segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Por um acadêmico duplamente imortal!

    Patrono Severino Alexandre - Cadeira 5 da APC 
 
Todo 17 de setembro é uma data emocionalmente representativa para mim. Ainda mais, a dessa quarta-feira, quando nela celebramos os cem anos de nascimento de um dos pioneiros do cinema paraibano.
Patrono da Cadeira 05 da Academia Paraibana de Cinema - à qual hoje tenho acento, honrosamente, pelo meu pai -, SEVERINO ALEXANDRE DOS SANTOS teve sua vida toda dedicada aos meandros da cinematografia. Não terá sido atoa que, aos treze anos de idade já empunhava a manivela de uma câmera projetora, em sessões habituais de um cinema que ainda não tinha aprendido a “falar” e a se mostrar como gente grande.
Natural da região do brejo paraibano, oriundo da família Gonçalves de Alagoa Grande, na Paraíba, “Seu” Alexandre do Cinema (conhecido desde cedo, assim, na cidade de Santa Rita, onde se casou, construiu família e viveu sempre) acompanhou de perto a evolução do cinema, edificando suas próprias salas de projeção. Inclusive, usando do próprio conhecimento artesanal que dispunha na construção das “lanternas mágicas” (à carvão), que iluminavam as sessões de seus cinemas, durante anos.
Recentemente, a Academia Paraibana de Cinema rendeu-lhe tributo, publicando pioneiramente um livro, ressaltando passagens de sua vida e de suas experiências como exibidor não apenas em Santa Rita, mas também no distrito de Várzea Nova, onde construiu salas de projeção, e cidades como Mari, Pilar e Bayeux.
As relações comerciais de meu pai com filmes, mediadas por mim com os empresários Luciano Wanderlei (Cia. Exibidora do Cine Municipal), Sr. Valdemar da Cia. Cinemas Reunidos (Plaza), entre outros do setor, seus concorrentes, sempre foi do melhor quilate. Deles, inclusive, recebíamos apoio à programação de nossos cinemas, sem restrição de mercado. Não terá sido em vão a marca de “Seu” Alexandre na heroica trajetória da nossa cinematografia.
Que os écrans dos nossos ruidosos projetores do passado, que tanto contribuíram com sua cadência para as memórias e fantasias de tantos, que ainda hoje desfrutam de um “sonho iluminado”, continuem projetando, sempre, as imagens dessa saga mágica e aventura virtual através dos tempos. E que todo esse feito deva ser imortalizado na eterna guarda da nossa tão querida Academia Paraibana de Cinema. 
Pelo que foste, construíste, pela boa marca que deixaste, descansa em paz, meu Pai!
 
ALEX SANTOS, vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta - E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Parem a sessão! O filme está apreendido.

    Cine São João, em Santa Rita, sede do Cineclube Hitchcock.  
As reuniões do Cineclube Hitchcock funcionavam às sextas-feiras, pela manhã, na parte de trás do Cine São João, na cidade de Santa Rita, numa sala de primeiro andar, que havíamos criado. Era uma maneira de se discutir artes naqueles tempos de chumbo, mesmo sob desconfiança do meu pai.
Filmes de temática não provocativa ao regime, de conotação não política como “Morangos Silvestres”, do cineasta sueco Ingmar Bergman, ou mesmo de vanguarda, do francês Godard, tinham prioridade e podiam ser exibidos sem nenhum problema, apenas sob o registro prévio na Polícia Federal.
A partir de então, todos os filmes programados do nosso cineclube e dos cinemas da cidade e de todo o país tinham que passar pelo crivo da censura, para que os federais dissessem se podiam ou não ser mostrados ao público. Uma prática autoritária sempre repudiada, inclusive pelo meu pai, enquanto empresário exibidor, que sempre me advertia a não criar problemas junto à Censura, com o cineclube.
Mesmo assim, tentando burlar o sistema nós do cineclube resolvemos exibir, às escondidas, o filme de Glauber Rocha “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Nada de exposição de cartazes e fotografias do filme na sala do cinema, nenhuma divulgação prévia pelo jornalzinho da paróquia; nada. Tudo seria feito sem que ninguém soubesse da exibição do filme em questão, a não ser os integrantes do cineclube, que combinaram em reunião sigilo absoluto.
Era uma manhã ensolarada de domingo. Estávamos todos eufóricos e já acomodados na sala de projeção do cine São João. Nem bem havia iniciado a sessão, quando entram de repente dois policiais federais de mandado em punho, como autênticos nazistas fardados e de dedo em riste foram gritando:
Parem a sessão!
Um dos tais, de aparência truculenta indagou furiosamente:
Quem é o responsável por isso aqui?
Eu tremi nas bases. Meu pai não estava presente e quem quer que fosse o responsável, a julgar pelos recentes ocorridos de prisão e arbitrariedades, naquele momento jamais se acusaria. Não era hora para atitudes heroicas.
Pois bem, o filme está confiscado. – Sentenciaram e foram logo subindo a escadaria, que dava acesso à cabine de projeção, onde estava o operador Zé Alonso, a quem entregaram o papel dizendo para comparecer dia seguinte à Polícia Federal, em João Pessoa. Depois, juntaram as latas do filme num saco, levando-o embora, para nossa grande decepção.
A tentativa cultural do grupo tinha fracassado. Ainda surpresos com o que acabávamos de testemunhar, ficava então uma grave indagação: Quem havia realmente denunciado aquele programa aos federais? Esta foi uma pergunta que sempre ficou sem resposta...
 
ALEX SANTOS é Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, jornalista e cineasta. E-mails: alexjpb@yahool.com.br / contato@asprod.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Um exibidor de cinema no aparte do historiador


Exibidor paraibano Severino do Cinema
Uma Academia na saga de um exibidor de cinema”. Com este título o historiador paraibano José Octávio de Arruda Mello assina o seu artigo, na edição mais recente da Revista “A Semana”. Um dos periódicos que bem representa os segmentos de política, economia e comportamento, na Paraíba.

Não terá sido para mim tão importante o seu relato sobre cinema, a exemplo de tantos outros registros feitos pelo autor, e que tenho sempre acompanhado, quando se reporta à História do nosso Estado. Mas, porque este diz respeito pessoalmente ao que escrevi, em recente plaqueta sobre o Patrono de minha Cadeira 5 da APC, o pioneiro exibidor de cinema, em Santa Rita, Severino Alexandre dos Santos. Publicação essa referendada pela nossa Academia Paraibana de Cinema.

Gentilmente, o historiador José Octávio faz referências elogiosas ao meu pai, como também à minha pessoa enquanto seu amigo de longas datas e integrante do Grupo José Honório Rodrigues, além de cinéfilo, professor e realizador cinematográfico. Transcreve dados do meu trabalho, relendo igualmente o texto nas suas entrelinhas... O que, para o próprio Zé Octávio, se coaduna perfeitamente com “a real filosofia do nosso Grupo”.

Com referência ao relato sobre a trajetória cinematográfica do patrono “Severino do Cinema”, considerado pioneiro entre os atuais ocupantes das cinquenta cadeiras da APC, o historiador paraibano vai mais além, quando afirma ser a publicação portadora de uma referência importante para a história do cinema na/da Paraíba. Sobretudo, por trazer o timbre da magna instituição, no Estado.

Contemporâneo de Walfredo Rodriguez, ainda nos tempos do cinema “mudo”, seu “Severino do Cinema” fez da Rua São Pedro Gonçalves, número 30, no Varadouro, ponto de presença constante na “Nordeste Filmes”. Uma empresa da família Rodriguez, que naquela época distribuía películas para alguns exibidores fora da Capital, a exemplo do Cine Independência, na cidade de Santa Rita, em que Severino iniciara como projecionista. Ficando ele assim conhecido na cidade e, anos depois como empresário exibidor, nos círculos profissionais da Cinematografia, dentro e fora da Paraíba.

Hoje, Severino do Cinema guarda o Selo da Perpetuidade. Honraria igualmente estendida àqueles que – tanto quanto ele - ainda fazem do “sonho em celuloide” a saga venturosa de suas vidas, em solo paraibano.
 
         Duplamente imortalizado, principalmente por mim, seu filho, que já o tinha na condição de IMORTAL havia muito.

 ALEX SANTOS - Professor,cineasta e Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.b  /  contato@asprod.com.br