Oportunamente, às vésperas do 35º aniversário da morte do escritor e crítico literário Virgínius da Gama e Melo (agosto de 1974), uma reflexão se nos apresenta pertinente sobre a existência ou não de um Cinema Paraibano. Teria de fato uma “voz”, o cinema feito pelos paraibanos?
Durante muito tempo se discutiu sobre a possibilidade de existir ou não um cinema tipicamente paraibano. A rigor, melhor seria reconhecer-se a premissa de uma atividade cultural que, por razões óbvias, tende a passar essencialmente pelo crivo empresarial/industrial, para que possa realmente ter uma voz. E esse não terá sido o caso do nosso cinema (seja ele “paraibano” ou, simplesmente, “feito na Paraíba”), até porque, em verdade, este cinema sempre dependeu de uma “finalização”, que ainda hoje não dispomos.
Fundamentalmente de origem “documental”, estóica/persistente, nossa atividade cinematográfica aprendeu logo cedo a sistematizar as suas próprias condições de produção. Primeiro, nasceu “espiritualista”, sobre cuja rotulação preconizara tão bem o escritor Wills Leal (“Cinema & Província”). Depois, passou a vislumbrar as nuanças de um concretismo resistente, onde as ferramentas de realização jamais conseguiram ultrapassar a simples “idéia na cabeça e uma câmera nas mãos” e o frágil resultado empresarial advindo disso tudo.
Assim, retomando a reflexão sobre Virgínius, não que tenha sido ele um “expert” como realizador de filmes, mas pela contribuição “en passant” que dera ao cinema paraibano, haveríamos de creditar ao seu curta “Contraponto Sem Música” (1966) um bom exemplo do nosso verdadeiro cinema sem voz. Sem que isso possa desmerecê-lo na sua importância enquanto arte e esforço pessoal de realização fílmica, oportunamente mensurado por realizadores da mais alta expressão nacional, a exemplo do que ocorrera com o documentário “Aruanda” (1960), protótipo do mais vivo realismo social e antropológico dentro da cultura preconizada pelo Cinema Novo.
Contudo, o fato da existência de um documentário “mudo”, igualmente desprovido de qualquer “contraponto musical” que melhor assim o referenciasse no rol das inúmeras produções de uma geração ávida por realizar filmes, como é o caso de “Contraponto Sem Música”, confirma hoje a dimensão exata do que nos conferiam os óbices da arte fílmica, além das nossas próprias e reais condições técnicas de “realizador cinematográfico”, quando então o “sonho” prevalecia sobre qualquer razão concreta ao exercício de filmar.
O filme de Virgínius, no primeiro instante, se nos parecia não um retrocesso, mas uma espécie de “saída” aos óbices exigências de produção, porque excluía o som como recurso básico/finalizante à própria condição da realização cinematográfica, para “criar” um novo tipo de discurso narrativo. Uma forma de linguagem “cinemanovista” onde predominasse apenas a imagem como expressão maior de uma mensagem, no caso em tela, a personagem taciturna e até certo ponto fotogênica da atriz Edênia Boaventura, por cuja “beleza”, à época, se apaixonara, perdidamente, o fotógrafo do filme Machado Bitencourt.
ALEX SANTOS – Mestre em Comunicação Social pela UnB/DF, jornalista e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br
Durante muito tempo se discutiu sobre a possibilidade de existir ou não um cinema tipicamente paraibano. A rigor, melhor seria reconhecer-se a premissa de uma atividade cultural que, por razões óbvias, tende a passar essencialmente pelo crivo empresarial/industrial, para que possa realmente ter uma voz. E esse não terá sido o caso do nosso cinema (seja ele “paraibano” ou, simplesmente, “feito na Paraíba”), até porque, em verdade, este cinema sempre dependeu de uma “finalização”, que ainda hoje não dispomos.
Fundamentalmente de origem “documental”, estóica/persistente, nossa atividade cinematográfica aprendeu logo cedo a sistematizar as suas próprias condições de produção. Primeiro, nasceu “espiritualista”, sobre cuja rotulação preconizara tão bem o escritor Wills Leal (“Cinema & Província”). Depois, passou a vislumbrar as nuanças de um concretismo resistente, onde as ferramentas de realização jamais conseguiram ultrapassar a simples “idéia na cabeça e uma câmera nas mãos” e o frágil resultado empresarial advindo disso tudo.
Assim, retomando a reflexão sobre Virgínius, não que tenha sido ele um “expert” como realizador de filmes, mas pela contribuição “en passant” que dera ao cinema paraibano, haveríamos de creditar ao seu curta “Contraponto Sem Música” (1966) um bom exemplo do nosso verdadeiro cinema sem voz. Sem que isso possa desmerecê-lo na sua importância enquanto arte e esforço pessoal de realização fílmica, oportunamente mensurado por realizadores da mais alta expressão nacional, a exemplo do que ocorrera com o documentário “Aruanda” (1960), protótipo do mais vivo realismo social e antropológico dentro da cultura preconizada pelo Cinema Novo.
Contudo, o fato da existência de um documentário “mudo”, igualmente desprovido de qualquer “contraponto musical” que melhor assim o referenciasse no rol das inúmeras produções de uma geração ávida por realizar filmes, como é o caso de “Contraponto Sem Música”, confirma hoje a dimensão exata do que nos conferiam os óbices da arte fílmica, além das nossas próprias e reais condições técnicas de “realizador cinematográfico”, quando então o “sonho” prevalecia sobre qualquer razão concreta ao exercício de filmar.
O filme de Virgínius, no primeiro instante, se nos parecia não um retrocesso, mas uma espécie de “saída” aos óbices exigências de produção, porque excluía o som como recurso básico/finalizante à própria condição da realização cinematográfica, para “criar” um novo tipo de discurso narrativo. Uma forma de linguagem “cinemanovista” onde predominasse apenas a imagem como expressão maior de uma mensagem, no caso em tela, a personagem taciturna e até certo ponto fotogênica da atriz Edênia Boaventura, por cuja “beleza”, à época, se apaixonara, perdidamente, o fotógrafo do filme Machado Bitencourt.
ALEX SANTOS – Mestre em Comunicação Social pela UnB/DF, jornalista e cineasta. E-mails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.br