Há momentos na vida em que, por respeito à memória de alguém, de algum amigo que partiu dessa pra melhor, nos submetemos a determinados incômodos de ordem natural. Esse foi o caso que aconteceu comigo, na segunda-feira (27) passada, quando cheguei ao Espaço Cultural sob um quase dilúvio, justamente para participar de um evento, que celebrava os dez anos de falecimento do cineasta Machado Bitencourt.
Não apenas eu, mas a maioria dois amigos que ali estiveram provamos da fúria de um teto d’agua, que desabou sobre nós como se o mundo fosse submergir em tanta água. Talvez por isso, a recepção ao evento promovido pela Academia Paraibana de Cinema e a Funesc, não tenha tido a demanda que se esperava. Houve até quem se lamentasse pela presença de um público diminuto ao Auditório Verde do Espaço Cultura José Lins do Rego.
Independentemente da forte chuva, ainda assim, algumas autoridades ligadas à cultura do Estado marcaram presença. Capitaneado pelo irrequieto Wills Leal, o evento contabilizou a do Sub-Secretário de Cultura da Paraíba, pintor Flávio Tavares, do Presidente do IPHAEP, Damião Ramos Cavalcante, e representante da Presidente da Funesc, Ana Gouveia, além da viúva do homenageado, senhora Célia Bitencourt.
Um dado importante foi o pronunciamento do sub-secretário Flávio Tavares, que se mostrou simpático à solução do problema dos acervos culturais paraibanos, mormente o de cinema, que considera “um dos mais importantes para a Cultura da Paraíba”. Segundo disse, esforços de sua parte serão empreendidos, no sentido de que, doravante, essa questão venha a ser tratada com mais seriedade. Prometeu, inclusive, envidar esforços para que o acervo da Cinética tenha a dignidade que tanto merece.
Malgrado as boas intenções do Flávio, “verba volanti”. A questão dos acervos não é apenas de ordem financeira ou administrativa, mas de vontade política. Esta, acredito, o amigo também acadêmico demonstrou que tem. Já tivemos chance de escrever, o que fizemos neste mesmo espaço, sobre a trágica situação do acervo da Cinética Filmes, ainda sob a guarda da viúva do cineasta Bitencourt. É vergonhoso o estado em que se encontram equipamentos de filmagem e projeção, filmes, vídeos, fotografias, impressos...
Constrangedora se torna uma visita à “ilha” onde estão “armazenados”, inadequadamente, os despojos de toda uma vida de registro e resgate histórico. O Cinema Paraibano não merece isso! De qualquer forma, valeu a lembrança da nossa APC à figura estóica do Bitencourt e as homenagens, igualmente prestadas à sua família presente naquela noite chuvosa no Auditório Verde da Funesc.
ALEX SANTOS – membro da Academia Paraibana de Cinema
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br
contato@asprod.com.br
quarta-feira, 29 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Cinema e televisão em dois tempos
Dentre os vários assuntos do nosso cinema de província, no momento em que escrevo esta coluna, dois fatos se nos apresentam importantes: o primeiro diz respeito diretamente ao cinema, sobretudo, à nossa Academia e aos que dela fazem parte; o segundo está relacionado com a televisão nossa de cada dia.
No final do mês passado, contamos com a presença do cineasta Nelson Pereira dos Santos, em João Pessoa. Entre nós, esteve participando de uma das atividades dos 30 anos do Nudoc, evento que vem sendo promovido pela UFPB. Naquela oportunidade o cineasta de “Vidas Secas” foi agraciado com o Diploma de Sócio Benemérito da Academia Paraibana de Cinema.
Na semana passada, dentro de um festival carioca, Nelson Pereira foi mais uma vez reconhecido com o Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, no Espaço Vivo Rio. O cineasta de 80 anos foi um dos precursores do Cinema Novo e atualmente faz parte da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paraibana de Cinema. Para homenageá-lo, o ator Carlos Vereza fez-lhe a entrega do troféu “Grande Otelo”, que Nelson agradeceu emocionado: “É o troféu mais valioso na minha vida de cinema” - disse.
O segundo assunto, sobre televisão, vem por força de um e-mail que recebi da Maria Luíza, do SEBRAE. Segundo ela, a Tatsu Comunicação Corporativa traz a João Pessoa, nos dias 25 e 26 de abril, o curso "TV na prática", com o jornalista Marcus Bezerra. O curso é focado em reportagem de TV. O conteúdo engloba produção de textos para telejornalismo, técnicas de entrevista, postura diante das câmeras e narração. O aluno fará gravação de entrevistas, de passagens e de narração, com avaliação imediata.
Muito bem. Esta pode ser uma boa oportunidade para quem vai ministrar essas aulas, respeitando as diferenças terminológicas do Cinema e da Televisão, aplicar alguns corretivos nos habituais erros que se cometem. Por exemplo, determinar que não SE FILMA pra televisão; mas SE GRAVA. Em razão disto, mesmo com experiência de treze anos em televisão, e tendo trabalhado na Rede Globo (RJ e PE) e suas afiliadas, repórteres e apresentadores dessas emissoras continuam errando. Eles têm “globalizado” expressões ridículas como “cinegrafista”, para os profissionais de câmeras de TV.
Muito bem. Esta pode ser uma boa oportunidade para quem vai ministrar essas aulas, respeitando as diferenças terminológicas do Cinema e da Televisão, aplicar alguns corretivos nos habituais erros que se cometem. Por exemplo, determinar que não SE FILMA pra televisão; mas SE GRAVA. Em razão disto, mesmo com experiência de treze anos em televisão, e tendo trabalhado na Rede Globo (RJ e PE) e suas afiliadas, repórteres e apresentadores dessas emissoras continuam errando. Eles têm “globalizado” expressões ridículas como “cinegrafista”, para os profissionais de câmeras de TV.
Haja "Estômago” para tanto desconhecimento! Não me refiro à obra do cineasta Marcos Jorge, que venceu o recente Festival de Cinema do Rio, na categoria mais esperada, a de melhor longa-metragem de ficção e também direção, ator coadjuvante e roteiro original. Mas, o estômago sensível daqueles que estudam e discutem com seriedade as coisas do cinema.
ALEX SANTOS – professor e cineasta da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br
sábado, 4 de abril de 2009
Redescobrindo, no cinema, valores amigos
Lendo “Os Cinemas de Currais Novos” (Edições Viradouro-João Pessoa/2003), de Manoel Jaime Xavier Filho, médico conceituado na Paraíba, faço-o com certa sofreguidão. Como quem saboreia o mais sublime dos manjares. Mais ainda, porque redescubro no colega imortal da Academia Paraibana de Cinema, como se já não bastassem outros atributos que possui no campo da Medicina, sua veia poética sobre as coisas do cinema.
Digo ”redescubro”, simplesmente porque já o tinha parceiro nas reflexões cinematográficas, quando, em seu livro “Descobrindo a Cidade de João Pessoa”, anos antes, o amigo Jaime já se debruçava sobre o nosso cinema, inclusive me citando com “Cinema & Revisionismo”, livro que publiquei em 1982, pela Editora A União/PB. Referência que me honrou muito e que fiz questão de retribuir, em artigo sob o título “À guisa do que mais somos...”, publicado no dia 07 de setembro de 2006.
Pois bem, houve de existir a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, quando das primeiras reuniões para a formação da nossa Academia Paraibana de Cinema. Não terá sido surpresa alguma da minha parte, encontrar uma pessoa altamente apaixonada pelo cinema como o amigo Dr. Manoel Jaime. Sereno, porém preocupado com os detalhes da nossa APC; arguidor, quando necessário, aos arroubos de outro amigo nosso, Wills Leal.
No seu novo livro – “Os Cinemas de Currais Novos” –, uma particularidade: Jaime vai fundo às raízes das primeiras salas de exibição de filmes de sua cidade natal, alevantando nomes e fatos pertinentes ao que se propõe: historiar sobre uma Arte de povo, que, diferentemente de algumas outras, “aprendeu” com as massas a ser o mais importante veículo de entretenimento que jamais conhecemos.
Outro especial detalhe por mim captado no seu livro, quando ele afirma, “cinespaciando” em um dos capítulos: “O próprio dono do cinema viajava ao Recife onde locava os filmes. (e que) Era obrigado a alugar, de cada vez, um conjunto, com boas e péssimas películas, sem o direito de opção: uma prática tão antiga quanto a própria invenção do cinema.” Aqui, Jaime discorre sobre o estoicismo vivido também pelo meu pai (“Seu” Severino do cinema) e por mim, que o segui vivenciando essa saga durante anos. Esse terá sido, óbvio, o nosso “Paradiso”!...
Concluindo, parabenizo o confrade acadêmico (dublê de médico-cinéfilo) por sua notória sensibilidade sobre as coisas do Cinema. E que nossas reflexões, passadas e presentes, sobre tão importante segmento cultural e artístico tenham vida longa. E terminaria usando um dos trechos que considero emblemáticos do seu livro: “Entretenimento e cultura, sentimentos e emoções estiveram presentes em suas salas e ante-salas, alimentando sonhos e fantasias em sintonia com o inevitável realismo do dia-a-dia.” Esse é o Cinema, amigo Jamie, que nos é tão caro!
ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br
contato@asprod.com.br
Digo ”redescubro”, simplesmente porque já o tinha parceiro nas reflexões cinematográficas, quando, em seu livro “Descobrindo a Cidade de João Pessoa”, anos antes, o amigo Jaime já se debruçava sobre o nosso cinema, inclusive me citando com “Cinema & Revisionismo”, livro que publiquei em 1982, pela Editora A União/PB. Referência que me honrou muito e que fiz questão de retribuir, em artigo sob o título “À guisa do que mais somos...”, publicado no dia 07 de setembro de 2006.
Pois bem, houve de existir a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, quando das primeiras reuniões para a formação da nossa Academia Paraibana de Cinema. Não terá sido surpresa alguma da minha parte, encontrar uma pessoa altamente apaixonada pelo cinema como o amigo Dr. Manoel Jaime. Sereno, porém preocupado com os detalhes da nossa APC; arguidor, quando necessário, aos arroubos de outro amigo nosso, Wills Leal.
No seu novo livro – “Os Cinemas de Currais Novos” –, uma particularidade: Jaime vai fundo às raízes das primeiras salas de exibição de filmes de sua cidade natal, alevantando nomes e fatos pertinentes ao que se propõe: historiar sobre uma Arte de povo, que, diferentemente de algumas outras, “aprendeu” com as massas a ser o mais importante veículo de entretenimento que jamais conhecemos.
Outro especial detalhe por mim captado no seu livro, quando ele afirma, “cinespaciando” em um dos capítulos: “O próprio dono do cinema viajava ao Recife onde locava os filmes. (e que) Era obrigado a alugar, de cada vez, um conjunto, com boas e péssimas películas, sem o direito de opção: uma prática tão antiga quanto a própria invenção do cinema.” Aqui, Jaime discorre sobre o estoicismo vivido também pelo meu pai (“Seu” Severino do cinema) e por mim, que o segui vivenciando essa saga durante anos. Esse terá sido, óbvio, o nosso “Paradiso”!...
Concluindo, parabenizo o confrade acadêmico (dublê de médico-cinéfilo) por sua notória sensibilidade sobre as coisas do Cinema. E que nossas reflexões, passadas e presentes, sobre tão importante segmento cultural e artístico tenham vida longa. E terminaria usando um dos trechos que considero emblemáticos do seu livro: “Entretenimento e cultura, sentimentos e emoções estiveram presentes em suas salas e ante-salas, alimentando sonhos e fantasias em sintonia com o inevitável realismo do dia-a-dia.” Esse é o Cinema, amigo Jamie, que nos é tão caro!
ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema.
E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br
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