sexta-feira, 26 de março de 2010

O olhar virtual de uma “paisagem sonora”







Nalgum tempo atrás, também nesta mesma coluna, eu escrevia que a Natureza, com todos os seus elementos “cênicos”, sempre me foi simpática a um olhar cinematográfico. Talvez, por isso, sempre tenha tido inclinação por filmar (ou gravar) no campo. Trata-se de um impulso pessoal e muito natural de minha parte, se examinado todo o meu trabalho, desde os anos sessenta aos dias atuais.

Reforce-se a essa minha preferência pelo telúrico os primeiros encantamentos que tive quando criança, que dava preferência aos “cow-boys” exibidos nos cinemas do meu pai. Mas, tais observações preferenciais vieram também de leituras de temas regionais, que me fizeram a cabeça logo cedo: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Câmara Cascudo, os nossos Zés Lins e Américo, o poeta Américo Falcão (das praias de Lucena) e mais alguns...

Razão essa que me fez fugir um pouco dos temas urbanos, deitando um “olhar cinematográfico” (até romântico, confesso) sobre o telurismo e o vegetalismo, de naturezas verdes de encantar. Além de temas de raízes campesinas, como o Cangaço, por exemplo. E sempre defendi que o nosso Cinema se identifica mais com esse temário que com situações de polícia correndo atrás de bandido nos centros urbanos, situação que se tornou a prax do cinema americano dos últimos tempos, inclusive como temas para uma boa parte dos filmes brasileiros.

Esta semana, na sala de aula, um de meus alunos me fez a seguinte indagação: “Professor, o que o senhor entende por “Paisagem Sonora”? Esclarecendo, que este é um dos assuntos do programa da disciplina Sonoplastia do Curso de Comunicação Social, que venho ministrando. Não me surpreendi de forma alguma com a curiosidade do aluno, porquanto existir em cada um de nós, de quando em vez, um instante de contemplação àquilo que, virtualmente, imaginamos existir. Na música, também terá sido possível esse instante visual, que preconizamos de “paisagem sonora”.

Respondi à indagação do aluno da seguinte maneira: Imagine-se lendo um livro (e dei exemplo da literatura de Zé Lins do Rego). Imagine-se lendo o nosso Zé Lins, especialmente. O romance dele é rico em paisagens, que nos fazem criar as nossas próprias “paisagens virtuais”. Agora, imagine-se ouvindo atentamente uma boa música. Uma melodia que traga um apelo realmente naturalista. E dei exemplo de Vivaldi com as “Quatro Estações”. Nesse caso, em particular, é impossível não imaginarmos uma “paisagem sonora”...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

Um comentário:

Alexandra disse...

Caríssimo autor, sinto-me lisonjeada pela escolha do "flagrante" supra como meio VISUAL para esclarecimento da questão proposta em sala. À mim, mera espectadora das cores e sons da vida, ficou mais do que claro que "uma sonora gargalhada" pode sim ser traduzida em IMAGEM!

Att. Alexa Menezes.