segunda-feira, 20 de maio de 2013

À memória o que é de respeito



  Cineasta Machado Bitencourt
Circunscrever o nosso senso empreendedor e a saga dos muitos feitos cinematográficos até então realizados na Paraíba a um patamar limitado de mera apreciação retórica, em razão apenas de algumas instituições e nomes a elas eventualmente ligados, se nos parece não um bom preceito de resgate histórico da nossa tão soberana Cultura. Precisamos tratar o assunto no âmbito de um cinema total, sem fronteiras. Sobretudo parahybano, não apenas sob a ótica de uma arte meramente paroquial.
A rigor, a Arte não tem fronteiras...
Não muito raro e chega ser gritante ouvirem-se expressões xenófobas entre os que fazem cinema/vídeo na Capital e os videomakers do interior do Estado. A pendenga é antiga e não apenas se restringe, no caso de Campina Grande, se esta tem ou não um litoral, mas também em razão do próprio cinema ali realizado havia anos.
Aliás, essa questão não terá sido a primeira vez que vem à baila. Estende-se agora – pelo que nós da Academia Paraibana de Cinema tomamos conhecimento – em razão da transferência ou não do acervo Machado Bitencourt para a cidade em que o próprio Bitencourt produziu grande parte de suas realizações, tanto no segmento fotográfico como cine/videográfico.
Fato é que se comete mais uma vez a omissão às nossas raízes interioranas. Sobretudo filmográficas, quando se pretende desdenhar sua importância, criando expectativas sobre um cinema paraibano equivocadamente segmentado, ainda assim pulsante, mesmo no plano frágil da produção. Não obstante, entendido como marcante pelos que dele fazem parte com seriedade. Um cinema visto sob a égide do exercício incólume na sua singular criatividade.
Está lá, no nosso livro Cinema & Revisionismo (1982), de forma simples e clara a saga e os matizes de importância de um cinema que se fez grande, sempre grande. Também, até desceu a Serra da Borborema para dizer que existia. Um cinema até então ignorado pelos que só promoviam a cultura pessoense e de fora do Estado. Cinema, que fizemos questão de registrar e priorizar, quando das realizações dos primeiros anos da década de oitenta do Festival de Arte de Areia, que este ano retorna às alturas de uma civilização de vultos singulares e sobre os quais se inspirou.
E não terá sido este favor algum da nossa parte, em acolher a experiência “bitencourtiana”, mas o reconhecimento ao fato histórico, às tradições e à memórias da nossa arte fotográfica e cinematográfica; contraditando a tese de Kant, que sempre renegou a memória como algo remoto, acontecido, e que também para o historiador francês Lucien Febvre: “(...) se queres fazer história, vires resolutamente as costas ao passado e viva a vida. 
Viva-a plenamente”.
Mas, como fazer história renegando, omitindo ou desdenhando a nossa memória? Como mensurar ganhos e perdas, renegando deliberadamente os feitos que se conseguiu viver até o instante presente. Sempre, há de se buscar referências às atuais avaliações. E essas, quer se queira ou não, estão no passado!
  • ALEX SANTOS - Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema. 
  • E-mails: alexjpb@yahoo.com.br - contato@asprod.com.br 



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Errou, simplesmente deleta-se!

O  fotograma sempre foi a grande magia do cinema.                                                       
Com a arribada dos “luminares” da nossa filmografia para outras   plagas, convivi então com alguns de meus pares da Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba, início dos anos setenta, a saga venturosa do pensar criativo e do fazer Cinema. Experiência que se prolongaria por algum tempo, desde que o saudoso Barretinho esteve à frente da presidência da ACCP. E aqui vai uma homenagem especial ao amigo. Época rumorosa e prazerosa, porquanto, mais que uma simples realização imperava o “sonho”. Sonho de um cinema quase sempre inacabado. Ou, como diria Wills Leal, “cinema espiritual”, no seu monumental livro Cinema na/da Paraíba.
Estivera eu, então, atuando ainda no Sistema Correio (não o de hoje), numa espécie de dublê, entre homem de cinema – exibidor/realizador – e locutor de rádio, no qual comungava com o amigo, também radialista Moacir Barbosa, vindo das bandas de Natal/RN, as experiências de dois programas de cinema (Curta Metragem, diariamente, e Cine Projeção aos domingos) na recém-inaugurada emissora do Ponto de cem Réis.
Na UFPB, da qual já fazia parte, envolvido também estava com a extensão de um projeto iniciado com “Aruanda”, que seria o de apoiar o então feito de Linduarte Noronha com a criação de um órgão interno, que tivesse um compromisso, digamos, semiprofissional de apoio ao estudante da instituição superior de ensino e à comunidade de um modo geral. Criamos  o Nudoc; só agora retomando o que, anos depois, deveria ter assumido.
Mas, a questão aqui focada é a seguinte: Houve o tempo em que fazer cinema era puro e elementar “artesanato”. Tempo, espaço e ritmo configuravam parâmetros funcionais e formais rígidos da narrativa cinematográfica, a qual se media e montava através de simples fotograma. Errou no corte da tesoura, dançou!... Hoje, não, lidamos com infalíveis frames. Errou, deleta-se e inicia-se tudo de novo. 
Bom demais!...
Os recursos digitais e seus diáfanos, que facilitam a vida e o feito de qualquer videomaker, que se proponha a fazer audiovisual, menos Cinema, tem feito de cada um “cineasta”. Tanto melhor... Não atoa, a proliferação de vídeos nesse mundo de Deus, na maioria dos casos sem nenhum conteúdo formal a ser mostrado, próprio à reflexão da verdadeira Obra de Arte.
 
ALEX SANTOS é vice-presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.