sábado, 19 de fevereiro de 2011

Quanto custa a produção de um filme?









"Antomarchi": Uma equipe em sintonia fina


QUANDO do lançamento de “Antomarchi” na Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, no final do ano passado, após a exibição do filme alguém da plateia se mostrou interessado em saber quanto tinha custado sua Produção. Presentes estavam os produtores, parte do elenco e a direção de “Antomarchi” a convite do também cineasta Rômulo Azevedo e da direção do Cineclube Machado Bitencourt.


A Produção do filme mostrou-se de certa forma intrigada ao questionamento, mais ainda, em razão de observações bastante positivas sobre o filme e o cuidado reconstitutivo de época em sua produção. Colocações que antes tinham sido feitas pelo próprio e curioso assistente acomodado no fundo da sala. Em não sendo respondido de pronto e voltando a fazer elogios à Produção do filme, foi necessário que fizéssemos alguns esclarecimentos.


Disse-lhe da importância do que é ter uma boa ideia para a Realização em Cinema (ou vídeo), justamente, a partir de um bom texto. Disse-lhe, ainda, o que representa a sintonia de uma equipe cujo propósito é o da simples e obstinada participação em um projeto, ao qual a pecúnia nem sempre é o mais importante. E que a força de trabalho na realização de um filme, antes de objetivar uma remuneração deve visar tão somente um resultado positivo e satisfatório para essa obra. Em verdade, de tudo isso resultou “Antomarchi”.


Não obstante o que foi dito, sendo mais objetivo à indagação do nosso interlocutor, fiz questão de dar-lhe uma pista sobre o valor real da Produção do “Antomarchi”. Disse-lhe: Admitamos que você tenha proposto a um Fundo de Cultura desses um valor de R$ 50, 60 ou 70 mil reais (como normalmente vem acontecendo), para a realização de um simples Documentário em vídeo. “Antomarchi”, com todas as implicações de uma Ficção – reconstituição de época, módulos cênicos, figurinos e performances –, seus custos de produção jamais passaram da metade do que aqui mencionamos.


E Conclui: Por tudo isso, meu amigo e curioso espectador aqui presente, e tomando conhecimento do recente número de inscrições no Fundo Municipal de Cultura, da PMJP, e sem nenhum embargo a quaisquer projetos que existam, vejo com constrangimento o fato de somas que são solicitadas e até conseguidas pelas mesmas pessoas, todos os anos, através desses instrumentos de apoio à Cultura, para a realização de um simples registro audiovisual. Mesmo na Arte, acredito que o bom senso deva prevalecer...


ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor, jornalista e cineasta E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br / www.asprod.com.br

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um cinema que cresce em qualidade e aceitação



Atores globais dão sustentação ao filme brasileiro.
Juntamente com toda a Economia, o Cinema Nacional foi uma atividade que cresceu bastante no país, em qualidade e aceitação. Nesse ano que passou, um público de 135 milhões de espectadores e renda de mais de R$1 bilhão fizeram da produção de filmes, no Brasil, um negócio como poucos. O crescimento foi nada menos de 19% de espectadores e de cerca de 30% na renda, em relação a 2009. Desde o início dos anos oitenta, não se via tamanha performance de aceitabilidade ao filme brasileiro.

Esses dados são fornecidos pela ANCINE, Agência Nacional de Cinema, o que nos comprova que a indústria brasileira de filmes encontra-se mesmo em ascensão. Só a iniciativa privada continua desdenhando a importância desse negócio, que só tende a crescer. O empresariado precisa investir com força nesse marketing. Está provado que esse é um dos caminhos mais promissores para a economia nacional. O cinema americano vem perdendo também, economicamente, quando passa a desdenhar o lobby e a importância de sua “galinha dos ovos de ouro”: Hollywood.

Não obstante, uma constatação se sobrepõe a esse tipo de reflexão que ora vimos fazendo. É o fato de que a mídia, sobretudo eletrônica, tem de pós-produzir os nossos filmes. Divulgando de fato a sua importância não só como produto cultural, mas, sobretudo, de entretenimento. Não sem razão que as produções respaldadas pela TV Globo têm tanta aceitação. “Tropa de Elite 2”, mais global que nunca, lidera o ranking de bilheteria em quase 12 milhões de espectadores, com mais de 7 milhões de reais em renda.

Filmes como “O Bem Amado”, “Xuxa”, “Quincas Berro D’água”, sem falar de “Chico Xavier”, uma das maiores bilheterias de 2010, todos eles coproduzidos pela Globo Filmes e Estação da Luz, com recursos também da Petrobrás, são produções que trazem como crédito a “cara global”. Quer dos atores da casa ou na direção, enfim... Ainda por cima com distribuição garantida através de antigas marcas do cinema, como a Columbia Pictures, Sony Pictures, Downtown Filmes e tantas outras.

O que precisamos mensurar agora, e aí seria outra estória, é a distância que separa essas ricas produções globais, também financiadas com verbas de governo, das outras consideradas “independentes”. Realizações também de igual importância e valor cultural para o cinema nacional, mas que não gosam de certos privilégios, que sabemos existirem... Segundo dados da ANCINE, à exceção de “Lula, o filho do Brasil”, todos os filmes do ranking captaram recursos através das leis federais de incentivo. Alguns destes títulos receberam, também, aporte do Fundo Setorial do Audiovisual. É isso aí... um País que não é de todos. Menos, ainda, de um cinema considerado “marginal”.

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, jornalista, professor e cineasta.
E-mails:
alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br / www.asprod.com.br

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Repsom no Memorial do Cinema Paraibano




Grupo Aquarius/Repsom: (a partir da esquerda) Gusmão gerente em Recife, Ivan de Oliveira, Lauro e o cineasta Alex Santos.

Rediscutindo a questão do que devemos entender por Memorial Cultural do nosso Cinema (de “Província”, como diria Wills em um de seus livros), lembraria que essa memória deva contemplar todas as formas de atividades até hoje exercidas, sobretudo pelos paraibanos. Desde a formação de um simples texto, quer seja “espiritualmente” criado para cinema, a composição de argumentos e roteiros ou mesmo quaisquer ações focadas simplesmente na construção da Arte-do-Filme.

Conveniência que temos de relembrar atuações que se fizeram também deveras marcantes, principalmente no plano da realização de filmes em 35mm, em nosso Estado, e que por razões ignoradas ou até por simples lapso de memória cultural permanecem no quase ostracismo. Refiro-me à Repsom Produções Cinematográficas Ltda. Empresa sediada em João Pessoa e que produziu uma linha de cinejornais exibidos durante um bom tempo na Paraíba, comandada pelo jornalista Ivan de Oliveira, cujas referências podem ser encontradas no meu livro “Cinema & Revisionismo” (1982).

Juntamente com Anco Márcio, à época ator e redator de jornal, estive durante algum tempo produzindo os textos a serem narrados nos curtas documentais (cinco minutos, aproximadamente), sobre inaugurações de obras públicas realizadas pelos governos do Estado e de prefeituras da Paraíba. Paralelamente às minhas funções de Redator do Cinejornal, formalizei a representação da Repsom junto a algumas Companhias Distribuidoras de Filmes sediadas em Pernambuco. Empresas com as quais já tinha contatos havia muito, em razão dos cinemas do meu pai Alexandre.

Aquarius Filmes (foto), em Recife, foi uma dessas distribuidoras que mantivemos parceria para que os jornais de tela da Repsom chegassem aos cinemas de todo o Nordeste. Justamente numa época em que a notícia sobre acontecimentos sociais, políticos e econômicos tinha nos jornais cinematográficos uma forte via de divulgação. Vivia-se a época dos cinejornais Atlântida, Canal 100 e “Les Actualité Française”, este da Paris Filmes. Informes que seriam mais tarde, especialmente a partir da segunda metade dos anos 70, veiculados pela mídia eletrônica e nos telejornais.

Quiçá, a preocupação maior se confirme na prática por parte dos atuais dirigentes da Cultura na Paraíba, neste momento, respaldando a Academia Paraibana de Cinema no seu interesse em resgatar acervos como o da Repsom filmes, que durante muito tempo esteve fora das discussões. Estratégias de ação por parte da entidade maior de cinema em nosso Estado, indagações e pesquisas nesse sentido já estão sendo elaboradas para que, de fato, se consiga chegar ao que restou da Repsom Filmes.

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor, jornalista e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br / www.alexsantos.com.br