quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cinema – Arte dos múltiplos sentidos


Ao longo de nossa convivência com o cinema, ele nos tem dado motivos para alguns instantes de criativas reflexões. Muitas delas comparações prazerosamente lúdicas. São imagens de significados às vezes imperceptíveis ao espectador comum, para nós, no entanto, cheias de simbolismos prementes de interpretações. Desse modo, fazendo-nos pensar diferentemente sobre elas, na busca daquele algo mais que só a arte-do-filme proporciona.

Em um desses instantes, lembro bem, lá pelos idos de l982, tendo assistido ao lançamento de um filme de Steven Spielberg, naquela época colunista e editor do Segundo Caderno do Jornal O Norte, escrevi sobre uma das sequências de “ET” que julguei simbolicamente semelhante à de outro filme que havia visto quando criança, vinte oito anos antes, dirigido pelo húngaro naturalizado espanhol Ladislao Vajda, “Marcelino, pan y vino” (1954). Fato esse que me fora indagado por um amigo, também professor da UFPB, em breve encontro que tivemos esta semana na Adufpb.

As sequências lembradas são as de Marcelino (Pablito Calvo) aproximando-se da imagem do Cristo crucificado no interior da capela (foto), inicialmente temeroso, depois maravilhado, e a cena do filme de Spielberg, quando o garoto em seu próprio quarto tem o primeiro contato com um extraterrestre. Parece existir em ambas as construções, se assim podemos afirmar, uma semiótica perfeita, um significado único. Existe, alí, algo poderoso demais aos olhos das crianças. Singular e emblemático à importância de ambos os filmes.

Em “Marcelino” e no “ET”, preservados os simbolismos, o Sagrado no filme de Vajda e o Científico em Spielber, existe justamente a similitude entre os dois momentos sequenciais. Não obstante tais semelhanças dos sentidos, simbolicamente construídos, no cinema esses mesmos sentidos podem ser “lidos” e encontrados em outros filmes. Lembremo-nos, então, de “8 1/2” (1963) de Federico Fellini e “Menino de Engenho” (1969/70) de Walter Lima Jr., do clássico de Zé Lins. Filmes de produções de uma mesma década e onde encontraremos outro importante motivo de comparação. As estripulias da prostituta Saraguina (felliniana) e as de Zefa Cajá, do romance zeliniano.

A rigor, semelhanças, signos, enriquecimento dramático, tudo conta na construção de um bom filme. Em Arte, sobretudo em Cinema, as boas performances existem para serem lembradas, copiadas, ampliadas e até melhoradas. Nada contra...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
   

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Setembro 17 de 1914 – “Amarcord”

     Em Santa Rita-PB, um mundo mágico construído pelo meu Pai   
   Esta manhã, diferentemente de tantas outras do nosso conturbado quotidiano, acordei com um motivo a ser novamente lembrado. Motivo singular, que a cada ano se repete e tem se somado às manhãs de tantos outros 17 de setembro de minhas memórias. Data que transcende ao mero registro cronológico de tempo, fazendo-se expressiva não só a mim, mas aos membros de minha família.


    Não bastasse a tal lembrança, logo cedo recebo um telefonema emocionado, justamente de quem, tanto quanto eu viveu sob a orientação daquele que, durante todos esses anos, ainda continua sendo o mentor das nossas mais profundas e virtuais emoções. Ligara-me para dizer, simplesmente:

– Alô, é Alex?

– Sim!... (respondo eu, ainda sem saber quem está do outro lado da linha).

– Hoje é o dia!... (exclama o meu interlocutor com a voz embargada de sentimentos).

    O amigo Rubens, com quem vivi minha adolescência de cinema, em Santa Rita, jamais deixou passar em branco a data que hoje celebramos cheios de orgulho e saudades. Completaria hoje (17 de setembro de 2012) noventa e oito anos, o meu Pai, SEVERINO ALEXANDRE DOS SANTOS, um pioneiro do “cinema mudo”, estoico arquiteto e construtor de seus próprios cinemas na cidade e distritos de Santa Rita.

    O amigo Rubens, a exemplo de outros garotos de sua idade, outrora presentes na portaria de nossos cinemas, negociando revistinhas de super-heróis em quadrinhos, começara sua vida cinematográfica, de fato, com a ajuda do meu pai – “Seu Severino do Cinema”. Daí sua sentida gratidão até hoje, quando celebramos as datas de nascimento e de passagem do nosso mais querido patrono.

    Obrigado, amigo Rubens, pela emocionada lembrança do nosso timoneiro e de tantas e tantas “aventuras cinematográficas”. Que o écran luminoso de nossos ruidosos projetores do passado, que tanto construiu as boas memórias que hoje vivemos, continue sempre a projetar as imagens de uma aventura virtual e mágica, que soubemos verdadeiramente cultuar.

ALEX SANTOS – Da Academia Paraibana de Cinema, jornalista e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br