quinta-feira, 9 de julho de 2009

O documentário jamais se esgota em si mesmo

Por mais consciência crítica que possamos ter, durante a realização de um documentário, mesmo assim, há de nos faltar a clareza de que, por si só, aquele trabalho realmente esteja completo, acabado. É da própria natureza do filme (ou vídeo) documental esse tipo de indefinição, porquanto sua feitura, sua composição “não-dramática”, sem parâmetros narrativos pré-definidos, indagará sempre por conclusões mais precisas sobre o fato abordado. O que, ao contrário, descaracterizaria o "feito documental".

Ao bom documentarista, é mister sempre lembrar, deve existir a consciência de que o mais importante não é o assunto abordado, seja ele qual seja, mas, seguramente, a forma, a maneira de sua abordagem. Acrescentaria ainda a esse gravame, o espaço/tempo em que esteja sendo realizado, porque o documentário é um registro temporal. O tema, o fato, esses jamais se esgotam, exigindo sempre novas interpretações. Difere da Dramaturgia, por ser esta atemporal.

A questão da “temporalidade documental”, que é fato, é deveras intrínseca à razão própria de ser e de “animus” de quem pretende realizar um trabalho assim. Essa conclusão reafirmou-se em mim, recentemente, quando fui interpelado por minha filha Alexandra, sobre por que razão jamais conclui o documentário “Arribação”. Filme em 16mm e preto & branco, uma das minhas primeiras realizações, no final dos anos sessenta, que ainda continua em “copião” e inacabada...

Esta, quiçá, seja a razão maior pela qual jamais enxergue o Documentário, seja ele de curta ou longa-metragem, como Cinema, verdadeiramente. Há quem estranhe esta afirmação, mas o fato é que Cinema é Diversão. Um documentário tem um enfoque diferente, na maioria dos casos privilegiando e muito o depoimento direto de pessoas, fragmentariamente, o que se assemelha e muito à linguagem da televisão. E isto se confirma a partir da chegada do Vídeo Tape, nos anos cinqüenta/sessenta.

Existe coisa mais maçante do que assistir a um documentário numa sala de Cinema, com suposto e chato jeito de Cinema, com ou sem pipoca, durante mais de duas horas de repetidas entrevistas e depoimentos intermináveis? Continuo afirmando que Cinema é diversão, entretenimento e que alguém me prove sair menos chateado do cinema ao ver (não assistir) a tantas horas de planos seqüenciais e falações, que não acabam nunca, muitas vezes para conclusões propositivas, que deveriam ser muito mais simples...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br

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