O Cinema tem gerado ao longo do tempo a concepção de que o fantástico e a aventura possam, sim, acontecer no mundo real. Não fosse assim, o virtual no cinema não teria a magia que tem. Mas, essa fantasia foi com o tempo transformada em uma verdade cruel, nociva aos padrões de civilidade que tanto se deseja.
Se for verdade também que a
tecnologia e o cientificismo mostrados pelo cinema, ainda nos idos do filme “mudo”,
como propostas inovadoras em suas estórias serviram de prenúncio à realidade de
hoje, isso se deve à importância de alguns filmes emblemáticos. Obras que ao
longo do tempo conseguiram influenciar multidões, provocando experiências e
inovações.
Em razão disso, um paralelo
inusitado se nos apresenta neste momento, entre o virtual que sempre se mostrou
no cinema e a cruel realidade dos nossos dias. Exemplo típico, a banalização
do crime, por consequência, da vida. Heróis e bandidos, hoje, parece conviverem
lado a lado. O aparato usado pelo Estado e mostrado diariamente pela mídia,
sobretudo eletrônica, é algo que transcende à própria aventura cinematográfica.
Mas, sem sucesso.
Se, no passado, os chefões foram
figuras sempre temidas pelo populaço, menos pelos “mocinhos” e super-heróis de
cada filme, atualmente as atitudes e ações desses mesmos chefões são sublimadas
em importância por um tipo de pirotecnia exacerbada e propagandística do próprio
aparato policial. Tem prevalecido a carnavalização do fato, também pela mídia, em
detrimento da seriedade e respeitabilidade da gestão publica.
Inadmissível, determinados
cotejos terrestres, muitas vezes aéreos transportando marginais e chefões tidos
perigosos de uma localidade a outra do país para audiências de Júri. Situação
essa que caberia a Justiça, inclusive, a “responsa” de algumas medidas que
ainda não estão sendo tomadas, em benefício da economia pública e do próprio bem
comum. As audiências “internéticas” não seriam a solução adequada, por sua vez
mais econômica para casos dessa natureza?
Nem mesmo as “tropas de elite” e
as berrantes sirenas de seus comboios têm conseguido dar jeito na situação hoje
sofrida pela nossa sociedade.
ALEX SANTOS da Academia Paraibana
de Cinema, professor da UFPB e cineasta.
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