Cena de "A Invenção de Hugo Cabret" de Scorsese
Dias atrás, no Cine Mirabeau, em companhia de minha família, assisti a “O Artista”, sobre o qual já fiz algumas considerações aqui mesmo no blog. Imediatamente procurei ver o outro filme também considerado importante, na entrega do Oscar deste ano. Alguma coisa me dizia ser aqueloutro mais importante que o filme de Michel Hazanavicius, que acabara de ver. E não deu outra...
Extasiei-me com “A Invenção de Hugo Cabret”, obra fiel ao reconstituir uma cenografia de época, que somente um diretor como Martin Scorsese poderia conceber. Em minha poltrona, em casa, confortavelmente ao lado da esposa Lili, foram 126 minutos de prazer visual (em blu-ray) e emocional, degustando um bom vinho (rouge) francês e vendo uma Paris do início do século passado e que trazia toda a magia que o próprio cinema houve de produzir até hoje.
Entre os dois filmes, uma clara diferença no tratamento dado ao Cinema enquanto obra de referência daquela época. No filme do Michel, a interpretação caricata do personagem principal George Valentin, vivido pelo francês Jean Dujardin (Oscar de Melhor Ator de 2012), nos traz a sensação de uma reconstituição técnica de atuação, meramente mímica e teatral, em verdade, quando o cinema de então exigia. Até pela inexistência de “fala” e de outros requisitos de som. São ali reverenciados os astros e estrelas da época. Suas idiossincrasias, caprichos, crises nervosas e eloquências muito típicas do glamour de Hollywood. Tudo bem...
Em “Hugo”, não! É o Cinema que recebe toda a reverência e nostalgia verdadeiras, através de seus Elementos de Composição Dramática mais significativos: o Costume, a Cenografia, a Narrativa sublimada por uma ação tipicamente linear, convincente a um desfecho que deve ser próprio da arte-do-filme. Acrescente-se a tudo isso a Fotografia. Quiçá, uma das composições mais bem trabalhadas que tive oportunidade de ver, pela “cor ferrugem” que comumente retrata o envelhecimento das coisas resgatadas de épocas passadas. A cor trabalhada, em não sendo o usual preto&branco, tende a dizer bastante e verdadeiramente em um cinema de reconstituição de época, fatos e pessoas.
O filme de Scorsese conta estória de um órfão vivendo uma vida secreta nas entranhas de uma estação de trem em Paris. Hugo Cabret é interpretado por um garoto de nome de borboleta - Asa Butterfield, cuja atuação nos desperta a maior atenção. Para descobrir a chave de um mistério cultuado pelo seu pai, já falecido, o garoto recebe ajuda da neta do mal humorado dono de uma loja de brinquedos, vivido pelo excelente ator Ben Kingsley (“Gandy”). Este, já em idade avançada, guarda as frustrações de um grande sonho e um dos maiores segredos da vida parisiense do próprio cinema: a existência real do próprio Georges Méliès. Um dos pioneiros do Cinema Frances e mundial.
Simbólica e cinematograficamente, a marcação do espaço-tempo narrativo de “A Invenção de Hugo Cabret” tem como referência visual as grandes engrenagens dos relógios instalados na gare de Paris. Engrenagens das quais faz parte, realmente, a existência guardiã do próprio garoto Cabret. Trata-se de um filme encantador e de importância singular para a História do Cinema de todos os tempos.
ALEX SANTOS – Membro da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
quinta-feira, 15 de março de 2012
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