sábado, 14 de julho de 2012

A Imagem como forma apropriante (II)

 No escurinho do cinema, a magia de tudo...

O cinema tem buscado em sua dramaturgia, sobretudo, a valorização dos elementos espaço/tempo mais verossimilhantes com a realidade a que se propõe narrar. A composição cênica virtual através da luz, rigorosamente tem sido importante nesse sentido. Até porque, além da tela plana só há a ilusão desse espaço e desse tempo. Mas, existe certa desvantagem tecnologicamente química do cinema sobre o que vem se processando eletronicamente pela televisão. Não raro, o computador consegue espacejar de forma imediata todos os elementos previamente mentalizados pelo artista, sendo este muitas vezes superado nos detalhes pela máquina. Exemplo flagrante é o do “tira-teima”, nas partidas de futebol, enquanto recurso de realidade virtual, que tem se prestado muito bem a determinados “esclarecimentos espaciais”, através do documentário, sobre o que a capacidade humana de visualização quase sempre tem falhado.

Em se tratando ainda da composição de espaço e tempo, de ambientações concretas, a partir de um também referencial claro-escuro, um dado cenograficamente importante ganharia contornos subliminares, entre cinema e televisão: a luz. Esta, enquanto elemento modular rigorosamente fundamental de formas tridimensionais na realização fílmica. Na tv, a luz diáfana e até certo ponto “enganadora”, tenderia a se compor ainda mais com a digitalização dos novos processos “3D”, cujo resultado vem de substituir o artesanato fotográfico como exercício de qualidade, que houve de perpetuar a expressiva imagem do cinema aos dias hoje.

Ao contrário da virtualidade diáfana da tv, no cinema a luz passa a ser um instrumento poderosíssimo na busca da composição dos espaços cênicos. Espaços que nos têm dado (ainda) a ilusão do real dentro do discurso fílmico. Dessa confrontação existente entre o artesanal do cinema e o “tecnicismo” estético analógico ou digitalizado da máquina, a arte-do filme tem se distanciado cada vez mais de uma condição técnica vital já em curso no terceiro milênio: o aperfeiçoamento cada vez maior da imagem digital.

Enquanto isso, no plano especificamente construtivo de um novo status para a “imagem” televisiva, existiria premência por parte desta em intensificar uma espécie de autonomia do seu próprio modus, embora se sabendo da sua força enquanto meio (“o meio é a mensagem” – McLuhan) e, por extensão, do cotidiano social e político em que ela, tv, está verdadeiramente inserida. Até porque, o telespectador já absorveu quase totalmente o rito existencialista, até então usado/adotado pelo veículo.

Quanto ao aspecto relativamente técnico e linguístico da tv, o também adepto da “telinha” já compreendeu suas sutilezas e diferenças em razão do cinema, que tem no espaço cênico um dado fundamental no seu processo narrativo . A televisão vem explorando menos essa noção do “amplo espacejamento” na composição do seu discurso visual, principalmente quando nele não há relevância para uma narrativa dramática. Isto ocorre devido ao rigor cartesiano imposto à narrativa pelo vetor horizontal-vertical de tempo-espaço. Vetor normalmente dimensionado pela câmera e caracterizado pelos planos na construção desse mesmo discurso narrativo e, no caso do cinema, por sua vez mais liberal e pessoal enquanto obra construída, pronta e acabada.

“O filme tem se mostrado cada vez mais apto para as transformações que vão além daquelas condicionadas pela câmera.” Porquanto, (...) “o absoluto realismo da imagem cinematográfica é uma ilusão humana.” – Stan Brakhage.

ALEX SANTOS – Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br



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