Ao longo de nossa convivência com
o cinema, ele nos tem dado motivos para alguns instantes de criativas
reflexões. Muitas delas comparações prazerosamente lúdicas. São imagens de
significados às vezes imperceptíveis ao espectador comum, para nós, no entanto,
cheias de simbolismos prementes de interpretações. Desse modo, fazendo-nos
pensar diferentemente sobre elas, na busca daquele algo mais que só a
arte-do-filme proporciona.
Em um desses instantes, lembro
bem, lá pelos idos de l982, tendo assistido ao lançamento de um filme de Steven
Spielberg, naquela época colunista e editor do Segundo Caderno do Jornal O Norte,
escrevi sobre uma das sequências de “ET” que julguei simbolicamente semelhante à
de outro filme que havia visto quando criança, vinte oito anos antes, dirigido
pelo húngaro naturalizado espanhol Ladislao Vajda, “Marcelino, pan y vino” (1954). Fato esse que
me fora indagado por um amigo, também professor da UFPB, em breve encontro que
tivemos esta semana na Adufpb.
As sequências lembradas são as de Marcelino (Pablito Calvo) aproximando-se
da imagem do Cristo crucificado no interior da capela (foto), inicialmente temeroso,
depois maravilhado, e a cena do filme de Spielberg, quando o garoto em seu
próprio quarto tem o primeiro contato com um extraterrestre. Parece existir em
ambas as construções, se assim podemos afirmar, uma semiótica perfeita, um significado
único. Existe, alí, algo poderoso demais aos olhos das crianças. Singular e emblemático
à importância de ambos os filmes.
Em “Marcelino” e no “ET”, preservados os simbolismos, o Sagrado no filme
de Vajda e o Científico em Spielber, existe justamente a similitude entre os
dois momentos sequenciais. Não obstante tais semelhanças dos sentidos, simbolicamente
construídos, no cinema esses mesmos sentidos podem ser “lidos” e encontrados em
outros filmes. Lembremo-nos, então, de “8 1/2” (1963) de Federico
Fellini e “Menino de Engenho” (1969/70) de Walter Lima
Jr., do clássico de Zé Lins. Filmes de produções
de uma mesma década e onde encontraremos
outro importante motivo de comparação. As estripulias da prostituta Saraguina (felliniana)
e as de Zefa Cajá, do romance zeliniano.
A rigor, semelhanças, signos, enriquecimento dramático, tudo conta na
construção de um bom filme. Em Arte, sobretudo em Cinema, as boas performances
existem para serem lembradas, copiadas, ampliadas e até melhoradas. Nada
contra...
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
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