domingo, 29 de março de 2009

Glauber Rocha revisitado nos Estados Unidos

Ao fazer um cinema socialmente vigoroso, inovador, mas numa ótica não politicamente sectária, e que servisse de parâmetro ao discernimento da realidade política de então, ou em qualquer fase da vida brasileira, Glauber Rocha optou por uma proposta de renovação, também, do próprio cinema nacional. Em março, mês do seu aniversário de nascimento, parte de sua obra foi revisitada nos Estados Unidos, dentro de um processo de restauração do seu grande acervo.

Em seus contundentes pronunciamentos Glauber consegue ser mais direto ao afirmar que a fome latina não é apenas uma questão simplesmente real, alarmante, mas “é o nervo da sua própria sociedade”. E ratifica a função e originalidade do Cinema Novo, quando faz referência direta ao cinema paraibano, citando o documentário “Aruanda”, de Linduarte Noronha.

Subvertendo a ordem de construção das coisas, aplicando rimas inusitadas à linguagem cinematográfica, procurando impor diferenciações ao academicismo exacerbado e ao esteticismo de cunho formal importado, para ele nocivos à arte, Glauber fez com que o Brasil pensasse o Brasil.

Em sua obra, uma reflexão onde o politicamente óbvio das manifestações populares ganhe o essencial na arte, sem rodeios ou máscaras, sem que interviesse negativamente no sentido da proposta, mas servido como base para uma tomada nova de atitude dentro do fazer artístico. E cujo modelo jamais se distanciasse da nossa própria realidade enquanto povo.

A rigor, um cinema histórica e revolucionariamente engajado, nitidamente inovador “gramaticalmente”, embora difícil de ser entendido na época. Isso nos fazendo lembrar o pensamento maiacoviskiano de que, “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”. Esse era o ponto de vista glauberiano e de tantos outros cineastas cinemanovistas comprometidos com as necessidades de mudanças políticas e estéticas de sua época.

Se vivo fosse, Glauber Rocha estaria vivendo uma nova realidade política, cinematograficamente? A que grau de intensidade a sua subversão de linguagem estaria hoje com os novos recursos da imagem digitalizada? A complexidade do seu cinema seria menos complexa nos tempos atuais? São questões de difíceis respostas sem a sua presença no cenário cinematográfico brasileiro.

ALEX SANTOS – da Academia Paraibana de Cinema. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@academiaparaibanadecinema.com.br contato@asprod.com.br

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