É como lapidar um diamante bruto! Não fosse assim, jamais teria graça alguma... Antigamente, a experiência de montagem (e não de edição) de um filme para cinema era com os minúsculos fotogramas – 35mm, 16mm ou 8mm. Na base da tesoura. Errou no corte, dançou! Perdiam-se tudo e mais alguma coisa – tempo e dinheiro. Hoje não, junta-se frame com frame e pronto. Se deu... vamos em frente; se não deu, deleta-se e recomeça-se tudo, sem prejuízo material, só de tempo.
Essa é a experiência de quem trabalha com a construção das imagens, dando-as significado. Só não basta gravá-las (não filmar, porque filmar é em película e com câmera de cinema). O ato de gravar as imagens, também requer certo cuidado, porquanto ser esse o momento em que damos vida ao que está no papel (roteiro). Ao que pensou e escreveu o “dono” da estória, seja esta com base na realidade ou em simples ficção. O que vale mesmo é a sua Representação, na tela.
Talvez, por isso, seja tão fascinante o ato de criar – na moviola (cinema); na edição não-linear (vídeo). Juntar coisa com coisa, dando ritmo e “vida” ao que, em verdade, estava inanimado. Revejo isto, nas experiências que ora vimos realizando. Após um longo e trabalhoso período de gravações, que durou nada menos de oito meses, interna e externamente, pudemos concluir o trabalho. Desse esforço restaram-nos mais de duas horas de imagens gravadas – seqüências inteiras, cenas, planos, ângulos, panorâmicas, movimentos de câmera, travellings...
Mais complicado, ainda, quando nos deparamos com uma narrativa construída a partir de um texto completamente intimista, mas intrigante, povoado de personagens sisudos, misteriosos, como foi o caso desta Produção que ora finalizamos. O desafio foi contar uma estória, em três épocas (50/60/2009), com ambientes cenográficos de épocas e figuras que se cruzam o tempo todo, formatando links existenciais entre eles, vivenciados numa espécie de curvas do tempo ou “nas dobras de um fractal”.
A escolha para atuarem nesse enigmático e curioso exercício de arcabouço transcendente, e que os personagens “falassem”, apenas, com a sisudez e o seu próprio ritmo, na cena, vez que optamos por não abusar do discurso falado habitual, foi um dos nossos grandes desafios. Mais ainda, porque optamos por atores não-profissionais para fazê-lo. Entendíamos, especialmente a Produção do filme, que o fato de uma nova cara na atuação, de certa maneira haveria de nos livrar de alguns incômodos estereótipos. Assim aconteceu.
Do então volume de material gravado, quando a Capital parahybana faz-se, igualmente, protagonista da estória, espera-se um filme de média-metragem a ser oportunamente lançado. Por trás dessa estória, com sabor de História do nosso tempo, alguns valores que conseguem pensar e escrever a vida de forma incomum. Uma opção videomaker diferenciada sobre um universo metafórico, intimista e até místico, intrigante, sobre esquinas e mirantes dos dias, de enigmas e viajores do tempo...
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
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