"Tatuagem" de Hilton Lacerda (foto) Melhor Filme
Terminou nesse sábado (17), embaixo de chuva e
ameaças de neve, a quadragésima primeira edição do Festival de Cinema
Brasileiro e Latino da Cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Não terá sido
surpresa alguma o fato da quase inexistência de produções do Nordeste no
festival. Salvo, de um único longa, “Tatuagem” de Hilton
Lacerda, do vizinho Estado de Pernambuco. Mais uma vez a história se repete,
quando produções selecionadas são mais do eixo Rio-São Paulo, onde os recursos “globalizados”
existem mais gordos.
Afora esse aspecto, e da
justa e bem intencionada Mostra Gaúcha deste ano, sempre coube ao Festival de
Gramado um glamour todo especial. Glamour somente sentido por quem esteve
participando alguma vez do importante certame. O Festival
de Cinema é uma realização do Ministério da Cultura e da Prefeitura de Gramado,
através de sua Secretaria de Estado da Cultura.
Quando lá estive,
testemunhei a euforia e o apreço de toda cidade para com o seu mais importante
acontecimento cinematográfico. Expectativa somente vista com a proximidade e os
preparativos ao também cultural e glamoroso “Natal Luz”. Especial festa, que
tem levado todos anos um considerável inúmero turistas às serras gaúchas.
No caso específico do
Festival de Gramado deste ano, importantes homenagens foram prestadas. A
começar pela coletiva que celebrou os 30 anos do filme de Hermano
Penna "Sargento Getúlio". O ato contou inclusive com a presença do
ator Lima Duarte, que fez questão de lembrar sua premiação trinta anos atrás,
pelo filme no mesmo festival. O diretor também
lembrou que nem tudo foi positivo na sua realização, lamentando os cinco anos
que a Embrafilme, à época, se recusou a comprar a ideia do longa para sua distribuição.
Este foi, igualmente, o ponto da grande questão
colocada este ano nos encontros e debates do festival. Como sempre, os reclamos
não são poucos, quando se tratam de políticas públicas para a produção de
filmes no país. De uma coisa temos certeza, mais ainda nos dias de hoje: Fazer
Cinema não é, apenas, “brincar de vídeo”. Importante o que se tem feito sob a
égide do aprendizado, contudo, ainda é muito pouco para um cinema que sempre
careceu de uma, sequer, mínima indústria. E essa já provou que é rentável,
inclusive em países onde o nível de vida, como é sabido, deixa muito a desejar.
Como a Índia, por exemplo.
Cinema, no
seu sentido clássico, maior, é continuidade... O que é do nosso empresariado
brasileiro? Pouco ou quase nada eles têm contribuído, principalmente no
Nordeste. Da parte dos governos existem esbanjamentos (“id est”) localizados na contribuição de uma
simples experiência videográfica, através de programas e bônus institucionais a
se perder no tempo.
Existem as
instituições de classe, mas pouco ou quase nada elas conseguem fazer. A Associação
Brasileira de Documentaristas, que foi igualmente lembrada durante o evento de
Gramado teve do presidente Jaime Lerner o destaque, no sentido e importância
das entidades de cinema, afirmando: "Esse reconhecimento vem em um momento
de profundas mudanças e transições na tecnologia e na política cinematográfica.
Seria muito bom se o governo se desse conta de tudo. Enquanto isso ainda não
acontece elas vão continuar necessárias, sim!".
Quiçá, seja
esse o grave problema da produção cinematográfica brasileira, o do discurso do
conformismo. O mais grave é constatar que, nessa orbe cinematográfica nordestina
de ser, a questão da produção em cinema é ancestral, corriqueira. Não por falta
de capacidade, mas de competência empresarial mesmo.
ALEX SANTOS é Vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yaoo.com.vr / contato@asprod.com.br
Um comentário:
Belo artigo meu cineasta preferido.
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