui focada é a seguinte: Houve o tempo em que fazer cinema era puro e elementar “artesanato”. Tempo, espaço e ritmo configuravam parâmetros funcionais e formais rígidos da narrativa cinematográfica, a qual se media e montava através de simples fotograma. Errou no corte da tesoura, dançou!... Hoje, não, lidamos com infalíveis frames. Errou, deleta-se e inicia-se tudo de novo. 
Bom demais!...
Os recursos digitais e seus diáfanos, que facilitam a vida e o feito de qualquer videomaker, que se proponha a fazer audiovisual, menos Cinema, tem feito de cada um “cineasta”. Tanto melhor... Não atoa, a proliferação de vídeos nesse mundo de Deus, na maioria dos casos sem nenhum conteúdo formal a ser mostrado, próprio à reflexão da verdadeira Obra de Arte.
 
ALEX SANTOS é vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

sábado, 2 de março de 2013

Cinema: por que não tutelá-lo?


  Sala de cinema: ambiente sagrado do sonho 
Aos olhos do mundo, pouco importa se hollywood não pratique, como no Brasil, o cinema independente como meta exclusiva de produção. Importa muito menos ainda se esta é uma das características básicas do cinema europeu, como um todo, não por uma questão só pecuniária, mas culturalmente ideológica. Contudo, duvidaria muito que tais cinematografias não devam ter uma tutela governamental. Aliás, este é também um ponto em que está implícita a tão preconizada Soberania Nacional... Cada cinema tem o perfil de produção que lhe é mais pertinente, social, cultural, economicamente.
Num país em que grande parte do empresariado continua desdenhando a cultura, sobretudo o cinema, negando-se a mergulhar também na sua importância enquanto produto de mercado, nada mais justo do que, pelo menos, exigir-se o direito de tutela do governo brasileiro. Não confundir tutela com “apadrinhamento”.
Tutela, sim, mesmo para aquele tipo de empresa que ainda oscila entre o comércio e o purismo na arte, que tem caracterizado bastante o chamado “cinema independente”. Conceito este variado e que tem para muitos o significado de uma exclusividade apenas dos cineastas “amadores” e sem nenhum compromisso com o mercado exibidor de filmes. O que, convenhamos, isso jamais representaria a verdade em nenhuma hipótese.
A rigor, não deveríamos então somar os dividendos positivos de uma experiência que, a priori, vem sendo considerada “amadorística”, mas que tem gerado durante todos esses anos qualidade e benefícios à própria arte? Pelo que se entende – sobre tudo e sobre todos –, o dever de tutela continua a ser do Estado; por extensão, não in dubio, deverá ser justa e formalmente também da inciativa privada e do próprio cidadão, a partir da sua realidade criativa, cultural e artística.
Entediosa sempre foi a discussão sobre um apoio institucional aos chamados cineastas “independentes” e a reserva de mercado que os possa absorver. E não só para esses realizadores, mas para o Cinema Brasileiro de um modo geral. Essa lengalenga tem se arrastado por décadas, causando certa estranheza, sobretudo pela inadequação do termo “tutela”, que se entende como sendo um encargo, uma autoridade conferida a alguém, no caso o próprio governo, para administrar formal/constitucionalmente os bens nacionais. E pelo que sempre entendi a vida toda, Cultura e Arte de um povo são bens nacionais. Portanto...
Contudo, a questão levanta um ponto importante, quando defende uma espécie de descompromisso quase total do governo com o chamado “cinema independente” ou outra forma de arte. Estado que tem endeusado a função de outras mídias como único e possível canal de veiculação cinematográfica e concluindo por excluir intencionalmente a verdadeira e natural característica da arte-do-filme: a de projetar e fomentar ilusões através de uma atmosfera própria, física e verdadeiramente compatível, apenas com os equipamentos necessários em uma sala escura de cinema.
Ainda bem que o atual governo brasileiro, através da Ancine, atentou para essa necessidade e optou pela criação de salas de cinema fora dos grandes centros, mediante Instrução Normativa nesse sentido. Retornamos, enfim, à verdadeira magia do cinema; com ou sem a abominável pipoca...
 
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Violência em imagens: o ópio das massas


Fazendo-se um comparativo entre o que é virtual (pode acontecer) no cinema, televisão e Internet, e aquilo que nos é mostrado diariamente como “real”, sobretudo nos informes de telejornal, haveremos de introjetar, desavisadamente, algumas imagens e admiti-las como verdades absolutas. E de que existe hoje na Sociedade, até inconscientemente, um delírio sublimado, imageticamente diáfano, em razão do processo televisivo de induzimento ao conhecimento instantâneo dos fatos costumeiros da violência urbana.
Assim, quando nos referimos à “cooptação de massa”, por parte da mídia, é porque esse fenômeno culturalmente indutivo existe de fato, em forma de “moeda corrente”. Certamente, de forma ética questionável, nos termos em que essa violência se apresente, principalmente duvidosa e sob forma velada, sub-reptícia, “fabricada”, pelos nossos meios de comunicação. O que vem de ratificar assim a clara demonstração de que a violência de hoje é, em verdade, o ópio das massas.
No clic instantâneo das comunicações, “roboticamente”, como num passe de mágica, já se salvam vidas havia quilômetros de distância. Contraditoriamente, num piscar de olhos, apertando-se um simples botão vidas anteriormente salvas pelo “milagre” científico serão ceifadas. Então produto da intolerância e desatino dos que, consciente/insensivelmente, dominam e manipulam as massas incautas e desesperançosas, em um mundo hoje verdadeiramente fragmentado. Quanta contradição tem gerado o então preconizado “progresso da humanidade”!...
Na ampla aldeia global em que vivemos, durante anos, fomos capazes das mais pirotécnicas experiências, numa odisseia não apenas prevista a partir do ano 2001, preconizada sabiamente já no final da década de sessenta, no filme de Stanley Kubrick. Intencionalmente (ou não) existimos sublimando a “guerra”. Nessa evolução, fomos cooptados à prática da hipocrisia e do desinteresse pela paz, simplesmente porque o confronto armado nos dá pecúnia, status e poder.
Não obstante vontades, e não há de ser tão simples assim, mesmo sob essa real perplexidade em que se vive a aquiescência humana a um simples aperto de mãos entre potências, ainda é difícil e como desejariam os mais otimistas. Mas, bem que este pudesse ser o gesto a uma catarse e ao reconhecimento de equações de toda uma Sociedade organizada. – Uma solução ao fato violento mais banal do nosso quotidiano ao mais grave.
       Nas relações políticas e sociais – não menos nas artes – o grande desafio é se conseguir um animus desarmado entre os povos. Atitude essa, que sempre nos tem faltado...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor/ cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br