Sala de cinema: ambiente sagrado do sonho
Aos olhos do mundo, pouco importa se hollywood não pratique, como no
Brasil, o cinema independente como
meta exclusiva de produção. Importa muito menos ainda se esta é uma das
características básicas do cinema europeu, como um todo, não por uma questão só
pecuniária, mas culturalmente ideológica. Contudo, duvidaria muito que tais
cinematografias não devam ter uma tutela governamental. Aliás, este é também um
ponto em que está implícita a tão preconizada Soberania Nacional... Cada cinema
tem o perfil de produção que lhe é mais pertinente, social, cultural,
economicamente.
Num país em que grande parte do empresariado continua desdenhando a
cultura, sobretudo o cinema, negando-se a mergulhar também na sua importância
enquanto produto de mercado, nada mais justo do que, pelo menos, exigir-se o
direito de tutela do governo brasileiro. Não confundir tutela com “apadrinhamento”.
Tutela, sim, mesmo para aquele tipo de empresa que ainda oscila entre o
comércio e o purismo na arte, que tem caracterizado bastante o chamado “cinema
independente”. Conceito este variado e que tem para muitos o significado de uma
exclusividade apenas dos cineastas “amadores” e sem nenhum compromisso com o
mercado exibidor de filmes. O que, convenhamos, isso jamais representaria a
verdade em nenhuma hipótese.
A rigor, não deveríamos então somar os dividendos positivos de uma
experiência que, a priori, vem sendo
considerada “amadorística”, mas que tem gerado durante todos esses anos
qualidade e benefícios à própria arte? Pelo que se entende – sobre tudo e sobre
todos –, o dever de tutela continua a ser do Estado; por extensão, não in dubio, deverá ser justa e formalmente
também da inciativa privada e do próprio cidadão, a partir da sua realidade
criativa, cultural e artística.
Entediosa sempre foi a discussão sobre um apoio institucional aos
chamados cineastas “independentes” e a reserva de mercado que os possa
absorver. E não só para esses realizadores, mas para o Cinema Brasileiro de um
modo geral. Essa lengalenga tem se arrastado por décadas, causando certa
estranheza, sobretudo pela inadequação do termo “tutela”, que se entende como
sendo um encargo, uma autoridade conferida a alguém, no caso o próprio governo,
para administrar formal/constitucionalmente os bens nacionais. E pelo que sempre
entendi a vida toda, Cultura e Arte de um povo são bens nacionais. Portanto...
Contudo, a questão levanta um ponto importante, quando defende uma
espécie de descompromisso quase total do governo com o chamado “cinema
independente” ou outra forma de arte. Estado que tem endeusado a função de
outras mídias como único e possível canal de veiculação cinematográfica e concluindo
por excluir intencionalmente a verdadeira e natural característica da
arte-do-filme: a de projetar e fomentar ilusões através de uma atmosfera
própria, física e verdadeiramente compatível, apenas com os equipamentos
necessários em uma sala escura de cinema.
Ainda bem que o atual governo
brasileiro, através da Ancine, atentou para essa necessidade e optou pela
criação de salas de cinema fora dos grandes centros, mediante Instrução Normativa nesse
sentido. Retornamos,
enfim, à verdadeira magia do cinema; com ou sem a abominável pipoca...
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
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