Disse-lhe, então: A televisão, ao contrário do cinema, funciona na contramão do seguinte entendimento: Subordinando o representado à representação. E expliquei: Em sendo mediática, próprio da sua natureza, a tv muitas vezes contenta-se com um tipo de imagem “improvisada”, de momento, já que a realidade (sua “matéria-prima”) segue seu curso normal e não espera. Não menos porque o tempo televisivo, que está sempre prisioneiro do tempo real, impõe ao próprio veículo as férreas leis de um tempo sempre presente, verdadeiramente instantâneo, o que é uma característica da mídia eletrônica.
Numa compreensão cinematográfica, sobretudo no estudo da sua gramática, existe uma máxima de que “o Cinema subordina o Representado (realidade/fato) à Representação (imagem construída)”. Fica claro este entendimento, quando percebemos a complexidade da narração fílmica, em colocar novos parâmetros psicológicos de leitura e de compreensão aos fatos já ocorridos, dando-lhes uma feição de Arte. Quando muito, a televisão poderia modificar o tempo expressivo e psicológico, porém com mais dificuldade que o cinema. Daí a razão pela qual não se deve entender televisão como arte.
Um outro dado configuraria melhor a originalidade temporal televisiva: o sistema imediato das transmissões abertas e diretas, consubstanciando hoje bem esse mister, fazendo do tempo real a base de todo o raciocínio aqui defendido. A linguagem empregada pela tv, sempre, houve de ser a de um programa em “real time”, embora gravado de forma e intenção muitas vezes meramente “cinematográfica”. Veja-se o caso das Telenovelas, dos Seriados...
O Telecine é um bom exemplo, com sua linguagem própria, televisiva, ou ainda com o tempo de um filme feito para cinema; com linguagem também específica, mas para ser apresentado na mídia eletrônica, como os Seriados, por exemplo. Na realidade, seriam dois tempos diferentes: o tempo real, usado pela tv e para ela mesma, e um outro tempo, o “não-real”, representativo (cinematográfico), mas para ser igualmente usado e adaptado aos interesses da “telinha”.
Existiriam outras classificações para o real entendimento desse problema. Mas, a rigor, acreditamos ser a “relação temporal” entre a ação e sua possível transmissão, através de programa aberto e direto, a que se adequaria mais exatamente à linguagem televisiva. Razão que nos leva não mais creditar bônus e credenciais ao Documentário como Cinema, porque este deve ser entretenimento e não apenas um registro de imagens informativas da nossa “realidade”, característica daquele, simplesmente.
O acompanhamento de um fato social pela reportagem de televisão, gravado (e não filmado) enquanto ele acontece – “ao vivo” –, uma partida de futebol transmitida no instante em que se joga, por exemplo, seriam ações relevantes dentro desta nossa discussão, porquanto são consideradas “ações reais”, temporais; jamais de natureza ficcional, esta, que é própria do cinema.
ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema, Professor e Cineasta.
E-mails: alexjpb@yhaoo.com.br / contato@asprod.com.br
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