domingo, 28 de outubro de 2012

Olhar virtual de uma “paisagem sonora”


 
Sávio Rolim é "Menino de Engenho"
Algum tempo atrás, também no meu blog escrevi que a Natureza com todos os seus elementos “cênicos”, sempre me foi simpática a um olhar cinematográfico. Talvez, por isso, sempre tenha tido inclinação por filmar (ou gravar) no campo. Trata-se de um impulso pessoal e muito natural de minha parte, se examinado todo o meu trabalho, desde os anos sessenta aos dias atuais. Quiçá “Antomarchi”, mais recentemente, tenha sido uma das minhas exceções.
Reforce-se a essa minha preferência pelo telúrico os primeiros encantamentos que tive quando criança, que dava preferência aos “cow-boys” exibidos nos cinemas do meu pai. Mas, tais observações preferenciais vieram também de leituras de temas regionais, que me fizeram a cabeça logo cedo: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Câmara Cascudo, os nossos Zés Lins e Américo, o poeta Américo Falcão e seu telurismo sobre as praias de Lucena, além de mais alguns outros “vegetalistas”, segundo Virgínius da Gama e Melo.
Razão essa que me fez fugir um pouco dos temas urbanos, deitando um “olhar cinematográfico” (até romântico, confesso) sobre o telurismo e o vegetalismo, de naturezas verdes de encantar. Além de temas de raízes campesinas, como o Cangaço, por exemplo. E sempre defendi que o nosso Cinema se identifica mais com esse temário que com situações de polícia correndo atrás de bandido nos centros urbanos, situação que se tornou a prax do cinema americano dos últimos tempos, inclusive como temas para uma boa parte dos filmes brasileiros.
Esta semana, na sala de aula, um de meus alunos me fez a seguinte indagação: “Professor, o que o senhor entende por Paisagem Sonora?” Esclarecendo que este é um dos assuntos do programa de uma das disciplinas do Curso de Comunicação Social, que venho ministrando.
Não me surpreendi de forma alguma com a curiosidade do aluno, porquanto existir em cada um de nós, de quando em vez, um instante de contemplação àquilo que, virtualmente, imaginamos existir. Na música, também terá sido possível esse instante visual, que preconizamos de “paisagem sonora”.
Respondi à indagação do aluno da seguinte maneira: Imagine-se lendo um livro (e dei exemplos dos romances dos Zés Lins e Américo). Imagine-se lendo o nosso Zé Lins do Rego, especialmente. O romance dele é rico em vegetalismo, que nos fazem criar as nossas próprias “paisagens virtuais”. Agora, imagine-se ouvindo atentamente uma boa música. Uma melodia que traga um apelo realmente naturalista. E dei exemplos de Vivaldi com as “Quatro Estações” e Villa Lobos com o Concerto no2 “Amazonas”. Em ambos os casos, certamente seria impossível não imaginarmos uma “paisagem sonora”...  

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

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