Existem situações na vida real que são comparáveis a de um filme. Quer sejam situações de alegrias ou de tristezas. Daí a razão deste enfoque, dentro de uma coluna que trata fundamentalmente de cinema. De cinema ou não, eis a questão, um registro que se faz particular e sentimentalmente necessário. Recentemente vivi uma dessas situações com o falecimento de um amigo. Um velho e querido amigo de longas datas.
Colombiano de nascimento, mas, de coração paraibano como poucos, ele esteve sempre à frente do seu tempo. E não só pela ousadia na criação artística que praticou, mas pelos argumentos que sempre defendeu. Arquiteto por formação, com exercício em muitas das obras que hoje alimentam a paisagem da nossa urbe, houve de utilizar as cores e as formas sob um diferencial sempre genial.
Eu o conheci já professor de História da Arte na Universidade Federal da Paraíba, ainda na gestão de Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque. Sempre alegre, bonachão e de “língua embolada”, como dizia o meu pai “Alexandre do Cinema”, Luiz Alfonso Diaz Bernal foi daqueles amigos que jamais de pode “olvidar” – isto, para que possamos empregar um dos vocábulos que lhe era originalmente pátrio.
Editor de Cultura do Segundo Caderno de O Norte (final do anos 70, fase de ouro dos Diários Associados, na Paraíba), mas com um pé dentro da UFPB, na Assessoria da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários, que funcionava no prédio onde hoje é o INSS, foi-me possível manter os primeiros contatos com Alfonso Bernal, à época Diretor do Núcleo de Arte Contemporânea (NAC). E quantas viagens fizemos à Cidade de Areia, durante os tradicionais festivais de Arte, numa delas inclusive em companhia de nossas famílias.
Lembro até de um fato pitoresco acontecido numa de nossas estadas na cidade de Areia. Houvemos de nos hospedar, juntamente com nossas famílias, no recém inaugurado Hotel Bruxaxá. No café da manhã seguinte, ao se aproximar da nossa mesa o garçom foi toda a atenção possível. Bernal, então, solicitou dele ovos “à lá coque”. Qual foi o incontido pânico do moço, em saber o que era “ovo à lá coque”. Retirou-se, demorou bastante para atender ao pedido, retornou alegando: – “Desculpe, Senhor, mas a dispensa do hotel ainda não tem o “lá coque” solicitado”. O fato gerou verdadeira descontração entre nossos familiares à mesa (Lili, Emy e filhos), mais ainda, porque Bernal teve que chamar o Maitre para acudir o pobre garçom...
Em outra ocasião, a versatilidade comunicativa do amigo Bernal mais uma vez aflorou. Numa de nossas hospedagens na Escola de Agronomia no campus da UFPB, à noite resolvemos caminhar e dar uma voltinha na cidade. Areia estava diferente, sob uma neblina que dava gosto. Três metros à frente do nariz não se enxergava nada. Lá chegando, Bernal me disse: – “Alex, vamos pegar uma “burrinha?”. Qual foi a minha surpresa, alegando não gostar de montar em animal, muito menos à noite. O amigo Bernal olhou pra mim e simplesmente riu... Em verdade, terminamos aquela noite pegando várias “burrinhas”: Mini-garrafas de pinga do brejo, acompanhadas com uma boa carne-de-sol acebolada.
Em um de seus livros publicados (“Reflexões”), o amigo Bernal assinaria a gratidão de nossa amizade: “Aos amigos Alex e Eliane, meus amigos de toda vida”. Uma amizade, assim, só se aparta com um acontecimento cinematográfico!
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
sexta-feira, 29 de julho de 2011
De cinema ou não, a perda de um grande amigo
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