terça-feira, 2 de julho de 2013

ANCO Márcio: Uma “arribação” a desfalcar também o cinema

Cena de "Arribação" de Alex Santos, com Anco Márcio e Luiza Lacet
Eu o conheci no palco do Teatro Santa Roza. Ele encenava o eloquente monólogo “O Diário de um Louco”, de Nicolai Gogol. Sua mise en scène me  impressionou, justamente quando buscava alguém para representar um sertanejo fugindo da seca com a família, em “Arribação”. Um de meus primeiros filmes, justamente no final dos anos sessenta. Nessa época, já afiliado à Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba (ACCP), sob o comando do amigo Barretinho, eu integrava o cast da Rádio Correio, recém inaugurada no Ponto de Cem Reis. Fazia locução e apresentava os programas Curta-Metragem, diário, e Cine-Projeção, este aos domingos.
Disse-lhe: – Anco Márcio, gostaria que interpretasse este personagem. Aí mostrei-lhe o script, dizendo que a resposta poderia ser dada depois. De início Anco relutou um pouco, alegando que tinha sido recentemente rejeitado pelo George Jonas, para interpretar no cinema personagem em “A Compadecida” (1969), sob alegação do diretor de que ele não tinha perfil de sertanejo.
Mas, algo me dizia que Anco aceitaria agora o personagem, porque meu olhar não me confirmava o que o produtor boliviano naturalizado brasileiro dissera, taxando-o de “tipo urbano” e impróprio para o papel criado pelo autor Ariano  Suassuna.
Dito e feito! Ninguém terá conseguido postura melhor nas cenas de “Arribação” que aquele versátil ator paraibano... A rigor, nunca se tinha visto casamento mais perfeito de flagelados numa paisagem do semiárido, quando sepulta o seu próprio filho na região devastada pela seca, interior da Paraíba. Ao lado da atriz também de teatro Luíza Lacet, uma conterrânea nossa, provamos que não é só necessário olhar, na escolha de um ator, mas vê-lo por dentro. Vê-lo bem.
A região do curimataú – Tacima, Araruna e Pedra da Boca – foi o nosso cenário para as filmagens de “Arribação”. À época, uma produção em preto e branco, realizada com uma câmera de 16mm, emprestada pelo próprio Barretinho da ACCP, cuja saga houve de ser contada também em texto por Machado Bitencourt, em outro filme nosso – “Cinema Inacabado”.  
Nos últimos tempos, minhas ligações com Anco se restringiram simplesmente ao seu site “www.ancomarcio.com” (Romance da Cidade), em que assinava coluna semanal. Agora, fomos surpreendidos com o seu prematuro falecimento, deixando mais pobre a dramaturgia, o rádio e o jornalismo paraibanos.

Que descanse em paz, amigo Anco! 

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