A imagem como significado estético, como elemento de recriação artística e até investigativa, continua a ser o grande recurso de registro da vida; dos homens e do universo de tudo. Mesmo porque o artista, como razão apropriante dessa imagem pôde trabalhá-la, primando pela reivenção dos espaços e tempos numa multiplicidade de visões que nos têm levado à dedução de que, o uso direto de uma imagem, sobre determinado tema, houve de transformá-la verdadeiramente descritiva, única e completa, através do simples processo da nossa observação e imaginação. Ao contrário do texto escrito, cuja leitura poderia nos propiciar uma vasta gama de imagens sobre o mesmo tema, a partir de uma também multiplicidade de interesses e de uma diversificada concepção.
Ao afirmarmos também que todo resgate de uma imagem é uma forma de apropriação, no primeiro momento estaríamos admitindo também a afirmação de que uma imagem, em estado natural, por si mesma já representaria algo real, expressivamente significante. O fato de ser ou não resgatada artisticamente, subentenderia ainda a possibilidade de um novo estado de compreensão sobre essa mesma imagem e o que ela representa.
Em razão desta discussão, um exemplo típico é o da “imagem documental”, em que o acontecimento enquanto fato social poderia ter sua significação própria, a sua imagem; depois, o mesmo fato sendo visto/concebido de forma diferente, quando da hipótese desse for simplesmente “resgatado” como uma informação jornalística ou mesmo documental ao conhecimento público.
Sob o mesmo enfoque, entenderíamos também a hipótese do significado do que é real. Isto é, o registro do fato enquanto imagem constituinte de uma mensagem, a partir do factual – aquela imagem que é mostrada pelos filmes documentais e pelos noticiários televisivos. Seriam tais imagens, verdadeiramente reais? Ou, simplesmente, uma forma de representação do real? Nesta hipótese, a imagem (in natura) resgatada, passaria a ter o sentido de uma “imagem apropriada”, ganhando evidentes contornos e estilizamento específicos de um olhar tecnicamente comprometido. Não apenas pelo interesse que essa mesma imagem possa propiciar ao método da informação – o que já se constitui num certo gravame modificador dessa imagem – mas, sobretudo, pela preliminar noção crítico-política que todo meio difusor lhe impõe, intencionalmente, a partir de uma linguagem própria e de suas necessidades enquanto mídia e empresa.
Sob este enfoque, sabe-se ainda que o meio de produção é reconhecidamente conveniente e manipulador de uma linguagem que, a rigor, passaria a ser a “verdade” irradiadora da Informação. Afirmação que poderia vir seguida de outra de Marik Finlay, de que “a linguagem é uma troca adequada pela realidade.” Uma realidade que, tanto o cinema como a televisão, respectivamente, têm buscado explorar imageticamente de forma ficcional (representativa) ou simplesmente documental e informativa.
Insistimos, pois, nessa questão do resgate da imagem de um meio por outro, simplesmente porque entendemos a sua relação intrínseca com o que então vimos constatando/discutindo, que é o fato da apropriação, pela televisão, da forma de linguagem e da gramática visual construídas pelo cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário