segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NUDOC: Trinta anos de Cinema

Está lá, no nosso livro “Cinema & Revisionismo” (1982), de forma simples e clara toda saga e os matizes de importância de um cinema paraibano que se fez grande. Sempre grande! Cinema cujo foco desceu igualmente a Serra da Borborema até o litoral, respaldado nos cursos da FURNE e pela Cinética Filmes (leia-se: Machado Bitencourt), para dizer que ali também existia. Cinema aquele de certa forma ignorado e que fizemos questão de apoiar, quando da realização dos três últimos Festivais de Arte de Areia. E não terá sido este favor algum, mas o reconhecimento ao fato histórico, às tradições e memórias da arte-do-filme, a exemplo do que ocorreu recentemente na APL ao nosso Cinema.

Quando no reitorado de Lynaldo Cavalcanti, final dos anos setenta, fomos designados (Portaria R/GR n° 024/79 para integrar a Comissão de Implantação do Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC), ficamos também com a responsabilidade de levar à frente as propostas institucionais do órgão recém criado. Propostas essas, então ambiciosas, que se afinavam à dinâmica e às aspirações de realização cultural/artística da própria UFPb. Era época do nosso grande projeto documental de cinema para a Parahyba, cujo segmento vinha de ser apoiado amplamente pela imprensa escrita e falada de João Pessoa, e até de fora do nosso estado.

Movimentos de cineclubes e o Cinema Educativo (do nosso quase nada lembrado João Córdula) não menos nos apoiaram, além dos organismos de classe como a API e a própria Associação dos Críticos Cinematográficos da Paraíba (ACCP). Adesões à época consubstanciadas no efervescido instante cultural do então Cinema Novo e no feito magistral de “Aruanda”. Tradição esta que de quando em vez nos tem dado uma séria responsabilidade com o repasse da História do Cinema Paraibano, nas vezes que a ela aludimos em publicações e até em sala de aula com os nossos alunos. Importância e fidelidade ao fato histórico, sempre! Fato este que pode até mesclar-se de nuanças variadas, mas sem riscos de omissão a uma maior gravidade cultural e histórica.

Por que tanta prudência com a verdade histórica? Versões ainda hoje existem – não mais alimentadas nas aspirações de “Aruanda” – sobre o desvio de finalidade inicial que teria adotado o Nudoc, algum tempo depois, quando do seu instante de criação ao estágio da atividade cinematográfica propriamente dita. Idas e vindas á parte, contado/medido o tempo, apesar do interesse recente de alguns poucos, restou apenas o sucateamento nuclear que hoje herdamos. Sem nenhum demérito ao próprio e confuso acervo de som e imagem ali existente, certamente remanescido em grande parte do antigo/esquecido Museu da Imagem e do Som - MIS/PRAC/UFPb.

Celeumas à parte, todo este prólogo é para justificar certo desconforto que ainda nos é causado pelas omissões históricas, de tempos em tempos, quando se tenta pela imprensa, sobretudo escrita, repassar a História do Cinema Paraibano escamoteando algumas de suas mais cristalinas verdades. E o Nudoc, cujo legado ainda hoje existe, celebrado este mês nos seus trinta anos de existência, vem de representar essa grande saga a que nos referimos sempre: um cinema forjado por paraibanos (foto) no mais puro artesanato, como lembraria o nosso saudoso Barretinho, “um cinema feito na Paraíba!”.

ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, professor e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br

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