O diretor sueco Ingmar Bergman primava pela imagem
Em sala de aula, na UFPB,
um aluno me fez a seguinte indagação: “Professor, já vi grande parte de seus
filmes. Inclusive, o mais recente, “Antomarchi”. Uma coisa que eu tenho
observado é a quase inexistência de falas dos personagens. Isso é proposital?”
Respondi, então,
historiando os fatos. Mesmo antes de o Cinema aprender a “falar”, já houve quem
condenasse o som como um recurso de leitura cinematográfica. Para os mais
radicais da arte em celuloide, à época dos anos dez/vinte do século passado, o
cinema foi criado para valorizar mais a imagem. Simplesmente a imagem, e só a
esta. Sobre esse aspecto, tenho lá minhas convicções não tão radicais, mas,
sempre tenho estimado mais pela imagem. Jamais fui contra, por exemplo, aos
“falatórios cênicos” do teatro ou dos filmes de Wood Allen... Acredito, sim, na
força de uma imagem bem construída. Não como óbice à inteligência do espectador,
mas como instrumento de reflexão e de entendimento ao que é exposto pelo
discurso cinematográfico.
Com relação aos
primórdios da Sétima Arte, o embargo terá sido grande, em relação ao som,
fazendo com que algumas Companhias de Cinema temessem a iminente estreia do filme
sonoro, que só chegaria com “O Cantor de Jazz”, em 1927.
Não sem razão que Chaplin
terá sido um desses contestadores da época, o que fica bem caracterizado em uma
de suas obras, “Luzes da Cidade”. Logo na abertura do filme o vagabundo
Carlitos dorme nos braços de uma estátua localizada numa praça pública, encoberta
por amplo pano branco, que deverá ser inaugurada no dia seguinte. O som
discursivo da autoridade durante o evento é algo deveras grotesco: apenas um
cacarejar ridículo de palavras, sob a pantomima do genial Carlitos. Desse modo,
Chaplin expressava o seu agravo ao novo “cinema falado”, sendo futuramente por
ele vencido...
Esta semana, lendo
novamente sobre ele deparei-me com uma expressão do grande cineasta, em que
afirma em bons decibéis: “O som aniquila a beleza da Imagem!”. Diante disso,
pude ratificar alguns posicionamentos teóricos, que venho defendendo havia
muito. Um deles, o que diz respeito à importância de um belo discurso
cinematográfico, sem excessos de “palavrórios” e rebuscamentos de linguagem. Na
maioria das vezes atropeladores da imagem, minimizando sua real significação e
importância como instrumento maior, que foi e será sempre, na narrativa.
O “diálogo mudo” entre
personagens, em discurso cinematográfico a ser bem construído, terá sido um
recurso de construção narrativa dos mais significantes à compreensão do
espectador. Ele possibilita a este interagir na cena, também, criando
significados próprios enquanto partícipe do momento do filme, a partir do
“diálogo silencioso” dos personagens. E isto está presente, sempre, em filmes da
categoria de “Os Brutos Também Amam” (considerado o primeiro “western
psicológico”), “Matar ou Morrer”, outro clássico, “Doutor Jivago”, nas obras de
Bergman e tantos outros.
Não que se tenha a
pretensão de sermos iguais a todos esses gênios do cinema; mas, imitá-los
naquilo que o bom cineasta tem de melhor...
Em verdade, hoje mais do
que antes, a pirotecnia do som e da imagem advinda com sua digitalização, já
não nos permite uma reflexão virtual e interativa com as imagens projetadas. Veja-se,
por exemplo, os suspenses de Hitchcock. A utilização de timbres exagerados na
maioria dos filmes do gênero (não hitchcockianos) tirou a expectativa real do
verdadeiro suspense. Esse, ao meu entender, o grande óbice em detrimento de um
cinema visualmente significante, mágico e envolvente. Não entendo, ainda assim,
a inoperância do som no cinema, como entendia o genial Chaplin, mas que esse
som jamais deva
sobrepujar a imagem.
sobrepujar a imagem.
Resuma-se, assim, a questão toda no que afirmou Fellini: “Cinema é luz!”. E luz... é imagem!
ALEX SANTOS é Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor da UFPB e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br