Circunscrever
o nosso senso empreendedor e a saga dos muitos feitos cinematográficos até
então realizados na Paraíba a um patamar limitado de mera apreciação retórica,
em razão apenas de algumas instituições e nomes a elas eventualmente ligados,
se nos parece não um bom preceito de resgate histórico da nossa tão soberana
Cultura. Precisamos tratar o assunto no âmbito de um cinema total, sem
fronteiras. Sobretudo parahybano,
não apenas sob a ótica de uma arte meramente paroquial.
A
rigor, a Arte não tem fronteiras...
Não
muito raro e chega ser gritante ouvirem-se expressões xenófobas entre os que
fazem cinema/vídeo na Capital e os videomakers
do interior do Estado. A pendenga é antiga e não apenas se restringe, no caso
de Campina Grande, se esta tem ou não um litoral, mas também em razão do
próprio cinema ali realizado havia anos.
Aliás,
essa questão não terá sido a primeira vez que vem à baila. Estende-se agora –
pelo que nós da Academia Paraibana de Cinema tomamos conhecimento – em razão da
transferência ou não do acervo Machado Bitencourt para a cidade em que o
próprio Bitencourt produziu grande parte de suas realizações, tanto no segmento
fotográfico como cine/videográfico.
Fato
é que se comete mais uma vez a omissão às nossas raízes interioranas. Sobretudo
filmográficas, quando se pretende desdenhar sua importância, criando expectativas sobre um cinema paraibano
equivocadamente segmentado, ainda assim pulsante, mesmo no plano frágil da
produção. Não obstante, entendido como marcante pelos que dele fazem parte com
seriedade. Um cinema visto sob a égide do exercício incólume na sua singular
criatividade.
Está
lá, no nosso livro Cinema &
Revisionismo (1982), de forma simples e clara a saga e os matizes de
importância de um cinema que se fez grande, sempre grande. Também, até desceu a
Serra da Borborema para dizer que existia. Um cinema até então ignorado pelos
que só promoviam a cultura pessoense e de fora do Estado. Cinema, que fizemos
questão de registrar e priorizar, quando das realizações dos primeiros anos da
década de oitenta do Festival de Arte de Areia, que este ano retorna às alturas
de uma civilização de vultos singulares e sobre os quais se inspirou.
E
não terá sido este favor algum da nossa parte, em acolher a experiência
“bitencourtiana”, mas o reconhecimento ao fato histórico, às tradições e à
memórias da nossa arte fotográfica e cinematográfica; contraditando a tese de
Kant, que sempre renegou a memória
como algo remoto, acontecido, e que também para o historiador francês Lucien
Febvre: “(...) se queres fazer história, vires resolutamente as costas ao
passado e viva a vida.
Viva-a plenamente”.
Mas, como fazer história renegando, omitindo ou desdenhando a nossa memória? Como mensurar ganhos e perdas, renegando deliberadamente os feitos que se conseguiu viver até o instante presente. Sempre, há de se buscar referências às atuais avaliações. E essas, quer se queira ou não, estão no passado!
- ALEX SANTOS - Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema.
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