sábado, 29 de maio de 2010

È possível interagir com o cinema?

Johnny Depp

em 3D



Houve um tempo em que, para um melhor “casamento” com o Cinema, ousou-se interagir com essa Arte de maneira objetiva. Optou-se por não mais se ser um mero espectador passivo, mas um espectador diferenciado, que conduzisse, de fato, o processo técnico audiovisual e a narrativa a que se assistia. Tentou-se fazer parte dela, ditando seus rumos como se fosse possível demarcar-lhe um final de agrado pessoal. O recurso da Terceira Dimensão foi uma dessas tentativas.

Nos anos 50 nós tínhamos salas de cinema, eu e meu pai, e já com aparelhamento possível de exibição dessa performance tridimensional. Mas, lembro que não deu certo. Não por causa das Empresas Exibidoras de Filmes e seus equipamentos, especialmente, mas porque Cinema é Indústria e, como tal, sempre foi realizado visando lucro imediato da produção de seus filmes, com o mínimo que seja de comprometimento infra-estrutural no ato das distribuições e exibições.

A questão seria: é possível interagir verdadeiramente com o Cinema? Essa é uma indagação que deve merecer séria reflexão. Será que o 3D, hoje tão em voga com os exemplos de “Fúria de Titãs” e a nova versão de “Alice no País das Maravilhas”, que nada mais são que uma réplica melhorada da Terceira Dimensão do passado, deve ser considerada uma forma de interatividade objetiva com a Arte-do-Filme? Ou seria mais um modismo da indústria cinematográfica, que através dos anos tem buscado maneiras de afirmação frente às mídias tecnologicamente mais avançadas?

Diante desse parágrafo de tantas interrogações, ainda acredito que é praticamente impossível uma parceria transformadora de rumos da obra original, em tempo real, entre um Espectador e o Filme. Isto sim caracterizaria, ao meu entendimento, a real interatividade entre o assistente e o assistido (obra fílmica). O simples uso de óculos de cor e seu efeito sejam simples ou com “lentes polarizadas”, ao se assistir a um filme qualquer, a rigor, não representa uma interatividade com o Cinema. Como sempre tenho afirmado em meus estudos, publicações e teses, “Cinema é uma Arte de risco, porquanto estar pronta e acabada, quando levada à opinião pública”. Ela é imutável no seu conteúdo, ao contrário de outras mídias audiovisuais.

Não obstante isso, algo me diz que essa busca pela interatividade (in real time) no cinema continua nos dias de hoje. Não pelo 3D, cujos efeitos de integração do espectador à cena terá sido mera ilusão, mas por outras formas de participação desse mesmo espectador no filme projetado. Digamos... algo de concreto, que desse a quem assiste a um filme, por exemplo, o livre arbítrio de optar por interferir no ato da exibição e no conteúdo desse mesmo filme, transformando o seu discurso.

Bem, se isso pode ser conseguido eu ainda não sei... “In dúbio, pro...” Há quem diga que, em atividade artística, “tudo é possível!” Que tal essa experiência de um cinema na capital da Lituânia (Vilna), onde estão sendo usadas bicicletas ergométricas para gerar energia para o projetor no ato da exibição do filme? Lá, quem pedalar pode assistir ao filme de graça. Os coordenadores do cinema Pasaka, que significa Conto de Fadas, afirmam que a idéia está fazendo sucesso entre os freqüentadores do cinema, que normalmente exibe filmes de arte. Seria mais uma tentativa de interatividade? Se essa moda pega... Ergométrica! Bom só pra saúde!

Acredito que retornaremos ao assunto.


ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br / www.alexsantospb.blogspot.com

domingo, 23 de maio de 2010

O Cinema no tapete vermelho

Javier Bardem e
Juliette Binoche
Prêmios: Melhor
Ator e Atriz.




Na sua essência, além do que possa representar como a Arte maior do entretenimento, o Cinema sempre foi uma atividade destinada ao tapete vermelho. “Glamour” na forma mais expressiva do termo. Não só por ser uma indústria poderosa, política e economicamente poderosa, mas pela forma como manipula os elementos da sua informação. Quer seja no trato da imagem, segmento primeiro da sua natureza artística, ou mesmo do som.

Polarizando o discurso sobre o cinema, dois acontecimentos importantes vêm de acontecer esta semana: o 630 Festival de Cannes, tradicional vitrine universal da Sétima Arte, concluído no litoral francês, com a premiação de estrelas consagradas como a talentosa Juliette Binoche, pelo filme "Copie conforme" e Javier Bardem, por "Biutiful", este, um dos preferidos o diretor espanhol Almodóvar.

O segundo evento da semana, o XIII Fenart, proporcionalmente menos glamoroso do que o Festival de Cannes, ainda assim, extremamente importante, especialmente pelo segmento de Cinema, terá seu bom momento nesta segunda-feira (24), com um painel sobre “A Presença da Música Paraibana no Cinema”. A apresentação de músicas especialmente compostas para o nosso cinema, exposição e entrega de Diplomas a músicos paraibanos, pela Academia Paraibana de Cinema, fazem parte do programa, que pode ser visto no próprio site do evento.

Procurando resgatar os tempos áureos do Festival de Arte de Areia, o Festival Nacional de Arte, já na sua décima terceira versão, tem demonstrado ser uma tentativa válida para a Cultura da Paraíba. E o cinema tem tido cadeira cativa nesse evento, revelando valores e atrações, muitas delas reincidentes em qualidade, agregando ainda mais valores internos e externos ao nosso Estado. Parabéns ao Fenart, por mais esta etapa vencida.

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

terça-feira, 18 de maio de 2010

Feedbacks que nos sensibilizam

Cartaz de
"Antomarchi"





Tenho recebido alguns “feedbacks” sobre temas que venho abordando, tanto em meu blog (www.alexsantospb.blogspot.br) como através do site “Romance da Cidade”, do meu amigo Anco Márcio. Muitos desses retornos são altamente pertinentes e com avaliações também muito sensíveis, que me deixam muito sensibilizado.

Sobre o que escrevi:

BloggerAnna Carneiro disse...

“Estou muito ansiosa para ver o resultado final de "Antomarchi", professor! Em vídeo ou em cinema ficará belíssimo!
Saudades das conversas sobre coisas de cinema! Um abraço!”

07 de maio de 2010 20:5

BloggerAlexa disse...

“Co-participações como essa a que o ilustre cineasta Alex Santos faz referência em seu último artigo, "Redescobrindo, no cinema, valores amigos-II", são a prova contundente de que, inobstante em áreas tão distintas de atuação profissional, a sensibilidade dos colaboradores da arte, muito menos do que traduzir um gosto apurado para o belo significa, em verdade, no caso específico ora observado, que a concretização de uma idéia em um trabalho cinematográfico relevante deve-se, em parte, a perspicácia do artista em captar das coisas e das pessoas a beleza que pretende traduzir nas telas, transformando-a em algo eterno”.

21 de abril de 2010 09:58

Sobre: “O Olhar Virtual de uma paisagem Sonora”

“Caríssimo autor, sinto-me lisonjeada pela escolha do "flagrante" supra como meio VISUAL para esclarecimento da questão proposta em sala. À mim, mera espectadora das cores e sons da vida, ficou mais do que claro que "uma sonora gargalhada" pode sim ser traduzida em IMAGEM! Att. Alexa Menezes”.

29 de maço de 2010 15:52

Pelo que agradeço, sensibilizado:

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br /

sexta-feira, 7 de maio de 2010

“Antomarchi” e os bastidores de produção

Ator Danrley
Natan é
"Antomarchi"


Quando, em fevereiro do ano passado, reunidos nos escritórios da MDIAS discutíamos a possibilidade da realização de um filme, a partir dos contos de Mirabeau, uma indagação me ocorreu de imediato: seria em vídeo ou em cinema? Isso, em razão da complexidade da proposta apresentada na ocasião. Lembrei das colocações de Wills Leal, como sempre radicais, de que a película cinematográfica “é coisa do passado...” Não entendo a situação dessa maneira, justamente, em razão de reforços abalizados de outrem, a seguir.

Sempre calmo e ponderado, o amigo Manoel Jaime fez igualmente suas colocações sobre o assunto, mais no sentido do tema a ser abordado do que, propriamente, da tecnologia a ser usada, se gravação ou filmagem. Além de mim, também o produtor Alexandre Menezes estava presente à reunião, justamente para ver com os olhos da Produtora que dirige todas as possibilidades de realização de uma média-metragem de ficção, e não apenas de um simples registro documental de imagens.

Após aquele primeiro encontro, agora já na Produtora, eu e Alexandre avaliamos a situação proposta por Mirabeau, e ponderamos sobre o seguinte: em razão dos custos inicialmente apresentados, seria mesmo em vídeo, já que dispomos de equipamentos em HDV e que poderia levar o “média” a uma finalização em blu-ray, o que de fato aconteceu. Não obstante a complexidade que esse sistema de finalização implica, optamos por HD, mesmo sabendo das implicações de recurso de memória que requer a edição não-linear.

Como diria Filipe Salles em “Processo de Finalização”, em cinema e vídeo, em termos simples, a quantidade de memória necessária para armazenar uma imagem eletrônica com qualidade similar a um fotograma 35mm de cinema é aproximadamente 10 megabytes. Bem verdade, se considerarmos que o cinema funciona com 24 f.p.s., um longa-metragem de 120 minutos teria nada menos que 172.800 fotogramas, o que seria equivalente a 1.728.000 megabytes de memória necessários, sendo que numa produção em cinema sempre se filma pelo menos 3 vezes o tempo estimado do filme, normalmente.

Filipe Salles é de opinião que, “Uma fita magnética não tem condições de armazenar tal quantidade de informação, e isso significa uma imensa quantidade de Hard-disks para armazenar a imagem captada, que teria de ser levada ao set de filmagem, como realmente foi em alguns casos, em Star Wars Episode II e Superman Returns.” Mas é claro que, por enquanto, isto só é possível em produções de alto orçamento gerado pela forte indústria americana. Em todos os outros casos, é mais prático, eficiente e barato filmar diretamente em película 35mm. Razões que nos levaram a optar por um “Antomarchi” em vídeo mesmo...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br