Mesmo antes de o Cinema aprender a “falar”, já houve quem condenasse o som como um recurso de leitura cinematográfica. Para os mais radicais da arte em celulóide, à época dos anos dez/vinte do século passado, o cinema foi criado para valorizar a imagem. Simplesmente a imagem, e só a esta. O embargo terá sido grande, fazendo com que algumas Companhias de Hollywood temessem a iminente estréia do som, que só chegaria com “O Cantor de Jazz”, em 1927.
Não sem razão que Chaplin terá sido um desses contestadores da época, o que fica bem caracterizado em um de seus filmes: “Luzes da Cidade”. Logo na abertura o vagabundo Carlitos dorme nos braços de uma estátua localizada num logradouro público, que deverá ser inaugurado no dia seguinte. O som discursivo da então autoridade sobre o evento é algo deveras grotesco: apenas um cacarejar ridículo de palavras, sob a pantomima do genial Carlitos. Desse modo, Chaplim expressava o seu agravo ao novo “cinema falado”, sendo por ele vencido anos depois.
Pois bem. Esta semana me deparei com uma expressão do grande cineasta, em que afirma alto e bom som: “O som aniquila a beleza da Imagem!”. Diante disso, pude ratificar alguns posicionamentos teóricos, que venho defendendo havia muito. Um deles, o que diz respeito à importância de um belo discurso cinematográfico, sem excessos de “palavrório” e rebuscamento de linguagem. Na maioria das vezes atropeladores da imagem, minimizando sua real significação e importância como instrumento maior, que foi e será sempre, na narrativa.
O “diálogo mudo” entre personagens, em discurso cinematográfico bem construído, terá sido um recurso de construção narrativa dos mais significantes à compreensão do espectador, possibilitando a este interagir na cena, também, criando significados próprios enquanto partícipe do momento do filme, a partir do “diálogo silencioso” dos personagens. E isto está presente, sempre, em filmes da categoria de “Os Brutos Também Amam” (considerado o primeiro “western psicológico” do gênero), “Matar ou Morrer”, “Doutor Jivago”, e tantos outros belos exemplos...
Em verdade, hoje mais do que antes, a pirotecnia do som advinda com a evolução tecnológica atual, já não nos permite uma reflexão virtual e interativa com as imagens projetadas. Esse, ao meu entender, o grande óbice em detrimento de um cinema visualmente significante, mágico, envolvente. Não entendo, ainda assim, a inoperância total do som no cinema, como queria o genial Chaplin, mas que esse som jamais deva sobrepujar a imagem... E, como dizia Felinni: “Cinema é luz!”.
ALEX SANTOS – Membro da Academia Paraibana de Cinema,
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