quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Cinema, pão e caminhada

Cena de "Cinema Paradiso"
 
Entre uma andada e outra, quase sempre nos encontramos na calçadinha de Tambaú, nos finais de tarde. Ele em demanda da padaria mais próxima e eu na esticada enfadonha de mais uma caminhada, que nem sei mesmo pra serve, não fosse a insistência da minha Lili de que “caminhar é sempre bom para a saúde”. Em razão de tal registro meramente quotidiano, o que teria isso a ver com o cinema?

Pois bem, esta semana mais uma vez encontrei o amigo Petrônio Souto na calçadinha, como sempre em busca do pão-nosso-de-cada-dia. De conversa em conversa fomos diretos aos anos 60. Segundo ele, época em que a indicação dos filmes em cartaz pela crítica especializada tinha um fascínio todo especial. Ia-se ao cinema na maioria das vezes pela indicação dos filmes através da imprensa.

Sabedor da minha condição de membro da Academia Paraibana de Cinema reforçaria Petrônio a ideia de que deveríamos retomar as indicações dos filmes em cartaz na cidade, agora sob a égide da APC. De princípio, acreditei que seria uma possibilidade com as novas mídias, porquanto temos hoje muito mais condições de veicular nossas opiniões sobre cinema do que antigamente, quando só dispúnhamos de jornal e radio.  

Ao nos afastarmos, fiquei deveras a matutar sobre o assunto. Após mensurar melhor a ideia, comentei com a Lili de que a época mencionada por Petrônio era outra. Hoje já não dispomos de Cinemas, mas de Salas de Shoppings visitadas por uma adolescência faminta de efêmeras pirotecnias audiovisuais. Excepcionalmente, o jovem tem demonstrado interesse por uma indicação crítica de filmes em cartaz. Cinema, hoje, pode fazer parte de um programa de shopping. Jamais de um ritual acadêmico como antigamente.

Por tudo isso, amigo Petrônio, é fácil entender o verdadeiro e atual sentido do nosso cinema. Para os que privaram do seu maior encanto, da magia e da sua cênica “realidade”, como “nosoutros”, não é difícil de entender as diferenças impostas à arte-do-filme, em todos esses anos.  Longe de ser o atrativo maior de um bairro, de uma urbe e de uma sociedade, o cinema foi relegado a um simples apêndice cultural. As nossas atuais salas de exibição estão sendo frequentadas não mais por ardorosos “habituées”, mas por mentes jovens e ávidas de imediatismos.

“C'est la vie...”

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

Nenhum comentário: