segunda-feira, 27 de julho de 2009

História e revisionismo sobre a saga de Canudos


Antonio das Mortes,
personagem de
"O Dragão da Maldade
conta o Santo Guerreiro",
de Glauber Rocha

A saga de Canudos, nos sertões baianos, sempre esteve presente na imaginação dos criadores de arte e do povo nordestino. Especialmente deste, que soube mais que qualquer outro mensurar sua significação nos motivos sociais, econômicos e religiosos, sobretudo. Situação não menos compreendida por todos os brasileiros através de uma literatura histórica e política especializada, que tem sido grande, muito grande, sempre grande...

O Cinema terá sido parte dessa saga, igualmente, e não só impulsionado pela máxima baiana de “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, como bem preconizara o irrequieto Glauber Rocha através de seus filmes. Emblemáticas experiências em épocas de Cinema Novo, apesar dos limites impostos pelos anos de chumbo, que nos oprimiram a todos nesses brasis de tantas cabrálias.

A religiosidade exacerbada, máscara indelével de todo um estado social e político de época, serviu para aguçar ainda mais aquela situação, criando uma “cenografia” trágica, mas exuberante, que teve no Cinema a sua maior tradução. Porquanto, foi vista e sentida através de imagens em movimento e de uma dramaturgia muito bem construída, como foi o caso da “estória contada” em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, pelo cineasta Glauber Rocha.

Mais uma vez o tema retoma o espaço da reflexão, numa abrangência muito mais coletiva, tendo como suporte a Literatura. Sem embargo algum a outros olhares, um deles exemplificado na enormidade de experiências cinematográficas sobre este assunto. Filmografia que conseguimos levantar e que já pode ser contabilizada em mais de trinta obras entre documentários e filmes recriando a saga de Canudos.

O historiador José Octávio de Arruda Mello, em seu novo livro “Terra, Revisionismo e Cultura em Euclides da Cunha“, mais uma vez nos surpreende com os meandros da nossa História. Obra que será lançada neste domingo (02) de agosto, no Cine Mirabeau, no Bessa, inclusive com a exibição de um scatch do filme do Glauber – “Deus e o Diabo...”

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema. Professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

Em tempo: Convite emitido pelo próprio autor da obra, prof. José Octávio:

CONVITE
A Academia Paraibana de Cinema, a Comissão Editorial do UNIPÊ e o Grupo José Honório Rodrigues convidam para o pré-lançamento do livro “Terra, Revisionismo e Cultura em Euclides da Cunha”, de José Octávio de Arruda Mello, a ser realizado às 10 hs. da manhã de 2 de agosto (domingo) no Cine Mirabeau, à Av. Fernando Luiz Henrique, 230, no bairro de Manaíra, em João Pessoa. O acontecimento está subordinado ao seguinte programa: 1 – Exibição de scatch, do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, organizado por Alex Santos. 2 – Painel sobre o livro e vivenciação euclideana no cinema e na televisão, a cargo dos Acadêmicos João Batista de Brito e Alex Santos e historiador Jean Patrício. 3 – Apresentação de monólogo de Antonio Conselheiro pelo Acadêmico Fernando Teixeira. 4 – Sessão de autógrafos e confraternização.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Revisionismo histórico sobre Canudos, beato e cinema

(Artigo publicado em 01/01/2007) no blog: http://www.alexsantospb.blogspot.com/, e no site: http://www.ancomarcio.com/

A manifestação ao culto da nordestinidade brasileira, buscando todos seus valores humanos, culturais e políticos, sob uma visão eminentemente sócio-antropológica, não terá sido um mérito, apenas, dos nossos grandes historiadores ou de uma bem sucedida historiografia nacional. Houve quem se debruçasse sobre esse assunto, ainda de forma bastante séria, em outros segmentos culturais, e não só através de formas literárias, mas procurando compilar sua singular importância também em imagens.
Este, sem dúvida, é o caso do Cinema, guardião que tem sido da nossa própria História, e não apenas regional, mas de tudo que representam as multiplicidades de todos os brasis que hoje tão bem conhecemos. Sua cenografia, seus ritos e mitos têm constituído o grande filão de uma produção audiovisual cada vez mais extensa, significativa e acreditada, dentro e fora do País. E com que riqueza de detalhes tem sido retratada a história dos povos brasileiros, suas nuanças de cor, de raça, de credo...
Esta semana, como que presente de início de ano, dentre outras obras que recebi de amigos, a do historiador José Octávio de Arruda Mello. Importante texto seu sobre “A Questão da Terra em Canudos – Do Revisionismo de Euclides ao de José Calazans”. Fruto de encontros, discussões e visitas que fez recentemente à Bahia. Aspectos da vida de Antonio Conselheiro, sua conhecida saga em Canudos, são trazidos à baila sob uma ótica mais politicamente contextualizada, o que tem sido a característica do nosso historiador paraibano maior.
O que me surpreendeu nesse seu trabalho foi a presença do Cinema como suporte da História, a partir da revisão de figuras singulares retratadas em “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Presença essa endossada por afirmações que fiz junto ao autor sobre Antonio Conselheiro, o beato que virou profeta nos sertões baianos, tão bem retratado nos filmes do cineasta Glauber Rocha, sobretudo, no célebre “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Este que considero o maior de todos os ícones da nossa cinematografia regionalista sobre a nordestinidade brasileira.
Vários pontos de significação histórica estão contidos no trabalho Zé Octávio, como sempre tradutor incansável das nossas “sagas e resistências”, em suas mais distintas conexões sociais e políticas. Contudo, quando referenda o cinema em seus relatos, de certa forma nos premia também em curiosidade. No caso em particular, comparando “a Tróia de Taipa do Conselheiro” à situação do quilombo do Talhado retratado em “Aruanda”, ficaria patente na expressão documental de Linduarte Noronha: “Talhado existe geograficamente, inexiste no âmbito das instituições”.
Perseguindo algumas comparações sobre os conflitos em Canudos e as lutas de 1930, na Paraíba, Zé Octávio invoca outros autores paraibanos, a exemplo de João Lélis de Luna Freire, em seu “A Campanha de Princesa”(1994), que “adaptou as formulações euclideanas à realidade paraibana. Canudos transmuta-se, então, na Serra de Teixeira, por onde principiou a chamada Guerra Civil de Princesa, entre março e julho de 30.”
Sublinhando, ainda, a participação do Cinema na retratação do fato histórico, o autor lembra que, “o Nordeste não corresponde às firulas de Chicó e João Grilo em O Auto da Compadecida. O verdadeiro Nordeste, trágico antes que cômico, e épico ao invés de picaresco, tal qual visualizado pelo ‘phatos’ euclideano, expressou-se na cinematografia de Glauber Rocha.” E conclui afirmando: “Ao enfatizar a feição euclideana do personagem Antonio das Mortes – misto de jagunço e justiceiro – em ‘Deus e Diabo na Terra do Sol’, o crítico de cinema Alex Santos ressaltou a seqüência do sermão do Beato Conselheiro nessa película.”
No que me toca, em verdade, fico honrado com a citação do meu nome em mais uma de suas “amplas sínteses” historiográficas, em particular, sobre a nossa nordestinidade e a nossa Paraíba.

ALEX SANTOS – Mestre em Comunicação Social pela Universidade de Brasília, jornalista e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

CONVITE: O historiador José Octávio de Arruda Mello convida a todos ao pré- lançamento do seu livro sobre “Canudos”, no próximo dia 02 de agosto (domingo), às 10 horas da manhã, no Cine Mirabeau, à Av. Fernando Luiz Henrique, 230, sentido Bessa-Manaíra (antes do cruzamento com o Retão). O evento é parceria cultural entre o autor, o professor Mirabeau Dias e Academia de Cinema.
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

O documentário jamais se esgota em si mesmo

Por mais consciência crítica que possamos ter, durante a realização de um documentário, mesmo assim, há de nos faltar a clareza de que, por si só, aquele trabalho realmente esteja completo, acabado. É da própria natureza do filme (ou vídeo) documental esse tipo de indefinição, porquanto sua feitura, sua composição “não-dramática”, sem parâmetros narrativos pré-definidos, indagará sempre por conclusões mais precisas sobre o fato abordado. O que, ao contrário, descaracterizaria o "feito documental".

Ao bom documentarista, é mister sempre lembrar, deve existir a consciência de que o mais importante não é o assunto abordado, seja ele qual seja, mas, seguramente, a forma, a maneira de sua abordagem. Acrescentaria ainda a esse gravame, o espaço/tempo em que esteja sendo realizado, porque o documentário é um registro temporal. O tema, o fato, esses jamais se esgotam, exigindo sempre novas interpretações. Difere da Dramaturgia, por ser esta atemporal.

A questão da “temporalidade documental”, que é fato, é deveras intrínseca à razão própria de ser e de “animus” de quem pretende realizar um trabalho assim. Essa conclusão reafirmou-se em mim, recentemente, quando fui interpelado por minha filha Alexandra, sobre por que razão jamais conclui o documentário “Arribação”. Filme em 16mm e preto & branco, uma das minhas primeiras realizações, no final dos anos sessenta, que ainda continua em “copião” e inacabada...

Esta, quiçá, seja a razão maior pela qual jamais enxergue o Documentário, seja ele de curta ou longa-metragem, como Cinema, verdadeiramente. Há quem estranhe esta afirmação, mas o fato é que Cinema é Diversão. Um documentário tem um enfoque diferente, na maioria dos casos privilegiando e muito o depoimento direto de pessoas, fragmentariamente, o que se assemelha e muito à linguagem da televisão. E isto se confirma a partir da chegada do Vídeo Tape, nos anos cinqüenta/sessenta.

Existe coisa mais maçante do que assistir a um documentário numa sala de Cinema, com suposto e chato jeito de Cinema, com ou sem pipoca, durante mais de duas horas de repetidas entrevistas e depoimentos intermináveis? Continuo afirmando que Cinema é diversão, entretenimento e que alguém me prove sair menos chateado do cinema ao ver (não assistir) a tantas horas de planos seqüenciais e falações, que não acabam nunca, muitas vezes para conclusões propositivas, que deveriam ser muito mais simples...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br