sábado, 2 de março de 2013

Cinema: por que não tutelá-lo?


  Sala de cinema: ambiente sagrado do sonho 
Aos olhos do mundo, pouco importa se hollywood não pratique, como no Brasil, o cinema independente como meta exclusiva de produção. Importa muito menos ainda se esta é uma das características básicas do cinema europeu, como um todo, não por uma questão só pecuniária, mas culturalmente ideológica. Contudo, duvidaria muito que tais cinematografias não devam ter uma tutela governamental. Aliás, este é também um ponto em que está implícita a tão preconizada Soberania Nacional... Cada cinema tem o perfil de produção que lhe é mais pertinente, social, cultural, economicamente.
Num país em que grande parte do empresariado continua desdenhando a cultura, sobretudo o cinema, negando-se a mergulhar também na sua importância enquanto produto de mercado, nada mais justo do que, pelo menos, exigir-se o direito de tutela do governo brasileiro. Não confundir tutela com “apadrinhamento”.
Tutela, sim, mesmo para aquele tipo de empresa que ainda oscila entre o comércio e o purismo na arte, que tem caracterizado bastante o chamado “cinema independente”. Conceito este variado e que tem para muitos o significado de uma exclusividade apenas dos cineastas “amadores” e sem nenhum compromisso com o mercado exibidor de filmes. O que, convenhamos, isso jamais representaria a verdade em nenhuma hipótese.
A rigor, não deveríamos então somar os dividendos positivos de uma experiência que, a priori, vem sendo considerada “amadorística”, mas que tem gerado durante todos esses anos qualidade e benefícios à própria arte? Pelo que se entende – sobre tudo e sobre todos –, o dever de tutela continua a ser do Estado; por extensão, não in dubio, deverá ser justa e formalmente também da inciativa privada e do próprio cidadão, a partir da sua realidade criativa, cultural e artística.
Entediosa sempre foi a discussão sobre um apoio institucional aos chamados cineastas “independentes” e a reserva de mercado que os possa absorver. E não só para esses realizadores, mas para o Cinema Brasileiro de um modo geral. Essa lengalenga tem se arrastado por décadas, causando certa estranheza, sobretudo pela inadequação do termo “tutela”, que se entende como sendo um encargo, uma autoridade conferida a alguém, no caso o próprio governo, para administrar formal/constitucionalmente os bens nacionais. E pelo que sempre entendi a vida toda, Cultura e Arte de um povo são bens nacionais. Portanto...
Contudo, a questão levanta um ponto importante, quando defende uma espécie de descompromisso quase total do governo com o chamado “cinema independente” ou outra forma de arte. Estado que tem endeusado a função de outras mídias como único e possível canal de veiculação cinematográfica e concluindo por excluir intencionalmente a verdadeira e natural característica da arte-do-filme: a de projetar e fomentar ilusões através de uma atmosfera própria, física e verdadeiramente compatível, apenas com os equipamentos necessários em uma sala escura de cinema.
Ainda bem que o atual governo brasileiro, através da Ancine, atentou para essa necessidade e optou pela criação de salas de cinema fora dos grandes centros, mediante Instrução Normativa nesse sentido. Retornamos, enfim, à verdadeira magia do cinema; com ou sem a abominável pipoca...
 
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

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