Observe o desconforto visual que esta imagem borrada provoca. Pode-se usar recursos menos drásticos na preservação da identidade.
Enquanto cidadão brasileiro tenho direito à boa imagem, literalmente. Não menos a televisiva, que me passem diariamente, nos mais variados gêneros de programas. Este é um direito incontestável, inalienável. O mesmo direito que tem a mídia de veicular o tema que lhe seja de interesse em dar, ou não, o melhor Ibope. Uma coisa, contudo, deve ser observada: existem limites, também, para o que chamam de Direito de Imprensa. Os direitos são recíprocos, não só por recursos jurisprudenciais, mas, em sentido lato, pela exigência do Direito Natural das Pessoas e das Coisas.
Não discutiria aqui, não obstante, os “direitos” de mercado da mídia, mesmo em sendo jornalista profissional havia quarenta anos. Discuto, sim, como venho fazendo há tempos, o direito do telespectador em receber, em Imagem, o melhor que a mídia eletrônica não apenas possa, mas deva lhe dar, até por obrigação. Direito e Obrigação, em Comunicação, é uma via de mão dupla. Para a mídia e para o telespectador, este que permanece sem resguardo algum ao que adentra a sua própria casa todos os dias, em informação televisada.
Digo isto pegando um “gancho” do que comentou esta semana o articulista Anco Márcio, no seu site, ao mensurar questões relacionadas ao comportamento de alguns repórteres de uma de nossas tvs locais. Não entrarei no mérito da então imprudente espetaculação televisiva. Mas, na FORMA como estão sendo mostradas, abusiva e desrespeitosamente algumas imagens com pessoas sendo entrevistadas. Aliás, bom que se diga, uma prática que não tem sido usada apenas na Paraíba.
Sou uma pessoa de Cinema, por isso mesmo vejo a construção da Imagem sob o olhar de um profissional que respeita o direito de quem nos assiste. Tenho alertado aos meus alunos na UFPB sobre o fato de que, uma boa imagem consegue passar muito mais em informação que outra desprovida do mínimo de gramática visual na sua forma. Na sua maneira de construção. E como diz a máxima: “Uma imagem diz mais que mil palavras”. Sou daqueles a entender que a Imagem é tudo!
Já tive oportunidade de expressar, através deste mesmo espaço, a minha reiterada decepção a determinados e constantes recursos usados na mídia visual, para encobrir a identidade de quem é entrevistado. Reconheço, até em respeito à constitucionalidade que o recurso exige a necessidade da preservação da imagem de alguém na tv, por questões de segurança, etc. e tal... Não obstante, entendo que não se deve – e isto é DEVESER, no processo da Comunicação – menosprezar o Telespectador.
Na Arte Visual, a forma de se construir uma imagem usando o bom gosto é muito vasta. Cabe a quem for construí-la dar BELEZA INFORMATIVA. Construí-la inteligentemente, mesmo através de uma veiculação imediata, como é o caso do telejornalismo. Uma imagem borrada intencionalmente, fora de foco o tempo todo na tela, entendo ser um desrespeito a quem a assiste. O imediatismo da informação não terá sido desculpa para que não se possa construir um boa imagem. Mesmo nos nossos telejornais. Ao contrário, é incapacidade e burrice de quem assim o procede. Será que nossas tvs ainda insistem em permanecer sem um Diretor de Arte capaz. Eu disse CAPAZ; não confundir com Competente. Deixo a todos, avaliarem este significado.
ALEX SANTOS da Academia Paraibana de Cinema, advogado, professor e cineasta. E-Emails: alexjpb@yahoo.com.br / contato@asprod.com.be