domingo, 18 de agosto de 2013

Festival gelado, com pouco calor do Nordeste

 "Tatuagem" de Hilton Lacerda (foto) Melhor Filme

Terminou nesse sábado (17), embaixo de chuva e ameaças de neve, a quadragésima primeira edição do Festival de Cinema Brasileiro e Latino da Cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Não terá sido surpresa alguma o fato da quase inexistência de produções do Nordeste no festival. Salvo, de um único longa, “Tatuagem” de Hilton Lacerda, do vizinho Estado de Pernambuco. Mais uma vez a história se repete, quando produções selecionadas são mais do eixo Rio-São Paulo, onde os recursos “globalizados” existem mais gordos.
Afora esse aspecto, e da justa e bem intencionada Mostra Gaúcha deste ano, sempre coube ao Festival de Gramado um glamour todo especial. Glamour somente sentido por quem esteve participando alguma vez do importante certame. O Festival de Cinema é uma realização do Ministério da Cultura e da Prefeitura de Gramado, através de sua Secretaria de Estado da Cultura.
Quando lá estive, testemunhei a euforia e o apreço de toda cidade para com o seu mais importante acontecimento cinematográfico. Expectativa somente vista com a proximidade e os preparativos ao também cultural e glamoroso “Natal Luz”. Especial festa, que tem levado todos anos um considerável inúmero turistas às serras gaúchas.
No caso específico do Festival de Gramado deste ano, importantes homenagens foram prestadas. A começar pela coletiva que celebrou os 30 anos do filme de Hermano Penna "Sargento Getúlio". O ato contou inclusive com a presença do ator Lima Duarte, que fez questão de lembrar sua premiação trinta anos atrás, pelo filme no mesmo festival. O diretor também lembrou que nem tudo foi positivo na sua realização, lamentando os cinco anos que a Embrafilme, à época, se recusou a comprar a ideia do longa para sua distribuição.
Este foi, igualmente, o ponto da grande questão colocada este ano nos encontros e debates do festival. Como sempre, os reclamos não são poucos, quando se tratam de políticas públicas para a produção de filmes no país. De uma coisa temos certeza, mais ainda nos dias de hoje: Fazer Cinema não é, apenas, “brincar de vídeo”. Importante o que se tem feito sob a égide do aprendizado, contudo, ainda é muito pouco para um cinema que sempre careceu de uma, sequer, mínima indústria. E essa já provou que é rentável, inclusive em países onde o nível de vida, como é sabido, deixa muito a desejar. Como a Índia, por exemplo.
Cinema, no seu sentido clássico, maior, é continuidade... O que é do nosso empresariado brasileiro? Pouco ou quase nada eles têm contribuído, principalmente no Nordeste. Da parte dos governos existem esbanjamentos (id est) localizados na contribuição de uma simples experiência videográfica, através de programas e bônus institucionais a se perder no tempo.  
Existem as instituições de classe, mas pouco ou quase nada elas conseguem fazer. A Associação Brasileira de Documentaristas, que foi igualmente lembrada durante o evento de Gramado teve do presidente Jaime Lerner o destaque, no sentido e importância das entidades de cinema, afirmando: "Esse reconhecimento vem em um momento de profundas mudanças e transições na tecnologia e na política cinematográfica. Seria muito bom se o governo se desse conta de tudo. Enquanto isso ainda não acontece elas vão continuar necessárias, sim!".

Quiçá, seja esse o grave problema da produção cinematográfica brasileira, o do discurso do conformismo. O mais grave é constatar que, nessa orbe cinematográfica nordestina de ser, a questão da produção em cinema é ancestral, corriqueira. Não por falta de capacidade, mas de competência empresarial mesmo.

ALEX SANTOS é Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yaoo.com.vr / contato@asprod.com.br  

Um comentário:

Unknown disse...

Belo artigo meu cineasta preferido.