domingo, 28 de fevereiro de 2010

Uma estória de cinema








No final da primeira década de uma Paris do Século XXI, sob rumorosas manifestações sociais, estudantis e comemorativas aos 40 anos da violenta crise política do regime Gaullista (1968), o professor universitário brasileiro e paraibano retorna ao seu Estado de origem. Há anos vivendo na França, mesmo antes da mudança de governo para o regime de força que se estabeleceu no Brasil, agora docente aposentado decide resgatar pessoalmente os negócios e propriedades de família, havia muito deixados aqui.

O retorno de Antomarchi à Cidade natal, onde viveu os primeiros anos de sua infância, cheia de musicalidade e fantasias, embalada por antigos cinemas, personagens de revistas em quadrinhos e onde estudou, são agora lembrados no seu trajeto pela cidade. Mudanças marcantes aconteceram na urbe, desde a visão que levara quando de sua partida para a França, onde ficaria durante longos anos lecionando naquele País.

Agora, não mais interessavam os acontecimentos recentes e celebrativos de França, se De Gaulle decidira ter sua própria bomba atômica; se bloqueara as tentativas da Grã-Bretanha para aderir à Comunidade Econômica Européia; se tirara seu país do comando militar integrado, ou se renunciara ao cargo e se falecera em 1970. Nada disso mais importava, quando de sua atual partida definitiva para o Brasil.

No momento atual, veio para testemunhar outras transformações. Além da visão nostálgica da sua cidade, encontra alguns poucos recantos verdes, ainda preservados. O primeiro contato de Antomarchi será com o velho sobrado onde residiu e viveu sua infância e juventude. Ao edentrar-lhe, recordações chegam-lhe à mente, fazendo-o reviver os caminhos da escola e situações dante jamais sentidas. Numa espécie de reencontro consigo mesmo. No interior do antigo solar, entre estantes e livros, antigas fotos de família e o velho piano empoeirado, os “fantasmas” de toda uma vida...

Esta pode/deve ser uma estória de cinema...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Viajores e fractais: uma proposta de cinema

É como lapidar um diamante bruto! Não fosse assim, jamais teria graça alguma... Antigamente, a experiência de montagem (e não de edição) de um filme para cinema era com os minúsculos fotogramas – 35mm, 16mm ou 8mm. Na base da tesoura. Errou no corte, dançou! Perdiam-se tudo e mais alguma coisa – tempo e dinheiro. Hoje não, junta-se frame com frame e pronto. Se deu... vamos em frente; se não deu, deleta-se e recomeça-se tudo, sem prejuízo material, só de tempo.

Essa é a experiência de quem trabalha com a construção das imagens, dando-as significado. Só não basta gravá-las (não filmar, porque filmar é em película e com câmera de cinema). O ato de gravar as imagens, também requer certo cuidado, porquanto ser esse o momento em que damos vida ao que está no papel (roteiro). Ao que pensou e escreveu o “dono” da estória, seja esta com base na realidade ou em simples ficção. O que vale mesmo é a sua Representação, na tela.

Talvez, por isso, seja tão fascinante o ato de criar – na moviola (cinema); na edição não-linear (vídeo). Juntar coisa com coisa, dando ritmo e “vida” ao que, em verdade, estava inanimado. Revejo isto, nas experiências que ora vimos realizando. Após um longo e trabalhoso período de gravações, que durou nada menos de oito meses, interna e externamente, pudemos concluir o trabalho. Desse esforço restaram-nos mais de duas horas de imagens gravadas – seqüências inteiras, cenas, planos, ângulos, panorâmicas, movimentos de câmera, travellings...

Mais complicado, ainda, quando nos deparamos com uma narrativa construída a partir de um texto completamente intimista, mas intrigante, povoado de personagens sisudos, misteriosos, como foi o caso desta Produção que ora finalizamos. O desafio foi contar uma estória, em três épocas (50/60/2009), com ambientes cenográficos de épocas e figuras que se cruzam o tempo todo, formatando links existenciais entre eles, vivenciados numa espécie de curvas do tempo ou “nas dobras de um fractal”.

A escolha para atuarem nesse enigmático e curioso exercício de arcabouço transcendente, e que os personagens “falassem”, apenas, com a sisudez e o seu próprio ritmo, na cena, vez que optamos por não abusar do discurso falado habitual, foi um dos nossos grandes desafios. Mais ainda, porque optamos por atores não-profissionais para fazê-lo. Entendíamos, especialmente a Produção do filme, que o fato de uma nova cara na atuação, de certa maneira haveria de nos livrar de alguns incômodos estereótipos. Assim aconteceu.

Do então volume de material gravado, quando a Capital parahybana faz-se, igualmente, protagonista da estória, espera-se um filme de média-metragem a ser oportunamente lançado. Por trás dessa estória, com sabor de História do nosso tempo, alguns valores que conseguem pensar e escrever a vida de forma incomum. Uma opção videomaker diferenciada sobre um universo metafórico, intimista e até místico, intrigante, sobre esquinas e mirantes dos dias, de enigmas e viajores do tempo...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta.

E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cinema com muriçocas, “muriçocas” no cinema


Quiçá, o trocadilho sirva para parodiar um pouco sobre uma época em que tudo é carnaval. Evento que mixa, até, cinema com muriçoca e vice-versa. Mas, a intenção, aqui, é bem simples: lembrar que, apesar de uma coisa não ter a ver com a outra, tecnicamente, em verdade, existe certa relação entre o cinema e a muriçoca, sim. Para os que não acreditam, é só lembrar a saga dos nossos espectadores, em tempos idos.

Houve uma época em que se ir ao cinema, lembrando bem, era provar, igualmente, de uma batalha contra os famigerados insetos. Eles nos picavam as pernas e braços... Quando não eram pulgas, era muriçocas que nos azucrinavam a paciência. Tanto que, principalmente nos cinemas de bairros, sempre fora difícil o espectador conciliar o interesse pelo filme, por mais ação que tivesse, e as mordidas covardes de tais insetos. Não era brincadeira, não!

Hoje, com a globalização e a sofisticação dos ambientes e meios, as novas tecnologias, os transformismos comportamentais da nossa sociedade, entre outros “ismos”, muriçoca virou “chic”. A prova está nesses mais de vinte anos, quando o incômodo de um simples inseto virou o culto de uma massa de foliões aloprados, que nos tomam as avenidas e ruas, num burburinho que mais parece coisa de louco!...

O sucesso das “Muriçocas de Miramar” – este ano, homenageando o Cinema com camarote, autoridades e tudo – confirma a importância social não do inseto, em si, mas do mito em que se transformou a muriçoca. Um elo de euforia de quase meio milhão de pessoas, almejando o ano inteiro por uma simples e única quarta-feira. Hoje, cognominada de “Quarta feira de Fogo”! Coisas de uma Sociedade carente de governo; de um Governo carente de mais simpatias!...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Por uma revolução jamais finita

Ando meio cheio. Daí a minha demora em escrever sobre o que, aqui, me foi dado espaço. Final de aulas, provas com alunos da Comunicação Social (Sonoplastia – quarto período), edição de um média-metragem de ficção, que estamos finalizando, essas coisas... Mas, em sendo igualmente colunista do "Romance da Cidade", há quase três anos (22/07/06), também nele, observo que temos uma nova colega “praticante de meditação”, pela Web. E olhe que suas “meditações” sobre valores socialmente amplos, significantes, nos fazem re/pensar em que mundo vivemos, sonhamos, produzimos...

Só lamento que, à época em que ela cursou o quarto período de Comunicação (pois, “está no corre-corre para concluir o curso”), eu não estivesse no DECOMTUR/UFPB. Contudo, dois pontos chamaram-me a atenção da nobre colega: o fato ser “noviça” naquela coluna e o seu parentesco (?) com os Steinbach, que tanto conheci e admiro: Márcia (leia-se: saudoso maestro Kaplan), amiga e partícipe dos grandes eventos culturais da PRAC, ainda dos tempos do reitor Lynaldo Cavalcanti, e Bruno o artista plástico (ilustração), a cujas experiências pictóricas iniciais acompanhei, já a partir desse tempo.

Como o leitor houve de ter notado, saí um pouco do meu discurso rotineiro sobre a Sétima Arte, para enveredar por outro menos técnico e mais sensível, e cheio de “recuerdos”. Justamente de uma época em que iniciamos nossas primeiras investidas de realização cinematográfica em 16 mm, depois em Super 8, filmando instantes e situações relacionadas à Cultura Popular na/da Paraíba, pelo Nuppo/Nudoc/Prac/UFPB.

Ainda sobre a nossa atual colega de “batente” Bruna Steinbach, parece-me veterana na Web (http://venusdemile.blogspot.com), mas noviça no "Romance da Cidade", algo mais deve ser salientado: sua passagem, academicamente, também pelas nuanças do Cinema. Quando afirma ter sido “produtora e repórter (estagiária) da TV UFPB por dois anos, participante do Projeto de Extensão 'Paraíba Cine Senhor' da UFPB, que percorre cidades do interior para difundir o cinema brasileiro, e aluna de oficina de fotografia do cineasta brasileiro Carlos Ebert.”

Pois é, minha cara Bruna, “a revolução não terminou!” Ela jamais é finita. Diria que recomeça a cada dia que (felizmente) acordamos. Seja bem vinda!...

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E.mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br