terça-feira, 13 de setembro de 2011

Arte de Areia: Neblinas de um festival



















O Festival de Arte de Areia está de volta. É o primeiro neste novo Século. Retoma o seu espaço de origem, de onde jamais deveria ter saído. São os ares serranos, neblinados e verdes do Bruxaxá que fazem a sua beleza e singularidade. Sua cenografia incomparável – as igrejas, o Teatro Minerva, o casario colonial com suas ladeiras... Tudo é Cinema! Em respeito à memória do seu próprio limiar não se deve omitir, ou pelo menos esquecer, o que o festival ainda representa para a vida cultural e artística da nossa indelével Parahyba.
Se terá sido verdade que a cultura e as artes paraibanas tiveram sempre altos e baixos, verdade também é reconhecermos que alguns segmentos foram muito mais atuantes e bem sucedidos que outros, a partir do Festival de Areia. Do Teatro à Dança, da Literatura à Música, da Fotografia às Artes Visuais e Escolas de Cinema. Este, até pela força da sua natureza formal, artesanalmente construtiva e não menos paraibana e diferenciada de ser. E aqui faço uma referência mais que merecida à memória do cineasta Machado Bitencourt, que, nos dois primeiros anos da década de oitenta, estando eu à frente do festival, em suas quarta e quinta versões –coordenando cinema e o professor José Octávio de Arruda Mello na Coordenação Geral, sendo posteriormente o teatrólogo Raimundo Nonato batista, pela DGC – introduzimos pela primeira vez no festival a chamada “prata da casa”. Com isso, destacando os valores da Cultura local. Vez que a preferência de antes era por figuras de outros estados, também importantes, mas que alijavam, em parte, as nossas potencialidades. Nos chamados tempos dourados do Festival de Areia (início dos anos 80), medidas estruturais foram reformuladas. Uma delas, em respeito a uma valorização maior das nossas competências e capacidades culturais e artísticas. Manifestações coletivas e pacíficas dos quantos participavam do festival houve de acontecer. Importante moção discutida e aprovada em assembleia geral por todos os integrantes inscritos foi endereçada ao então governador. Nela, a exigência de um olhar mais objetivo e urgente do Governo do Estado para a situação do Cinema Educativo da Paraíba. Sobre a vergonhosa condição material e estrutural em que se encontrava o tradicional órgão da Secretaria de Educação e Cultura, malgrado o esforço hercúleo da figura do seu (sempre) Diretor João Córdula, em ainda tentar mantê-lo. Sobre tal situação do CEPb, os coordenadores e participantes, diante do que foi apresentado e discutido, por ocasião do VI Festival de Arte, em Areia, registraram de público que, “Dentre os organismos componentes da Secretaria de Educação e Cultura, certamente nenhum nesses últimos anos prestou tão relevante serviços a todas as áreas do conhecimento humano, quanto o CINEMA EDUCATIVO DA PARAÍBA, ainda dirigido pelo cineasta e homem de cinema JOÃO CÓRDULA”.
Ainda sob o mesmo foco de preocupações, durante muito tempo se discutiu sobre a possibilidade de existir ou não um cinema tipicamente paraibano. A rigor, melhor seria reconhecer-se a premissa de uma atividade cultural que, por razões óbvias, tende a passar essencialmente pelo crivo empresarial/industrial, para que possa realmente ter voz e vez. E esse não terá sido o caso do nosso cinema (seja ele “paraibano” ou, simplesmente, “feito na Paraíba”), até porque, em verdade, este cinema sempre dependeu de uma finalização e de um olhar mais criterioso dos poderes públicos.
Hoje, nesse mesmo certame, em que pese o real e importante significado do seu retorno à terra que o viu nascer, constata-se que a Arte CINEMA, infelizmente, vem de ser minimizada ao oportunismo de emergentes tecnologias e ao diáfano do Audiovisual, e que não dispomos mais dos espaços e do glamour de antes. Coisas de uma nova geração...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

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