
Em seus contundentes pronunciamentos Glauber consegue ser mais direto ao afirmar que a fome latina não é apenas uma questão simplesmente real, alarmante, mas “é o nervo da sua própria sociedade”. E ratifica a função e originalidade do Cinema Novo, quando faz referência direta ao cinema paraibano, citando o documentário “Aruanda”, de Linduarte Noronha.
Subvertendo a ordem de construção das coisas, aplicando rimas inusitadas à linguagem cinematográfica, procurando impor diferenciações ao academicismo exacerbado e ao esteticismo de cunho formal importado, para ele nocivos à arte, Glauber fez com que o Brasil pensasse o Brasil.
Em sua obra, uma reflexão onde o politicamente óbvio das manifestações populares ganhe o essencial na arte, sem rodeios ou máscaras, sem que interviesse negativamente no sentido da proposta, mas servido como base para uma tomada nova de atitude dentro do fazer artístico. E cujo modelo jamais se distanciasse da nossa própria realidade enquanto povo.
A rigor, um cinema histórica e revolucionariamente engajado, nitidamente inovador “gramaticalmente”, embora difícil de ser entendido na época. Isso nos fazendo lembrar o pensamento maiacoviskiano de que, “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”. Esse era o ponto de vista glauberiano e de tantos outros cineastas cinemanovistas comprometidos com as necessidades de mudanças políticas e estéticas de sua época.
Se vivo fosse, Glauber Rocha estaria vivendo uma nova realidade política, cinematograficamente? A que grau de intensidade a sua subversão de linguagem estaria hoje com os novos recursos da imagem digitalizada? A complexidade do seu cinema seria menos complexa nos tempos atuais? São questões de difíceis respostas sem a sua presença no cenário cinematográfico brasileiro.
ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br contato@asprod.com.br
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