sábado, 31 de janeiro de 2009

O que é do filme brasileiro na TV?


Escrevendo recentemente para um outro portal, abordei essa mesma questão, que diz respeito direto a uma das problemáticas mais antigas da produção de filmes, no Brasil. Agora volto a me reportar sobre o assunto.
Assisti pela tv a um debate sobre cinema e televisão, recentemente, oportunidade em que se discutiam, mais uma vez, algumas opiniões que venho tendo havia muito. Opinião que, como se sabe, não terá sido apenas minha, mas dos quantos se preocupam com os destinos do cinema nacional. Trata-se da questão do espaço para o filme brasileiro de longa-metragem nas TVs abertas deste País.
Impressionante é saber que todos são de comum acordo, quer seja da produção de cinema, quer seja da própria televisão, por uma nova política de exibição do produto cinematográfico brasileiro. O fato é que, na hora “h” o lobismo empresarial das distribuidoras internacionais funciona firme nos bastidores do Congresso Nacional e, sob essa ótica, não há mandato parlamentar sério que se sustente...
Claro que estou falando de um debate sobre a obrigatoriedade de exibição do filme brasileiro na TV, realizado por uma emissora do próprio Congresso Nacional. No programa “Ver TV”, da TV Câmara, por sinal, um dos únicos espaços abertos onde se discute Cultura com certa seriedade, estava presente um dos nossos cineastas mais influentes: Silvio Tendle, do documentário “JK” e tantos outros.
Dentre as opções apontadas para o problema da distribuição do produto filmico brasileiro, mencionou-se o Canal Brasil como uma saída para o cinema nacional. A TV estatal só não basta. A própria Globo, de quando em vez possibilita uma série de filmes brasileiros, mas é muito pouco. A programação que essa tv faz (anualmente), contemplando alguns poucos filmes, inclusive em horários madrigais, é insipiente. Contraditando a tudo isso o fato de que o filme nacional sempre deu ibope nas TVs abertas. Então, qual é a questão?
O cineasta Cacá Diegues, (foto) também entrevistado no programa, adverte que “o monopólio de Hollywood é muito grande”. Disso nós já sabemos desde muito tempo. Mas não é só isso, pois sabemos que existe no Brasil a cultura de se produzir cinema e vender em pacotes, como se fosse um produto por atacado. Mesmo assim, essa tal “distribuição” jamais funcionou.
Cinema no Brasil é uma Arte que virou “mercadoria”, longe, muito longe de ter o seu maior desiderato de seriedade: instruir, aculturar, divertir... Mesmo que nunca tenhamos que chegar aos patamares de sofisticação industrial do cinema norte-americano, ao qual sempre fomos submetidos e com ele fomos habituados a conviver; com ou sem o tal Bush no poder.

ALEX SANTOS – Mestre em Comunicação Social pela UnB, jornalista e cineasta.
alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Imagem veio primeiro, depois o Som e... a pirotecnia!



Mesmo antes de o Cinema aprender a “falar”, já houve quem condenasse o som como um recurso de leitura cinematográfica. Para os mais radicais da arte em celulóide, à época dos anos dez/vinte do século passado, o cinema foi criado para valorizar a imagem. Simplesmente a imagem, e só a esta. O embargo terá sido grande, fazendo com que algumas Companhias de Hollywood temessem a iminente estréia do som, que só chegaria com “O Cantor de Jazz”, em 1927.

Não sem razão que Chaplin terá sido um desses contestadores da época, o que fica bem caracterizado em um de seus filmes: “Luzes da Cidade”. Logo na abertura o vagabundo Carlitos dorme nos braços de uma estátua localizada num logradouro público, que deverá ser inaugurado no dia seguinte. O som discursivo da então autoridade sobre o evento é algo deveras grotesco: apenas um cacarejar ridículo de palavras, sob a pantomima do genial Carlitos. Desse modo, Chaplim expressava o seu agravo ao novo “cinema falado”, sendo por ele vencido anos depois.

Pois bem. Esta semana me deparei com uma expressão do grande cineasta, em que afirma alto e bom som: “O som aniquila a beleza da Imagem!”. Diante disso, pude ratificar alguns posicionamentos teóricos, que venho defendendo havia muito. Um deles, o que diz respeito à importância de um belo discurso cinematográfico, sem excessos de “palavrório” e rebuscamento de linguagem. Na maioria das vezes atropeladores da imagem, minimizando sua real significação e importância como instrumento maior, que foi e será sempre, na narrativa.

O “diálogo mudo” entre personagens, em discurso cinematográfico bem construído, terá sido um recurso de construção narrativa dos mais significantes à compreensão do espectador, possibilitando a este interagir na cena, também, criando significados próprios enquanto partícipe do momento do filme, a partir do “diálogo silencioso” dos personagens. E isto está presente, sempre, em filmes da categoria de “Os Brutos Também Amam” (considerado o primeiro “western psicológico” do gênero), “Matar ou Morrer”, “Doutor Jivago”, e tantos outros belos exemplos...

Em verdade, hoje mais do que antes, a pirotecnia do som advinda com a evolução tecnológica atual, já não nos permite uma reflexão virtual e interativa com as imagens projetadas. Esse, ao meu entender, o grande óbice em detrimento de um cinema visualmente significante, mágico, envolvente. Não entendo, ainda assim, a inoperância total do som no cinema, como queria o genial Chaplin, mas que esse som jamais deva sobrepujar a imagem... E, como dizia Felinni: “Cinema é luz!”.

ALEX SANTOS – Membro da Academia Paraibana de Cinema,
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br contato@asprod.com.br

sábado, 17 de janeiro de 2009

Instantes da Academia que ainda nos são queridos


Da sala de aula, dentre as inúmeras vivências que experimentamos no nosso dia-a-dia, sempre se nos fica uma constatação: após algum tempo, nem sempre é fácil lembrar-se de um rosto em especial, de um aluno em particular, por mais presencial que ele tenha sido. Eles são tantos... Mas, de quando em vez isso acontece, e algum ex-aluno nos aborda na rua ou através de correspondências, manifestando muito carinho: “Lembra de mim, professor?”

Esta semana, através de meu blog (www.alexsantospb@blogspot.com), recebi informações de uma ex-aluna de Comunicação Social, ainda dos tempos em que ensinava Publicidade & Propaganda nas Universidades Asper/FAP, entidades subsidiárias da Universidade Paulista, aqui em João Pessoa. Surpreso pude constatar que, segundo confirmou em seu e-mail, hoje ela se encontra no Estado da Bahia trabalhando como apresentadora de Telejornais.

Outrora, não terá sido difícil perceber sua glamorosa entrada em nossa sala de aula, mesmo nos dias de prova. – Solta, vivaz, quase sempre a mastigar algo que eu não sabia o que era. Lembro-me bem, sentava-se à minha esquerda, sempre, na terceira banca próximo à parede. Presença invariavelmente notada e cotejada pelos colegas de aula, por sua desenvoltura em se comunicar com todos. Postura assim, somente poderia resultar em Apresentadora de TV. Parabéns, querida POLLIANA, que o sucesso lhe esteja sempre presente.

Eis os termos do seu comunicado:
“ALOUUU PROFESSOR QUERIDO!!!
LEMBRA DE MIM? FUI SUA ALUNA NA FAP. ESTOU AGORA TRABALHANDO NA TV OESTE/REDE BAHIA, AFILIADA DA GLOBO, ESTOU CAMINHANDO,QUEM SABE NÃO CHEGO LÁ!!!! AQUI ESTOU APRESENTANDO DOIS TELEJORNAIS, O DA MANHÃ JM, QUE TBEM SOU EDITORA E O DA NOITE BATV.
FIQUEI MUITO FELIZ EM TE ENCONTRAR.
MANDE NOTICIAS, VOU FICAR LIGADA NA SUA COLUNA.
BJS”

ALEX SANTOS – Membro da Academia Paraibana de Cinema.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Reflexões sobre coisas do nosso Cinema em 2008


Ao fazermos uma breve retrospectiva cinematográfica, envolvendo o ano de 2008, teremos de estabelecer opções, logicamente, incorrendo em algumas omissões não muito justas aos interesses do próprio cinema. Não obstante isso, tentaremos relatar segmentos e fatos que justifiquem de certo modo o que de mais significativo houve este ano e continua acontecendo, em razão do nosso cinema.
No plano das realizações, obedecendo a uma tradição sobejamente reconhecida, dentro e fora do estado, houve de existir consideráveis feitos cinematográficos. Tanto no plano da experiência audiovisual, com destaque para os produtos impulsionados pela Academia (festivais, debates, etc.), através de seus cursos de Comunicação Social, tanto da Universidade Federal da Paraíba como de outras instituições de Ensino Superior, além de iniciativas dos “independentes”. Experiências essas cooptadas por princípios e tradições do nosso próprio cinema, cujas bases hão de ser encontradas a partir dos anos 50/60.
Apoiada por diversas instituições, a exemplo do Unipê, Grupo José Honório Rodrigues, com ações capitaneadas pelo historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello, UFPB, AS Produções Cinema e Vídeo, além da imprensa televisada, escrita e falada, importante curso vem de ser ministrado para 40 professores da rede pública da Capital. Do programa constaram várias atividades e exibições de filmes documentários sobre a importância histórica e cultural do nosso estado. “Parahyba” (o filme) foi mais uma vez apresentado e discutido durante o curso, bem como outros filmes realizados por cineastas também paraibanos. O potencial turístico local, nos seus mais distintos segmentos e regiões, foi igualmente revisto e discutido, através de registros audiovisuais. “O Romanço do Dinossauro”, documentário nosso realizado no Sertão da Paraíba através de um convênio entre a UFPB, Universidade de Brasília e o CNPq, registrou de forma bastante inteligente a força da tradição oral do povo sertanejo ao tratar da questão da introjeção da figura do grande lagarto na cultura regional.
Importante para Cultura paraibana foi o documentário “Paraíba, meu amor”, tendo por anfitriã a música de Chico César, apresentado festivamente este ano, cujo foco principal é o nosso “forró” de pé-de-serra, emblematizado no saudosismo de ilustres figuras da nossa música regional: Luiz Gonzaga, Marinez, Jacson do Pandeiro e Sivuca. Com fotografia e trilhas excelentes, o filme do suíço Barnand Robert-Charrue fez significativo marketing turístico para o Estado, sobretudo.
O lançamento do livro do “atonal” Wills Leal, “O Cinema da/na Paraíba”, antes de tudo, foi um libelo grandioso aos quantos desejem conhecer a trajetória do nosso cinema, nos seus múltiplos e significativos segmentos de Produção e Exibição; e até de Distribuição, uma de suas fases mais curiosas, quando trata das primeiras e memoráveis tentativas de fornecimento de filmes, na antiga Rua Maciel Pinheiro, no Varadouro. Época da qual, inclusive, meu próprio pai, ainda jovem, houve de participar, antes de se tornar conhecido, em Santa Rita, como “Seu” Severino do Cinema.
O grande feito em 2008 para a Cultura Cinematográfica local, contudo, foi a criação da nossa Academia Paraibana de Cinema. De parabéns Wills, nosso “bisbilhoteiro” maior, pelo esforço e dedicação à liderança do feito, que igualmente soubemos construir e, de certo modo, continuamos a protagonizar, consubstanciando um processo de metalinguagem, que só nos regozija e nos dá o “animus” de continuar contando nossas “estórias”, também em imagens...

ALEX SANTOS – Da Academia Paraibana de Cinema. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br / contato@asprod.com.br

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Construtores de écrans e sonhos


Entre os nossos inúmeros pares da Academia Paraibana de Cinema, vejo-o como se fosse ontem. Entusiasta no trato da coisa fílmica, aguerrido, apaixonado... Uma presença, digamos, manifestamente “cinemera”. Hoje, quiçá, muito mais ainda. Sobretudo, quando faz prevalecer um singular gosto pela Sétima Arte, ao construir o seu próprio palácio de écrans e sonhos fílmicos, numa demonstração de que o virtual, um belo dia, pode se tornar realidade.

Lembro do nosso primeiro contato, no Departamento de Informática do CCEN, mesmo antes dele candidatar-se a Reitor da UFPB. Casual foi o motivo desse contato, motivando a busca pela internet de filmes antigos, em VHS. Deu-me indicações e pistas de como conseguir algumas pérolas cinematográficas – Felinni, Viscount, John Ford, Chaplin, “cowboys” classes “c” e “d”... O que importava mesmo era o nosso papo sobre cinema. Assim, ficamos amigos.

Quando, ainda recentemente advindo do CCHLA para o CCEN, após um período de dois anos e meio em Brasília, para a conclusão do meu curso de mestrado na UnB, tive o privilégio de conhecê-lo. Lecionava ele nas Ciências Exatas, Centro da Universidade Federal da Paraíba. Não obstante ser professor das Exatas, jamais abandonou o “sonho”. Sonho esse acalantado virtualmente no écran da ilusão, da fantasia, numa velocidade de 24 quadros por segundo.

Das coisas do cinema ficamos interlocutores. Daí, um dado inusitado pude concluir: entre as Exatas e as Humanas, nada mais aglutinador, físico, matemático, mecânico, por conseguinte, cinético e virtual que o Cinema. Talvez por isso tenha o meu amigo Mirabeau enveredado pela dicotomia do que seja o “exato” (numérico, sobretudo) e o “humano” – romanticamente criativo, construtivamente cinematográfico.

Hoje, inerente ao surgimento de uma entidade representativa que contemple o reconhecimento às idéias e produções em forma de cinema, a criação do Cine Mirabeau representa algo de especial. Iniciativa é fruto de um sonho particular, trazendo como marca o próprio nome do seu arquiteto e construtor, para premiar a tradição e o brilhante repertório de realizações cinematográficas, na/da Paraíba. Todos ao nosso Cine Mirabeau!

ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br / contato@asprod.com.br