sexta-feira, 27 de julho de 2012

SAGA E CINEMA NO QUARTO CENTENÁRIO DA PARAHYBA


Em tempos de efeméride, de justas homenagens ao aniversário da Cidade, nada melhor do que reviver a saga e a resistência do seu povo. Melhor ainda, conhecer a história de como se fez um dos melhores Documentários paraibanos dos últimos tempos e a sua real importância nas Celebrações dos 400 Anos de Fundação da Parahyba.

Em sessão especial, nessa quinta-feira (02) que antecede à data de 05 de Agosto, será exibido pela primeira vez, no Cine Mirabeau (Bessa), o documentário “Saga e Cinema no Quarto Centenário da Parahyba” (2005). Uma realização de Alexandre Menezes, pela Empresa AS Produções Cinema e Vídeo, com cenas de making-of dos lugares das gravações do filme e depoimentos sobre a produção do “Parahyba”.

Muitas vezes premiado em festivais nacionais de Brasília, Fortaleza e Maranhão o filme “Parahyba”, que teve a direção de Machado Bitencourt, é agora mostrado na sua forma mais viva, com uma Apresentação Especial do historiador José Octávio de Arruda Mello. Ele conta a saga que foi a realização do documentário e os propósitos que levaram à sua realização. Corroborando com Zé Octávio, os depoimentos do próprio Bitencourt e de Alex Santos, ambos roteiristas do filme.

Para Zé Octávio, nada terá sido mais oportuno e eficaz nas celebrações do Quarto Centenário da Paraíba que a realização do “Parahyba”, cuja produção da Cinética em 35mm e cores foi financiada pelo Governo do Estado da época (1985), com respaldo da então Embrafilme e apoio de instituições importantes, como a Universidade Federal da Paraíba através do seu Departamento de História, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano e Grupo José Honório Rodrigues. Um documentário, segundo afirma o historiador em depoimento no próprio filme, que trouxe algumas visões críticas importantes sobre a própria Paraíba.

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, cineasta e professor/UFPB. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

sábado, 14 de julho de 2012

A Imagem como forma apropriante (II)

 No escurinho do cinema, a magia de tudo...

O cinema tem buscado em sua dramaturgia, sobretudo, a valorização dos elementos espaço/tempo mais verossimilhantes com a realidade a que se propõe narrar. A composição cênica virtual através da luz, rigorosamente tem sido importante nesse sentido. Até porque, além da tela plana só há a ilusão desse espaço e desse tempo. Mas, existe certa desvantagem tecnologicamente química do cinema sobre o que vem se processando eletronicamente pela televisão. Não raro, o computador consegue espacejar de forma imediata todos os elementos previamente mentalizados pelo artista, sendo este muitas vezes superado nos detalhes pela máquina. Exemplo flagrante é o do “tira-teima”, nas partidas de futebol, enquanto recurso de realidade virtual, que tem se prestado muito bem a determinados “esclarecimentos espaciais”, através do documentário, sobre o que a capacidade humana de visualização quase sempre tem falhado.

Em se tratando ainda da composição de espaço e tempo, de ambientações concretas, a partir de um também referencial claro-escuro, um dado cenograficamente importante ganharia contornos subliminares, entre cinema e televisão: a luz. Esta, enquanto elemento modular rigorosamente fundamental de formas tridimensionais na realização fílmica. Na tv, a luz diáfana e até certo ponto “enganadora”, tenderia a se compor ainda mais com a digitalização dos novos processos “3D”, cujo resultado vem de substituir o artesanato fotográfico como exercício de qualidade, que houve de perpetuar a expressiva imagem do cinema aos dias hoje.

Ao contrário da virtualidade diáfana da tv, no cinema a luz passa a ser um instrumento poderosíssimo na busca da composição dos espaços cênicos. Espaços que nos têm dado (ainda) a ilusão do real dentro do discurso fílmico. Dessa confrontação existente entre o artesanal do cinema e o “tecnicismo” estético analógico ou digitalizado da máquina, a arte-do filme tem se distanciado cada vez mais de uma condição técnica vital já em curso no terceiro milênio: o aperfeiçoamento cada vez maior da imagem digital.

Enquanto isso, no plano especificamente construtivo de um novo status para a “imagem” televisiva, existiria premência por parte desta em intensificar uma espécie de autonomia do seu próprio modus, embora se sabendo da sua força enquanto meio (“o meio é a mensagem” – McLuhan) e, por extensão, do cotidiano social e político em que ela, tv, está verdadeiramente inserida. Até porque, o telespectador já absorveu quase totalmente o rito existencialista, até então usado/adotado pelo veículo.

Quanto ao aspecto relativamente técnico e linguístico da tv, o também adepto da “telinha” já compreendeu suas sutilezas e diferenças em razão do cinema, que tem no espaço cênico um dado fundamental no seu processo narrativo . A televisão vem explorando menos essa noção do “amplo espacejamento” na composição do seu discurso visual, principalmente quando nele não há relevância para uma narrativa dramática. Isto ocorre devido ao rigor cartesiano imposto à narrativa pelo vetor horizontal-vertical de tempo-espaço. Vetor normalmente dimensionado pela câmera e caracterizado pelos planos na construção desse mesmo discurso narrativo e, no caso do cinema, por sua vez mais liberal e pessoal enquanto obra construída, pronta e acabada.

“O filme tem se mostrado cada vez mais apto para as transformações que vão além daquelas condicionadas pela câmera.” Porquanto, (...) “o absoluto realismo da imagem cinematográfica é uma ilusão humana.” – Stan Brakhage.

ALEX SANTOS – Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br



quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Imagem como forma apropriante (I)

                                   
A imagem como significado estético, como elemento de recriação artística e até investigativa, continua a ser o grande recurso de registro da vida; dos homens e do universo de tudo. Mesmo porque o artista, como razão apropriante dessa imagem pôde trabalhá-la, primando pela reivenção dos espaços e tempos numa multiplicidade de visões que nos têm levado à dedução de que, o uso direto de uma imagem, sobre determinado tema, houve de transformá-la verdadeiramente descritiva, única e completa, através do simples processo da nossa observação e imaginação. Ao contrário do texto escrito, cuja leitura poderia nos propiciar uma vasta gama de imagens sobre o mesmo tema, a partir de uma também multiplicidade de interesses e de uma diversificada concepção.

Ao afirmarmos também que todo resgate de uma imagem é uma forma de apropriação, no primeiro momento estaríamos admitindo também a afirmação de que uma imagem, em estado natural, por si mesma já representaria algo real, expressivamente significante. O fato de ser ou não resgatada artisticamente, subentenderia ainda a possibilidade de um novo estado de compreensão sobre essa mesma imagem e o que ela representa.

Em razão desta discussão, um exemplo típico é o da “imagem documental”, em que o acontecimento enquanto fato social poderia ter sua significação própria, a sua imagem; depois, o mesmo fato sendo visto/concebido de forma diferente, quando da hipótese desse for simplesmente “resgatado” como uma informação jornalística ou mesmo documental ao conhecimento público.

Sob o mesmo enfoque, entenderíamos também a hipótese do significado do que é real. Isto é, o registro do fato enquanto imagem constituinte de uma mensagem, a partir do factual – aquela imagem que é mostrada pelos filmes documentais e pelos noticiários televisivos. Seriam tais imagens, verdadeiramente reais? Ou, simplesmente, uma forma de representação do real? Nesta hipótese, a imagem (in natura) resgatada, passaria a ter o sentido de uma “imagem apropriada”, ganhando evidentes contornos e estilizamento específicos de um olhar tecnicamente comprometido. Não apenas pelo interesse que essa mesma imagem possa propiciar ao método da informação – o que já se constitui num certo gravame modificador dessa imagem – mas, sobretudo, pela preliminar noção crítico-política que todo meio difusor lhe impõe, intencionalmente, a partir de uma linguagem própria e de suas necessidades enquanto mídia e empresa.

Sob este enfoque, sabe-se ainda que o meio de produção é reconhecidamente conveniente e manipulador de uma linguagem que, a rigor, passaria a ser a “verdade” irradiadora da Informação. Afirmação que poderia vir seguida de outra de Marik Finlay, de que “a linguagem é uma troca adequada pela realidade.” Uma realidade que, tanto o cinema como a televisão, respectivamente, têm buscado explorar imageticamente de forma ficcional (representativa) ou simplesmente documental e informativa.

Insistimos, pois, nessa questão do resgate da imagem de um meio por outro, simplesmente porque entendemos a sua relação intrínseca com o que então vimos constatando/discutindo, que é o fato da apropriação, pela televisão, da forma de linguagem e da gramática visual construídas pelo cinema.

ALEX SANTOS é Vice-Presidente da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br